Como Você Reescreveria Uma Redação? (Segunda Parte)

Na última publicação desta coluna, propusemos que vocês, leitores, reescrevessem uma dissertação-argumentativa da proposta de redação do ENEM 2006 cujo tema era O PODER DE TRANSFORMAÇÃO DA LEITURA (veja a matéria). Assim, no texto de hoje, abordaremos algumas possibilidades de como este texto poderia ter sido reescrito, já que não existe apenas uma maneira de se escrever sobre determinado tema.

Quadro Negro

De acordo com Monteiro Lobato, um país se faz de homens e livros e para os governantes não deveria ser diferente. O papel da leitura na formação de um indivíduo é de fundamental importância; basta observar a relevância da escrita na marcação histórica do homem, que destaca, por tal motivo, a pré-história.
           
Em uma esfera mais prática, pode-se perceber que nenhum grande pensador fez-se uma exceção e não deixou seu legado através da escrita, dos seus livros, das anotações. Exemplos não são escassos: de Aristóteles a Nietzsche, de Newton a Ohm; sejam pergaminhos fossilizados ou produções da imprensa de Gutenberg, muito devemos a esses escritos. Desta forma, demos prosseguimento ao processo de transformação da humanidade adquirindo tamanha produção intelectual que até hoje nos é disponibilizada.
           
A aquisição de ideias pelo ser humano apresenta um grande efeito colateral: a reflexão. A leitura é capaz de nos oferecer o poder de questionar, sendo a mesma frequente em nossas vidas. Outrossim, é impossível que a nossa visão do mundo ao redor não se modifique com essa capacidade adquirida, fazendo-nos criticar e refletir de maneira autônoma e protagonista.
           
Embora a questão e a dúvida sejam de extrema importância a um ser pensante, estas devem ter um curto prazo de validade. A necessidade de resposta nos é intrínseca e gera novas ideias, fechando, assim, um círculo vicioso, o qual nos integra e pelo qual nunca terminamos de transformar e sermos transformados.
           
Portanto, a leitura é a base para o desenvolvimento e a integração na sociedade e na vida, pois viver não é apenas respirar. Se Descartes estiver certo, é preciso pensar. Pensando, podemos mudar o quadro negro do país e construir o Brasil de Monteiro Lobato: quadro negro apenas na sala de aula (podendo seu substituído por lousas digitais, computadores ou tablets), repleto de ideias, pensamentos, autores; repleto de transformação e de vida.

Como esta dissertação-argumentativa foi escrita em 2006, há dez anos, podemos e até devemos atualizá-la e, por isso, no parágrafo conclusivo, incluímos a questão da tecnologia digital em sala de aula citando a possibilidade de substituição do quadro negro pelas lousas digitais, computadores ou tablets, aparelhos eletrônicos já presentes em várias escolas brasileiras. Além desta atualização de conteúdo, atualizamos também esta redação em relação ao Novo Acordo Ortográfico.

Adicionamos, também, alguns elementos coesivos, como conjunções, a fim de dar mais fluidez e gerar mais efeitos de sentido no texto, como por exemplo, o ‘portanto’ na conclusão que já sinaliza que o fim da redação está próximo com a chegada das conclusões.

Por esta dissertação-argumentativa ter sido uma redação nota máxima no ENEM 2006, não havia desvios a serem corrigidos, mas sempre existem possibilidades de reescrever um texto.

 


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

 
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas! Também é responsável pela criação da maioria dos temas do Curso de Redação do infoEnem

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1 comment
  1. Acredito que essa redação ainda assim estaria errada pois, em uma redação do ENEM, não se deve usar a quarta pessoa (nós), certo?

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