CONCORDÂNCIA: MAIS CASOS ESPINHOSOS – Parte 2

Horário de versão e a concordância

Na semana passada, deixei a charge abaixo, usada como base para uma questão da Unicamp, para uma reflexão (clique aqui e leia o artigo).

In: http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2007/download/comentadas/portugues.pdf Acesso em 03/09/2015
In: http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2007/download/comentadas/portugues.pdf Acesso em 03/09/2015

Além da reflexão a respeito da crítica que contém, ela serve também como ponto de partida para recordar como deve ser feita a concordância com pronomes de tratamento.

Alguns processos seletivos, como a Unicamp, a UEM ou a UFPR, pedem que o candidato redija textos de outros gêneros diversos do cobrado pelo ENEM, entre eles, as cartas. Se, na dissertação, o candidato deve direcionar seu texto a um leitor universal, nas cartas a tarefa é persuadir um leitor específico.

Esse destinatário deve ser tratado pelo pronome de tratamento específico, mas, qualquer que seja ele, é necessário estabelecer corretamente a concordância verbal e é aí que os distraídos cometem os deslizes: a maioria desses pronomes é uma combinação, na estrutura, de um pronome possessivo com um substantivo (Vossa Excelência, Vossa Santidade, Vossa Senhoria), o que faz muitos pensarem imediatamente em “vós” como sendo o receptor e fazem erroneamente a concordância com a 2ª pessoa do plural.

“Ora”, direis, “mas não é assim? ” Não! Embora o pronome de tratamento tenha essa estrutura, a concordância é feita com a 3ª pessoa. Querem uma prova? Observem como se faz a concordância com o pronome ‘você‘:

  • “Vocês já revisaram (3ªp.pl) os conteúdos de Geografia? “
  • “Quando você fizer (3ªp.sing) a redação, não se (3ªp.sing) esqueça (3ªp.sing) de revisar a concordância! “

É assim que falamos no dia a dia (sem hífen após o Acordo Ortográfico!). Para não se confundir e para não esquecer mais, tenha em mente que o pronome “você” é descendente direto da forma arcaica “Vossa Mercê“, a qual foi “perdendo pedacinhos” com o passar do tempo até restarem somente a sílaba tônica da primeira palavra (vo-) e a da segunda (-cê), resultando no nosso familiar “você”.

Assim, ao se dirigir ao destinatário de sua carta, que pode ser um governador, um prefeito ou um parlamentar (como os ratinhos da tirinha, que devem ser personagens da fábula “A assembleia dos ratos”, de Esopo1), deverá tratá-lo por Vossa Excelência2 e empregar os verbos e demais termos associados na 3ª pessoa:

“Vossa Excelência me permite um aparte?”

ou

“Gostaria de solicitar a V. Exª que (3ªp.sing.) a devida atenção (…)”

Ah, mais um lembrete: quando se dirigir diretamente à autoridade (falando COM a pessoa), deve-se tratá-la por “Vossa …”, mas quando tal autoridade for o referente (assunto) da comunicação, emprega-se “Sua …” em lugar do “Vossa…”. Assim:

Sua Excelência, o governador, foi muito solícito em atender os manifestantes.” (alguém descrevendo a atitude do governante, ou seja, falando SOBRE ele).

É isso! Até a próxima semana!

 


1# Fabulista grego que, por meio de suas histórias, transmitia ensinamentos e valores morais ou fazia críticas sociais.

Confira no Manual de Redação da Presidência da República os tratamentos adequados a cada autoridade: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais-1/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/view


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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