Análise de Tema de Redação – ENEM 2010

 E aí, pessoal!

Tudo bem?

Esperamos que sim!

Hoje, analisaremos a proposta de redação do ENEM 2010, cujo tema foi O Trabalho na Construção da Dignidade Humana, sempre atual, já que o trabalho é uma questão sempre presente no plano individual e coletivo. Vamos à proposta?

 

 

Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o tema O Trabalho na Construção da Dignidade Humana, apresentando experiência ou proposta de ação social, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

O que é trabalho escravo

Escravidão contemporânea é o trabalho degradante que envolve cerceamento da liberdade

A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, representou o fim do direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra, acabando com a possibilidade de possuir legalmente um escravo no Brasil. No entanto, persistiram situações que mantêm o trabalhador sem possibilidade de se desligar de seus patrões. Há fazendeiros que, para

realizar derrubadas de matas nativas para formação de pastos, produzir carvão para a

indústria siderúrgica, preparar o solo para plantio de sementes, entre outras atividades agropecuárias, contratam mão de obra utilizando os contratadores de empreitada, os chamados “gatos”. Eles aliciam os trabalhadores, servindo de fachada para que os fazendeiros não sejam responsabilizados pelo crime.

Trabalho escravo se configura pelo trabalho degradante aliado ao cerceamento da liberdade. Este segundo fator nem sempre é visível, uma vez que não mais se utilizam correntes para prender o homem à terra, mas sim ameaças físicas, terror psicológico ou mesmo as grandes distâncias que separam a propriedade da cidade mais próxima.

Disponível em: http://www.reporterbrasil.org.br. Acesso em: 02 set.2010 (fragmento).

O futuro do trabalho

Esqueça os escritórios, os salários fixos e a aposentadoria. Em 2020, você trabalhará em casa, seu chefe terá menos de 30 anos e será uma mulher

Felizmente, nunca houve tantas ferramentas disponíveis para mudar o modo como trabalhamos e, consequentemente, como vivemos. E as transformações estão acontecendo. A crise despedaçou companhias gigantes tidas até então como modelos de administração. Em vez de grandes conglomerados, o futuro será povoado de empresas menores reunidas em torno de projetos em comum. Os próximos anos também vão consolidar mudanças que vêm acontecendo há algum tempo: a busca pela qualidade de vida, a preocupação com o meio ambiente, e a vontade de nos realizarmos como pessoas também em nossos trabalhos. “Falamos tanto em desperdício de recusos naturais e energia, mas e quanto ao desperdício de talentos?”, diz o filósofo e ensaísta suiço Alain de Batton em seu novo livro The Pleasures and Sorrows of Works (Os prazeres e as dores do trabalho, ainda inédito no Brasil).

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INSTRUÇÕES:

  • Seu texto tem de ser escrito à tinta, na folha própria.
  • Desenvolva seu texto em prosa: não redija narração, nem poema.
  • O texto com até 7 (sete) linhas escritas será considerado texto em branco.
  • O texto deve ter, no máximo, 30 linhas.
  • O Rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.

 

Esta coletânea possui quatro textos motivadores, já que a foto do homem vestido com uma camiseta rasgada retrata uma rotina sofrida de trabalho pesado, juntamente com as marcas de seu pescoço, por meio das quais pode-se inferir que trata-se de um senhor marcado pelo trabalho duro em condições insalubres.

O primeiro texto traz a definição de trabalho escravo, relembrando o período de escravidão no Brasil, seu “fim” com a assinatura da Lei Áurea e sua realidade atual, pois ainda existem situações de trabalho escravo no Brasil nas quais homens e mulheres adultos, crianças e jovens são submetidos a regimes de trabalho humilhantes, em péssimas condições, sem nenhum direito trabalhista garantido e proibidos, de diversas maneiras, de saírem desta situação. O texto traz alguns exemplos de trabalho escravo na pecuária, na indústria carvoeira, em plantações, mas o candidato também poderia citar outros exemplos, aqueles que acontecem nos centros urbanos, já que os exemplos do texto referem-se, especificamente, a casos que ocorrem no interior do país, nas zonas rurais e de mata.

