Análise de Tema de Redação – ENEM 2002

 Olá, pessoal do InfoEnem!

Hoje, analisaremos a proposta de redação do ENEM 2002 cujo tema foi “O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o Brasil necessita?”, o qual deu muitas margens para o candidato utilizar, no desenvolvimento do texto, conhecimentos das áreas da História, Política, Sociologia, dentre outras, para embasar, fundamentar e contextualizar a sua tese principal e, assim, pontuando na segunda competência da grade de correção do ENEM (compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limtes estruturais do texto dissertativo-argumentativo). Além disso, é um tema que coloca uma pergunta ao candidato, ou seja, que requer uma proposta de intervenção social (quinta competência) relacionada a todo o restante da redação, já que é atual e possui um viés social, histórico e político.

A proposta estava na primeira página da prova do ENEM do seguinte modo:

Para que existam hoje os direitos políticos, o direito de votar e ser votado, de escolher seus governantes e representantes, a sociedade lutou muito.

www.iarabernardi.gov.br. 01/03/02.

 

 

 

 

 

 

 

Comício pelas Diretas Já, em São Paulo, 1984.

A política foi inventada pelos humanos como o modo pelo qual pudessem expressar suas diferenças e conflitos sem transformá-los em guerra total, em uso da força e extermínio recíproco. (…)

A política foi inventada como o modo pelo qual a sociedade, internamente dividida, discute, delibera e decide em comum para aprovar ou reiterar ações que dizem respeito a todos os seus membros.

Marilena Chauí. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.

A democracia é subversiva. … subversiva no sentido mais radical da palavra.

Em relação à perspectiva política, a razão da preferência pela democracia reside no fato de ser ela o principal remédio contra o abuso do poder. Uma das formas (não a única) é o controle pelo voto popular que o método democrático permite pôr em prática. Vox populi vox dei.

Norberto Bobbio. Qual socialismo? Discussõo de uma alternativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. Texto adaptado.

Se você tem mais de 18 anos, vai ter de votar nas próximas eleições.

Se você tem 16 ou 17 anos, pode votar ou não. O mundo exige dos jovens que se arrisquem. Que alucinem. Que se metam onde não são chamados. Que sejam encrenqueiros e barulhentos. Que, enfim, exijam o impossível.

Resta construir o mundo do amanhã. Parte desse trabalho é votar. Não só cumprir uma obrigação. Tem de votar com hormônios, com ambição, com sangue fervendo nas veias. Para impor aos vitoriosos suas exigências – antes e principalmente depois das eleições.

André Forastieri. Muito além do voto. Época. 6 de maio de 2002. Texto adaptado.

 

Considerando a foto e os textos apresentados, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o Brasil
necessita?
Ao desenvolver o tema, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões, e elabore propostas para defender seu ponto de vista.

Observações:

  • Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da modalidade escrita culta da língua
  • portuguesa.
  • O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.
  • O texto deverá ter no mínimo 15 (quinze) linhas escritas.
  • A redação deverá ser apresentada a tinta e desenvolvida na folha própria.
  • O rascunho poderá ser feito na última página deste Caderno.

 

O primeiro texto da coletânea da proposta de redação do ENEM 2002 é um texto não-verbal, uma foto de um comício pelas Diretas Já! (eleições diretas após a Ditadura Militar) realizado em São Paulo, capital, mostrando uma verdadeira imensidão de pessoas que buscavam o voto direto, o voto popular, a eleição de candidatos através da participação do povo. Ao lado, o segunda texto é uma citação do site de Iara Bernardi, política do Partido dos Trabalhadores (PT) do interior do estado de São Paulo lembrando a luta do povo para existir o direito de votar e de ser votado.

Já o teceiro texto é de autoria da filósofa Marilena Chauí e diz respeito às origens da política e como ela auxilia no debate, na deliberação e na discussão de ações entre os cidadãos; o quarto texto relaciona a democracia com o voto , já que aquela é, segundo seu autor, o único modo de evitar o abuso de poder através, justamente, da participação popular por meio do voto. Finalmente, o último texto da coletânea da proposta de redação do ENEM 2002 é de um jornalista que convoca os jovens a votarem, mas não por obrigação e sim com hormônios, com sangue nas veias para impor, antes e depois das eleições, suas exigências.

Para desenvolver este tema de redação do ENEM 2002, vemos dois caminhos básicos: o primeiro seria concordar com o tema, isto é, concordar que o voto é um direito conquistado pela população brasileira depois de um período ditatorial tenso, que, através deles, podemos mudar os rumos do Brasil, mas que, para isso, dependemos de bons candidatos, mas como isso nem sempre é possível, dependemos também da educação e da conscientização do povo, que não deve vender seu voto e sim pesquisar acerca de seu candidato e de seu partido para que, assim, possamos eleger bons políticos.

O segundo caminho seria discordar, afirmar que o voto não é um direito e sim uma obrigação o que, numa democracia, é contraditório; aliás, poderia ter, como tese, que sim, o voto é um direito do povo, mas que deveria ser facultativo e não obrigatório como é atualmente, pois esta obrigatoriedade não combina com o regime democrático em que vivemos. Neste viés, poderia também discutir se vivemos, realmente, em uma democracia, se é preciso obrigar as pessoas a votarem mesmo com maus candidatos, sempre os mesmos que não farão nada de concreto depois de se elegerem.

Ambos os caminhos são possíveis para desenvolver o tema da redação do ENEM 2002, já que o candidato ao exame pode concordar ou discordar do mesmo, desde que o faça baseado em argumentos concretos, fortes e que consiga convencer o leitor acerca do seu ponto de vista. Corretor de exames e vestibulares sérios não avaliam se gostaram ou não da opinião do candidato, se concordam ou não, apenas avaliam se ele atendeu à proposta e, se sim, com que qualidade, como o fez.

Para ambos os caminhos, recorrer a fatos históricos como a Ditadura Brasileira, as próprias Diretas Já!, o voto feminino e dos analfabetos, dentre outros, além de acontecimentos atuais é uma ótima estratégia argumentativa para demonstrar que o candidato sabe relacionar o passado com o presente e, na proposta de intervenção social, há a possibilidade de imaginar o futuro, um futuro com melhores eleitores e melhores candidatos (como consegui-los e como usar o voto para obtermos as transformações sociais que o país necessita?), já que os dois são os protagonistas de qualquer processo eleitoral.

A questão do voto do jovem é um relevante, pois, antes das maniestações deste ano, sabia-se que os jovens estavam perdendo a esperança na política, inclusive, estavam diminuindo as afiliações de jovens a todos os partidos políticos brasileiros, que havia (e há, visto as placas “sem partido” nas ruas em junho de 2013) uma descrença nos partidos políticos. Como o ENEM, naquela época, era feito predominantemente por jovens recém formados no Ensino Médio, abordar a questão do jovem na política é interessante. Já votar com 16 anos para exercer a cidadania ou esperar os 18, quando vira obrigação? Votar é ser cidadão? Sim? Não? Por quê? São perguntas que poderiam ser discutidas e respondidas nesta proposta de redação.

Na próxima semana, analisaremos a proposta de redação do ENEM 2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo? A prova pode ser acessada por meio da página http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2003/2003_amarela.pdf.

Até lá!

 

*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP – Atua na área de Educação exercendo funções relativas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação na 1ª fase e de Língua Portuguesa na 2ª fase do vestibular 2013 da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP. Participou de avaliações e produções de diversos materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação.

**Camila também é colunista semanal sobre redação do infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para nossos leitores! Suas publicações serão sempre às quintas-feiras, não percam!

Veja mais artigos da professora Camila

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