Confira a Análise de Redação Nota 1.000 do ENEM 2016

Na última terça-feira, dia 11 de abril de 2017, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) liberou para os participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) o acesso aos espelhos dos textos da prova de redação das duas edições do ano de 2016, já que devido às ocupações de várias escolas públicas por todo o país, houve uma segunda aplicação do exame.

No mesmo dia, o portal G1 divulgou algumas das setenta e sete redações que obtiveram a nota máxima da correção da redação do ENEM e, neste texto, iremos analisar um desses textos, cuja autoria é de Larissa Cristine Ferreira, de 20 anos.

Orgulho Machadiano

Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros frente a intolerância religiosa é uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso, surge a problemática do preconceito religioso que persiste intrinsecamente ligado à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.

É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa rompe essa harmonia; haja vista que, embora esteja previsto na Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser tratados igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para externar ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes.

Segundo pesquisas, a religião afro-brasileira é a principal vítima de discriminação, destacando-se o preconceito religioso como o principal impulsionador do problema. De acordo com Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agir e de pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-se que a preparação do preconceito religioso se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, a continuação do pensamento da inferioridade religiosa, transmitido de geração a geração, funciona como base forte dessa forma de preconceito, perpetuando o problema no Brasil.

Infere-se, portanto, que a intolerância religiosa é um mal para a sociedade brasileira. Sendo assim, cabe ao Governo Federal construir delegacias especializadas em crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade, além de aumentar a pena para quem o praticar. Ainda cabe à escola criar palestras sobre as religiões e suas histórias, visando a informar crianças e jovens sobre as diferenças religiosas no país, diminuindo, assim, o preconceito religioso. Ademais, a sociedade deve se mobilizar em redes sociais, com o intuito de conscientizar a população sobre os males da intolerância religiosa. Assim, poder-se-á transformar o Brasil em um país desenvolvido socialmente, e criar um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.

Podemos perceber que trata-se de uma dissertação-argumentativa com a estrutura composicional adequada e clássica: divisão em quatro parágrafos, sendo o primeiro o parágrafo introdutório, o segundo e o terceiro os de desenvolvimento e o quarto e último o da conclusão. Além disso, é um texto escrito da maneira correta em relação ao estilo: linguagem impessoal, objetiva e formal, seguindo a norma culta da Língua Portuguesa escrita e que atende ao tema da proposta de redação da primeira edição do ENEM 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil.

Já na primeira oração do texto, a candidata relaciona a intolerância e o preconceito religioso com a frase final do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, um dos maiores clássicos da literatura brasileira, de Machado de Assis: “não tive filhos; não deixei para ninguém o legado da nossa miséria”. Como avaliadora, não penso que a autora estabeleceu tal relação com consistência; não acredito que esta passagem literária seja a melhor opção para dialogar com o tema da proposta, mas, mesmo assim, avaliadora não deve gostar do texto e sim corrigi-lo dentro da grande de correção e, pensando neste ponto, a candidata pontuou na segunda competência, quando relaciona o tema com outras disicplinas, assim como fez ao citar Aristóteles e Durkein, este por sua vez, muito melhor inserido do que Machado de Assis.

Por meio de adjetivos como “perversas”, Larissa coloca sua opinião, repudiando a intolerância religiosa e argumentando que a isonomia constitucional não é, na prática, realizada, já que pessoas são excluídas por causa da sua religião. A autora também cita “minorias religiosas”, mas não explica ao leitor quais religiões e/ou crenças são consideradas minorias em um país cuja população é, em sua maioria, cristã, dividida em, basicamente, duas grandes frentes: católicos e evangélicos.

No terceiro parágrafo, a candidata refere-se, por meio do discurso indireto, à coletânea de textos motivadores, quando escreve que, segundo pesquisas, as religiões afro-brasileiras são as principais vítimas de preconceito, mas não cita nenhum exemplo. No mesmo trecho, Larissa explica que grande parte deste problema advém da criação de crianças por famílias preconceituosas.

Na conclusão, a autora cita três propostas de intervenção social, cada uma dirigida a uma instância da sociedade. Ao Governo Federal, caberia a criação de delegacias especializadas em crimes de ódio, especialmente no que concerne a intolerância religiosa; às escolas ficaria a realização de palestras e a sociedade deve se mobilizar contra este tipo de discriminação, principalmente nas redes sociais.

Este texto, portanto, nos mostra que uma dissertação-argumentativa clássica e simples pode alcançar a nota máxima no ENEM.

 


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas e do Curso Online do infoEnem. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!

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15 comments
  1. Eu achei a aluna bem inteligente, pois soube retirar com maestria dos textos originais tudo aquilo que poderia prejudicá-la e configurar um desvio parcial do tema. O fato é que ela poderia utilizar essa inteligência para fazer um texto próprio, o que mostra que está na hora de o Enem adotar o critério de plágio em suas correções, como já acontece com os trabalhos acadêmicos nas boas universidades.

  2. Muito me admira o ENEM dar nota 1000 à uma candidata, que não apenas copiou a introdução do site Descomplica (em 2014), e o segundo parágrafo do Raphael de Souza (que tirou 1000 em 2015 e 2016 na Redação), cujo texto original é “Equilíbrio Aristotélico”. Como também, citou a teoria errada de Aristóteles…. Indignada!

  3. É vergonhoso o Enem atribuir nota mil a uma redação nitidamente copiada do ano anterior. Os avaliadores não se deram ao trabalho de analisar as redações nota mil do ano anterior. O pior de tudo é que o ENEM coloca criatividade e originalidade como critérios para obtenção da nota 1000.

  4. Lamentável, esta redação é um plágio. A redação original é “Equilíbrio Aristotélico”. Segue para análise abaixo:

    Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A mulher era vista, de maneira mais intensa na transição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, com a chegada da Era Vargas. Com isso, surge a problemática da violência de gênero dessa lógica excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.

    É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher rompe essa harmonia, haja vista que, embora a Lei Maria da Penha tenha sido um grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a denúncia por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do reforço da prática da regulamentação como forma de combate à problemática.

    Outrossim, destaca-se o machismo como impulsionador da violência contra a mulher. Segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de pensar, dotada de exterioridade, generalidade e coercitividade. Seguindo essa linha de pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado na teoria do sociólogo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, o fortalecimento do pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a geração, funciona como forte base dessa forma de agressão, agravando o problema no Brasil.

    Entende-se, portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Federal deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do poder, principalmente nas áreas que mais necessitem, além de aplicar campanhas de abrangência nacional junto às emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses crimes. Dessa forma, com base no equilíbrio proposto por Aristóteles, esse fato social será gradativamente minimizado no país.

    1. > Pena que ela foi copiada Wellington de uma redação nota 1000 de 2015. Compare parágrafo por parágrafo e tire as suas conclusões. Se merece elogios é a Redação Original, do Estudante Raphael….

    2. > Plagio, se vc pegarem no site do descomplica a introdução de 2014 é exatamente igual ela so mudou o assunto pra o tema do enem de 2016, e o resto tmb e copiado de um candidato do ano de 2015

    1. > Não só o segundo paragrafo, o 1º é do Descomplica de 2014, e o 2º, 3º e 4º são do Wellington.

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