Analisemos a seguinte questão da Fuvest de alguns anos:
(FUVEST) Observe este anúncio, com foto que retrata um depósito de lixo.
a) Passe para o discurso indireto a frase “Filho, um dia isso tudo será seu”.
A questão trata de um aspecto importante na construção dos textos, que é a definição do tipo de discurso que será empregado para dar voz às personagens (na ficção) ou aos entrevistados ou os autores de citações (nas notícias/reportagens ou nas dissertações). Relembremos dois tipos:
O discurso direto é a transcrição exata da fala das personagens, sem participação do narrador, ou seja, a personagem fala por si mesma e essa fala vem sempre marcada por travessão ou aspas:
- “Filho, um dia isso tudo será seu”.
O discurso indireto é “de segunda mão”, o narrador utiliza as suas próprias palavras para reproduzir as falas das personagens. Sintaticamente, a fala das personagens vira uma oração subordinada substantiva sempre estruturada a partir de um verbo dicendi (de dizer: disse, falou, sussurrou, perguntou, indagou, respondeu, ordenou etc):
- O pai disse ao filho que um dia tudo aquilo seria dele.
- (…) que um dia ele seria dono de tudo aquilo.
- (…) que um dia tudo aquilo pertenceria a ele.
Como podemos observar, pode haver várias possibilidades de resposta, mas há alguns elementos que são comuns a todas as possibilidades: as alterações de tempo verbal, de pessoa gramatical e de ponto de referência espacial.
Vejamos como ficam essas alterações:
- Mudança das pessoas do discurso:
A 1.ª pessoa no discurso direto transforma-se em 3.ª pessoa no discurso indireto.
– Eu já terminei minhas tarefas, disse a garota. => A garota disse que ela já tinha terminado as suas tarefas /as tarefas dela.
- Mudança nos tempos verbais:
- Verbo no presente do indicativo passa a pretérito imperfeito do indicativo:
– Não quero água – afirmou a menina. => A menina afirmou que não queria água.
- Verbo no pretérito perfeito passa a pretérito mais-que-perfeito:
– Perdi meu diário – disse ele.=> Ele disse que tinha perdido seu diário.
- Verbo no futuro do indicativo passa a futuro do pretérito:
– Irei à escola amanhã. => Ele afirmou que iria à escola no dia seguinte.
- Verbo no imperativo passa o pretérito imperfeito do subjuntivo:
– Marchem! – ordenou o sargento. => O sargento ordenou que marchássemos.
- Mudança das informações temporais e espaciais (advérbios e pronomes):
- Ontem no discurso direto passa para no dia anterior no discurso indireto.
– Perdi meu diário ontem – disse ele.=> Ele disse que tinha perdido seu diário no dia anterior.
- Hoje e agora no discurso direto passam para naquele dia e naquele momento
– Não quero água agora – afirmou a menina. => A menina afirmou que não queria água naquele momento.
- Amanhã no discurso direto passa para no dia seguinte:
– Irei à escola amanhã. => Ele afirmou que iria à escola no dia seguinte.
- Aqui, aí, cá no discurso direto passam para ali e lá
– Marchem até aqui! – ordenou o sargento. => O sargento ordenou que marchássemos até lá.
- Este, esta e isto no discurso direto passam para aquele, aquela, aquilo
– Este assunto não é difícil, afirmou o professor. => O professor afirmou que aquele assunto não era difícil.
Embora os exemplos acima tenham uma relação mais direta com o gênero narrativo, é comum aparecerem questões nos vestibulares cobrando essa transposição. Ou ainda, podemos lançar mão dessa transformação nos textos dissertativos, quando precisamos fazer uma citação ou mencionar a fala de algum entrevistado, informações essas que podem vir nos textos motivadores e que podem ser aproveitados para fundamentar a argumentação ou exemplificar um determinado ponto da discussão.
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!
1 comment
Gostaria de corrigir algo no site. Quando passamos para o discurso indireto, o “nós” vira “eles” por exemplo:
– Marchem até aqui! – ordenou o sargento. => O sargento ordenou que marchassem até lá.
Isso acontece pois o narrador não está contido no discurso transposto