João Guimarães Rosa, um dos maiores escritores brasileiros do século XX, traduzido em várias línguas, vencedor de diversos prêmios literários, autor de clássicas e essenciais obras como Sagarana (1946), Corpo de Baile (1956), Grande Sertão: Veredas (1956), dentre outras (sendo estas recorrentes em listas obrigatórias de livros para os maiores vestibulares do país – uma das provas de que está entre o cânone literário brasileiro), certamente tinha um dom único e especial: o de escrever com grande maestria romances, contos e novelas.
Mas João Guimarães Rosa não se contentava apenas com este dom; ele o aprimorava com um imenso perfeccionismo por meio de inúmeras, e até obsessivas, no bom sentido da palavra, revisões.
João Guimarães Rosa revisava e, consequentemente, reescrevia, mais de uma vez, suas obras, que até hoje são relançadas, visto que são verdadeiros marcos da literatura brasileira e, ele, considerado por muitos críticos e acadêmicos como o maior escritor brasileiro da segunda metade do século XX.
Aliás, a leitura dos livros de Rosa não deve ser feita, apenas, porque estes constam das listas de vestibulares, mas porque fundam um período riquíssimo da literatura nacional.
Com seu trabalho de escritor e de revisor, Rosa nos ensinou que não basta, somente, escrever uma primeira vez, já que a reescrita, como resultado de uma revisão, pode transformar um texto, visto que uma de suas maiores obras, Sagarana, era, inicialmente, uma outra, intitulada Contos.
Assim, todos nós e, inclusive você, estudante do Ensino Médio e/ou candidato ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e aos demais exames, deve incluir, em sua rotina de estudos, a revisão e a reescrita de suas redações.
Podemos dividir a produção textual em si em três momentos: rascunho, revisão e reescrita (passar a limpo). Este processo oferece uma ótima oportunidade de refletir a respeito do que foi escrito, não só em termos gramaticais formais, mas também em conteúdo. Uma ideia que não veio à cabeça na hora do rascunho pode vir na hora da revisão e, por que não, na hora da reescrita e isso, para quem tem dificuldades em escrever, em dar prosseguimento, é muito válido.
A revisão e a reescrita são fundamentais também para quem escreve de mais, para quem é repetitivo e prolixo, isto é, para quem não sintetiza o que quer escrever e acaba sendo cansativo. Para estes casos, a revisão é o momento de cortar o que é supérfluo e deixar, apenas, o que é essencial, tirando repetições desnecessárias, adequando os pronomes, as referências etc., o que será de grande valia após o Enem, ou seja, na universidade, onde serão requeridos diversos gêneros (relatórios, artigos, ensaios, resumos, monografias, projetos de pesquisa dentre outros) pelos docentes.
Ao passo em que este processo se torna hábito nos estudos, será mais fácil incorporá-lo no momento propriamente dito do Enem, isto é, no dia da prova de redação. Por isso, além de ter este costume, o ideal é também cronometrar o tempo que se leva para fazer a proposta de redação, desde a sua leitura, passando pelo planejamento no rascunho e pela revisão e chegando até a reescrita na folha oficial, ou seja, ao passar a limpo.
Outra boa consequência deste costume é a familiaridade com a quantidade de linhas, tão temida por tantos candidatos. Para quem escreve em excesso, ajudará a ser mais sintético e objetivo e, assim, não a ultrapassar; já para quem tem dificuldades, a revisão é uma nova chance de ter novas ideias e agregá-las ao texto.
Mas esta questão é apenas pontual, já que este processo desenvolve uma produção escrita proficiente para o resto da vida e não somente para a fase do Enem e dos vestibulares, mas também para as fases acadêmicas e profissionais, por exemplo, já que não paramos nunca de escrever. Podemos escrever gêneros e tipos diferentes ao longo da vida, mas estamos sempre produzindo.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas e do Curso Online do infoEnem. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!
5 comments
Professora Camila, mais uma vez me deparei com o uso de DENTRE de maneira adversa de como aprendi, no trecho “projetos de pesquisa DENTRE outros”. O certo não seria ENTRE, uma vez que não há um elemento que exija a preposição DE?
> Isso mesmo! A contração de DE + ENTRE requer um termo regente anterior que requeira a preposição DE, como FUGIR, SAIR, RETIRAR, SACAR, TIRAR, etc.
Exemplo: Ela tirou uma maçã boa “dentre” um lote de frutas podres.
Quem tira uma maçã, tira-a DE algum lugar.
E a maça estava ENTRE outras frutas.
Novamente, o uso do pronome demonstrativo ESTE sendo usado para se referir a um elemento já mencionado, no trecho “Para ESTES casos, a revisão é o momento de…”. O certo não seria ESSES?
> Certíssimo, Natanael.