Tenho refletido muito, e já há algum tempo, sobre a relação entre os elementos do título. Vários estudos sobre psicologia da educação se debruçaram, e ainda o fazem, sobre os processos de aprendizagem e a memória humana.
A memória humana é fundamental na compreensão oral e escrita, no cálculo e no raciocínio, exercendo um papel indispensável no sistema de aprendizagem e é considerada responsável por algumas diferenças importantes ao nível do desempenho dos indivíduos nas tarefas escolares, profissionais e do dia a dia. A memória, porém, é algo extremamente pessoal. A atenção e a concentração com que recebemos uma informação e a relação emocional ou sentimental que atribuímos a ela são essenciais para determinar o que guardaremos de modo mais “forte”.
Além disso, só conservamos uma pequena parte de toda informação a que somos expostos. O que fazemos ou como lidamos com essas informações é determinante para a retenção delas. É como o que ocorre com uma pessoa que pratica um instrumento musical. A cada aula ela melhora seu desempenho e quanto mais toca determinada música, mais lhe parece fácil, porque as sinapses e mecanismos envolvidos na aprendizagem dessa execução se fortalecem com a prática. Entretanto, se esse indivíduo passar um período sem se exercitar, provavelmente esquecerá a ordem das teclas ou das cordas que deve tocar para executar a peça musical, ou fará isso menos agilidade, pois as sinapses desse aprendizado foram enfraquecendo.
E o que isso tem a ver com a ortografia?
Embora a ortografia seja definida por um conjunto de regras, que aliás, sofreu algumas alterações a partir do Acordo Ortográfico (confira o texto do acordo aqui e aqui) entre os países lusófonos, as pessoas ‘comuns (digo isso em contraponto como os professores de Gramática, que são bem ‘incomuns’ hehe) não buscam o apoio das regras para empregarem a linguagem no seu cotidiano. Saber as regras de ortografia será útil apenas na resolução de alguns concursos e provas.
No dia a dia, as pessoas escrevem lançando mão de seu repertório de vocabulário, que foi sendo adquirido em seu contato com a convivência com falantes da língua portuguesa e com a prática da leitura. Aí é que começa o problema! Com o uso cada vez mais frequente das ferramentas da informática, a memória vem tendo menos ‘trabalho’. Quando digitamos, os programas de previsão de texto já dão uma série de sugestões a partir das primeiras letras e não temos o trabalho de escrever a palavra toda. Ou então, quando usamos um editor de texto, ele mesmo se encarrega de, automaticamente, corrigir a palavra que porventura tenha sido digitada com uma letra trocada. E assim, aquelas sinapses a que fiz referência no processo de prática e execução de peças musicais (e que funcionam de modo muito parecido com a aquisição e uso da linguagem dentro da norma culta) vão se enfraquecendo.
E desse modo, a memória vai ‘enferrujando’. O remédio para isso é mesmo a leitura. Leia, caro aluno! Quanto mais a leitura atenta for praticada (de bons textos, evidentemente), mais a ortografia vai ficando registrada na memória. E estude as regras, se for fazer concursos, mas a regra ficará mais clara, se as palavras estiverem nítidas na sua memória.
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso sistema de correção de redação e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora é colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!