O candidato, para demonstrar conhecimento de causa, poderia citar as confecções clandestinas que têm como funcionários imigrantes latinos americanos, bolivianos e colombianos, em sua maioria, que produzem roupas em ambientes pequenos, escuros, normalmente porões, já que o negócio deve permanecer escondido, o dia todo, com pouco tempo de descanso e ganhando muito pouco. Há também os casos de crianças que trabalham em regime escravo em casas de família, como babás ou faxineiras e aí há dupla ilegalidade: trabalho infantil e escravo. Também podemos citar casos de mulheres e homens aliciados, iludidos de que irão trabalhar em lanchonetes, restaurantes, mas são escravizados em boates de prostituição, como mostrou recentemente uma novela de uma emissora de TV brasileira.

Já o segundo texto traz, de uma maneira até humorada, pois mexe em esteriótipos (uma mulher como chefe, algo ainda humilhante para muitos homens machistas, um jovem como chefe, algo incômodo para algumas pessoas mais velhas, mais experientes), o trabalho no século XXI. Todos os direitos trabalhistas garantidos, mas trabalharemos mais e de todo o lugar com o “auxílio” de celulares, tablets e notebooks (tudo bem se você não chegará a tempo da reunião, pelo tablet você pode participar dela através de uma videoconferência no táxi, por exemplo), não aposentaremos ou o faremos mais tarde e haverá mais micro e médias empresas.

O perfil de empregado também mudará ou já está mudando: nos importaremos mais com a nossa qualidade de vida, com o meio ambiente e, os mais jovens, vão deixar para pensar na aposentadoria bem mais tarde do que seus pais, por exemplo e não ficarão preocupados em mudar muito de emprego, pois acham que isso “não suja a carteira”, ou seja, este texto vê o trabalho de maneira mais otimista, com vantagens, mas trabalharemos mais (talvez mais no que gostamos, não pensando tanto em salário), escravos das novas tecnologias.

O candidato poderia, em sua redação, contrastar as duas realidades expostas pelos textos motivadores relacionando-os à desigualdade social do Brasil, já que as vítimas do trabalho escravo contemporâneo são oriundas das camadas mais pobres da população, com pouco acesso à informação, com pouca ou precária educação, mas com o sonho de melhorar de vida; já as pessoas que podem trabalhar de modo mais flexível como aponta o segundo texto são pessoas de classes sociais mais abastadas ou com mais acesso à educação de qualidade, à informação, à cultura etc.

O candidato também poderia criticar o segundo texto, dizendo que seremos escravos do trabalho, mas de um modo diferente, relacionando sua crítica à globalização, ao sistema capitalista etc.

Como proposta de intervenção social, a quinta competência avaliada pelo ENEM, o candidato poderia propor uma maior fiscalização por parte dos governos municipais, estaduais e federal a fim de acabar com o trabalho escravo nas zonas rural e urbana do Brasil; melhor acesso à educação, saúde e uma melhor distribuição de renda para diminuir a desigualdade social brasileira; aperfeiçoamento profissional das pessoas por meio de cursos gratuitos promovidos por ONGs, por exemplo.

Na próxima semana, analisaremos o tema da redação do penúltimo ENEM: Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado. A prova pode ser acessada pelo link: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2011/05_AMARELO_GAB.pdf.

Até lá!


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP – Atua na área de Educação exercendo funções relativas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação na 1ª fase e de Língua Portuguesa na 2ª fase do vestibular 2013 da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP. Participou de avaliações e produções de diversos materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação.

**Camila também é colunista semanal sobre redação do infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para nossos leitores! Suas publicações serão sempre às quintas-feiras, não percam!

Veja mais artigos da professora Camila

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