A Escolástica e São Tomás de Aquino

A Escolástica é uma corrente filosófica que busca estabelecer uma conciliação entre as verdades da fé cristã e o conhecimento obtido pela racionalidade. O filósofo de maior destaque dessa corrente é São Tomás de Aquino, o qual faz uma síntese entre o cristianismo e o aristotelismo. Suas ideias foram tão relevantes que acabaram sendo transformadas em uma doutrina pela Igreja: o tomismo.

O século XIII é marcado pela intensificação dos contatos comerciais e culturais entre a Europa e o Oriente através do mar Mediterrâneo; pela expansão do comércio; o florescimento das cidades; e o dinamismo que a cultura passou a adquirir, por conta do surgimento e multiplicação das universidades, como a de Oxford (Inglaterra) no século XI ou a de Paris (França) no século XII. Essas universidades eram administradas pela Igreja e utilizavam um método de estudo chamado Escolástica, isto é, um método iniciado em meados do século IX e empregado até o século XVI (período da Idade Média), no qual buscava-se essencialmente estabelecer alguma conciliação/harmonização entre as verdades da fé cristã e o conhecimento filosófico obtido por via racional.

Um professor que lecionava em uma dessas universidades, mais especificamente em Paris, é considerado o expoente da filosofia escolástica. Seu nome é Tomás de Aquino (1225-1274) e uma de suas principais obras é a Suma Teológica.

Para compreender as ideias do filósofo é necessário ter em mente a influência aristotélica que ele sofreu, visto que no século XII ocorre a redescoberta de Aristóteles pelo Ocidente, após sua obra ter sido perdida em meio ao declínio de Roma e às constantes guerras no início da Idade Média. A recuperação dos textos de Aristóteles provocou um impacto enorme no desenvolvimento da filosofia e, no plano da Teologia, influenciou significativamente Tomás de Aquino, o qual fundou uma visão religiosa da obra de Aristóteles.

São Tomás de Aquino por Carlo Crivelli (1435-1495), Itália.

Fonte: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/religiao/sao-tomas-de-aquino

Principais ideias de São Tomás de Aquino

Tomás de Aquino defendia a existência de uma hierarquia entre todas as criaturas (todas elas criadas por Deus). Assim, o homem não é uma criatura como as demais, pois, uma vez que não é dotado apenas de corpo, mas também de alma, através dela pode entrar em contato com Deus e ter acesso ao conhecimento, com isso, ele está em um patamar acima em comparação as outras criaturas.

O ponto de partida para ter acesso ao conhecimento são os sentidos. Assim, retomando este princípio aristotélico, o filósofo cristão afirma que não existe nada no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos. Ao obter esse conhecimento acerca da natureza, o homem estaria usando seu intelecto para se aproximar de Deus, pois foi ele que criou a ordem natural do Universo.

O intelecto humano, além da capacidade de obter conhecimento, possibilita a autonomia, isto é, a liberdade de manifestar e exercer as próprias vontades. Os atos realizados pelos homens direcionam-no para o bem, pois esse é o caminho natural da vontade humana. No entanto, as vezes, o homem age de maneira equivocada e negativa (mesmo que deseje o bem), assim, Tomás de Aquino defendia que sem a ajuda de Deus, o homem irá pelo caminho do mal.

Ademais, com a crença na vida eterna, surgiu a concepção de que o homem garante na vida terrena a sua salvação ou não, pela forma como exerce o livre-arbítrio. Ou seja, Deus julgaria os atos realizados pelo homem durante a vida destes na Terra.

As ideias de São Tomás de Aquino foram transformadas em uma doutrina pela Igreja, chamada de tomismo. O que trouxe diversas consequências, como o crescimento do clero secular – por conta da necessidade dos padres acompanharem os fiéis e ajudarem-lhes a tomar decisões – e o aumento de boas práticas, como a de caridade, visto que são os atos na Terra que irão garantir a salvação após a morte.

Por fim, é possível notar a influência de Aristóteles na filosofia de Tomás de Aquino na sistematização do pensamento, na importância dada aos sentidos e em elementos da ética. Um exemplo é que Aristóteles dizia que, se tudo se movimenta e se transforma, é necessário que se exista um primeiro motor/impulso. De forma análoga, Tomás de Aquino defende que Deus é necessário porque é preciso ter existido uma primeira causa de todas as causas.

Questão – Enem 2018

Desde que tenhamos compreendido o significado da palavra “Deus”, sabemos, de imediato, que Deus existe. Com efeito, essa palavra designa uma coisa de tal ordem que não podemos conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe na realidade e no pensamento é maior do que o que existe apenas no pensamento. Donde se segue que o objeto designado pela palavra “Deus”, que existe no pensamento, desde que se entenda essa palavra, também existe na realidade. Por conseguinte, a existência de Deus é evidente.


TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. Rio de Janeiro: Loyola, 2002.

O texto apresenta uma elaboração teórica de Tomás de Aquino caracterizada por

a) Reiterar a ortodoxia religiosa contra os heréticos.

b) Sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé.

c) Explicar as virtudes teologais pela demonstração.

d) Flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados.

e) Justificar pragmaticamente crença livre de dogmas.

A alternativa correta é a letra B.

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