Diminutivo: como flexionar, seu valor afetivo e exemplos

Vinicius de Moraes, numa crônica sobre como seria o comportamento adequado nas salas de cinemas, discorre sobre os casais que namoram nesse ambiente e diz que o namorado pode fazer “massagem no braço da namorada, cosquinha no seu joelho, festinha no rostinho delazinha” (http://www.viniciusdemoraes.com.br/en/cine/como-se-comportar-no-cinema), mas não pode atrapalhar quem quer assistir ao filme.

Vemos nesse trecho da crônica, um curioso emprego dos diminutivos. De acordo com a norma culta, há flexão de aumentativo e diminutivo apenas nos substantivos e, a rigor, essa flexão indicaria o tamanho dos seres nomeados pelos substantivos. O Poetinha (alcunha carinhosa atribuída a Vinícius), usando de licença poética, acrescenta o sufixo de diminutivo em outro termo, não apenas nos substantivos do trecho. Em ‘delazinha’, a afetuosidade que aparece nos substantivos se espalha e ‘contamina’ o termo seguinte, uma contração da preposição ‘de’ com o pronome ‘ela’, transferindo o afeto de ‘cosquinha’, ‘festinha’ e ‘rostinho’ para a dona do rostinho também.

Esse uso afetivo dos diminutivos também é assunto de outra crônica, desta vez de Luís Fernando Verissimo. No texto, ele diz que sempre pensou “que ninguém batia o brasileiro no uso do diminutivo, essa nossa mania de reduzir tudo à mínima dimensão, seja um cafezinho, um cineminha ou uma vidinha. Só o que varia é a inflexão da voz.” Ou seja, de acordo com a maneira como se pronuncia, o diminutivo pode indicar tamanho, afeto, desprezo (a namorada pode ficar com ciúmes ‘daquelazinha’ que dá em cima do seu namorado, podemos não gostar daquele livreco e podemos considerar o personagem padre Amaro, – em “O crime do padre Amaro”, de Eça de Queirós -, um padreco) ou ainda, amenizar algo desagradável ou assustador. Assim alguém pode ter medo de passar por uma intervenção cirúrgica, mas não de ‘uma operaçãozinha’.

Mas como flexionar um termo no diminutivo? Nos exemplos acima vemos o sufixo ora na forma ‘inho’, ora na forma ‘zinho’. Qual seria a correta? A regra é a seguinte:

  • Existe ‘s’ no radical => acréscimo de ‘inho’
    Lápis – lapisinho; país – paisinho
  • Não existe ‘s’ no radical => acréscimo da consoante de ligação ‘z’ + sufixo ‘inho’
    Pão – pãozinho ; café – cafezinho; pai – paizinho

Existe ainda a possibilidade de suprimir o final da palavra a acrescentar apenas ‘inho’: rostinho, menininho, cachorrinho. E não podemos esquecer que ‘inho’ é apenas um dos sufixos de diminutivo.

E assim, encerramos o textinho de hoje.

Até a próxima semana!

 


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso sistema de correção de redação e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora é colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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