Acento Indicador de Crase: Modo de Usar

Já foi dito por Ferreira Gullar1 que a crase não foi feita para humilhar ninguém. Concordo com o poeta. E por concordar, vou dar aqui algumas dicas que ajudam a resolver aquelas situações embaraçosas em que ficamos diante da letra A, com o acento na ponta do lápis, prestes a pular para o papel.

Bem, a primeira situação em que podemos deixar o acento pular para o papel e aterrissar sobre a letra A é a seguinte:

Relembrando o artigo da semana passada (leia aqui), vimos que a crase gramatical é a fusão de A (preposição) + A (artigo definido feminino). Para ocorrer, então, essa fusão, o termo regente (à esquerda do A) deve ‘pedir’ preposição e o termo regido (à direita do A) deve admitir artigo. Assim, teremos dois As para fundir.

Então, se substituirmos mentalmente o termo da direita por uma expressão masculina (que usará artigo O), o resultado não será uma crase, mas a combinação AO. Resumindo: se no masculino empregarmos AO, no feminino empregaremos À:

Exemplo: Não tenho certeza se há ou não acento na frase

Fiz referência A obra de Camões.

Trocando ‘obra de Camões’ por ‘livro de Camões’, obterei:

“Fiz referência AO livro de Camões” – tenho certeza agora de que há uma preposição A + artigo O, portanto quando usar um feminino nessa construção terei uma preposição A + artigo A…

Bingo! Ou melhor, crase!

A frase inicial do exemplo deverá ficar: “Fiz referência À obra de Camões”.

Como contraprova, vejamos esta situação:

Assisti A várias peças de teatro.

Vamos conferir se o acento deve ou não ser colocado naquele A:

Trocando ‘várias peças de teatro’ por ‘vários filmes’, obterei:

“Assisti A vários filmes” – “vários filmes” não admite artigo algum, pois é uma informação genérica, não especificada, por isso não há artigo definido (se por acaso admitisse, seria OS, pois é masculino plural). Dessa forma, a frase “Assisti A várias peças de teatro” ficará assim mesmo, sem acento, pois não ocorreu fusão alguma.

Na semana que vem, outras dicas!

Até a próxima!


1: Numa crônica publicada na Folha de São Paulo (11/07/2011), o poeta, com humor, conta as venturas e desventuras desse aforismo criado por ele, mas atribuído a muitos outros escritores ao longo do tempo.

 


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso sistema de correção de redação e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora é colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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