A música “O bêbado e a equilibrista”, de Aldir Blanc, faz referência a Marias e Clarices, pluralizando os nomes e alguns alunos me perguntam se isso é correto, se nomes próprios têm plural, uma vez que serviriam para individualizar, particularizar os seres. Sim, esses substantivos podem ser pluralizados, pois podemos nos referir a várias pessoas com o mesmo nome: as Marias, as Clarices, os Joões, os Pedros.
(…) Chora,
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarices1
No solo do Brasil…(…)
Além disso, podemos usar esse plural em construções metonímicas, empregando o nome do artista pela obra:
Foram arrematados dois Picassos e três Portinaris naquele leilão.
O mesmo procedimento pode ocorrer com os sobrenomes, já que, ao pluralizá-los, estaremos fazendo referência a vários integrantes de uma mesma família ou clã. É o que ocorre, por exemplo, com a Rua dos Andradas, topônimo que ocorre em São Paulo, em Itu e Sorocaba (SP), em Porto Alegre (RS) entre outros municípios, aludindo aos irmãos José Bonifácio (conhecido como Patriarca da Independência), Martim Francisco e Antônio Carlos.
Na Literatura também encontramos algumas ocorrências: os Andrades, Mário e Oswald, foram marcos do Modernismo (embora tivessem o mesmo sobrenome, não havia parentesco entre eles) e uma das maiores obras do Realismo português, “Os Maias”, de Eça de Queirós, também é o plural do sobrenome Maia. Assim, na forma plural, vários gramáticos, como Celso Luft, Rocha Lima, Evanildo Bechara e Napoleão Mendes de Almeida, prescrevem que se registre a referência a vários integrantes da mesma família.
Há, porém, uma tendência moderna a manter os sobrenomes no singular, o que pode ser observado na mídia, ao se fazer referência, por exemplo, ao clã ligado às artes marciais, os Gracie.
Em tempo: a questão da ortografia e da acentuação também deve ser observada nos nomes próprios. Assim, as Mônicas terão seus nomes acentuados por serem proparoxítonos; as Vitórias, os Antônios, as Lívias terão acento por serem paroxítonos terminados em ditongo e os Josés, os Andrés e as Ionás, por serem oxítonos terminados em ‘e’ e em ‘a’ respectivamente.
É isso!
1 Maria, mãe do Henfil e Clarice, esposa do Vladimir Herzog, representam tantas mães e esposas que perderam seus entes queridos para a ditadura.
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!