Entenda a Correção da Redação do ENEM

Entenda a Correção da Redação do ENEMPor CAMILA DALLA POZZA PEREIRA

Como foi divulgado pelo MEC em julho de 2012 em documento oficial, as bancas elaboradora e corretora do ENEM avaliam as redações através da análise de cinco competências e cada uma delas examina um aspecto específico dos textos em cinco níveis diferentes que variam do 0 aos 200 pontos de acordo com o cumprimento das mesmas (excelente, bom, adequado, mediano, insuficiente e desconhecimento total).

A primeira – “Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita” – visa reconhecer se a redação está escrita segundo a norma culta, isto é, se a linguagem empregada segue as regras da gramática normativa da Língua Portuguesa (concordância verbal e nominal e verbo-nominal, regência nominal e verbal e flexão verbal). Isto significa um texto sem marcas de oralidade (vícios de linguagem, como por exemplo, o “né” e informalidade como gírias; palavrões, jamais), escrito, acentuado e pontuado corretamente. Utilizar um vocabulário variado e adequado também é importante.

A segunda competência – “Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo” objetiva avaliar, primeiramente, se o candidato entendeu realmente a proposta, ou seja, se assimilou o tema e compreendeu o propósito da prova, o que implica em não fugir dele nem tangenciá-lo, ou seja, abordá-lo parcialmente. Em segundo lugar, se houve, para melhor argumentação, aplicação de conceitos de diversos campos do conhecimento (história, filosofia, biologia, sociologia, economia, política etc), o que demonstra o seu nível de conhecimentos prévios (de mundo, passados e atuais) e é aí que estar atualizado é fundamental. No ENEM 2012, por exemplo, quem citasse o caso de envolvimento da loja Zara com trabalho escravo de cidadãos bolivianos em São Paulo em 2011, a vinda em massa de haitianos para o Brasil em 2012, a imigração de europeus para cá devido à nossa situação perante a crise econômica e analisasse politicamente, economicamente e socialmente estes fatos já mostrava que sabia utilizar esse conhecimento na redação. Copiar trechos da coletânea invalida este item. E, em último lugar, esta competência analisa se o texto é uma dissertação-argumentativa e não um outro tipo textual como uma dissertação (apenas exposição de ideias, sem argumentação), narração ou carta. Neste aspecto, a argumentação deve ser a mais consistente possível, isto é, ao argumentar, você deve selecionar argumentos fortes, difíceis de serem contestados; uma dica é pensar nos contra-argumentos que o leitor fará ao ler seu texto. A redação escrita em outro formato é anulada, mesmo que tenha obtido nota nas demais competências.

A terceira – “Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista” – avalia, em suma, a organização do seu texto: se há uma tese (uma ideia a ser defendida), argumentos que a defendam e estratégias argumentativas (fatos, exemplos etc) que sustentem estes argumentos. Como trata-se de uma dissertação-argumentativa, uma posição deve ser tomada e, para tanto, não se deve ficar “em cima do muro” e, assim, a argumentação e o texto, por consequência, devem ser coerentes, isto é, a redação deve mostrar ao leitor onde você, autor, quer chegar (ter progressão temática, ou seja, não ficar “enrolando”) através de um texto verossímil (plausível) no qual há progressão de ideias, o que denota planejamento e é aí que o resumo é importante: é nele que você vai preparar, planejar todo seu texto: da introdução, passando pelo desenvolvimento e chegando à conclusão.

A quarta competência – “Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação” – visa avaliar a fluidez, a coesão e articulação da redação e, para tanto, todos os parágrafos devem estar interligados e constituir um tópico frasal a fim de construir um texto que faça sentido para o leitor. Uma dica importante para se conseguir isso é dedicar, para cada argumento, um parágrafo do desenvolvimento. Além disso, demonstrar conhecer os mecanismos linguísticos para se escrever um texto coeso é mostrar saber fazer referências com pronomes, advérbios e conjunções palavras anteriores, usar sinônimos e antônimos.

Podemos perceber que a segunda, terceira e quarta competências são dependentes uma das outras, pois dizem respeito a aspectos de textos dissertativos-argumentativos (desenvolvimento do tema, argumentação, coerência e coesão) e o primeiro passo para se sair bem nelas e no restante é, ao escrever, não pensar, não escrever para o corretor e sim para um leitor universal. Tenha em mente que toda e qualquer pessoa deve entender seu texto, não apenas o corretor e, assim, você não pressupõe que o leitor conheça a proposta; o leitor deve conhecer a proposta e o tema através do seu texto e, por isso, não pense no corretor e sim em um leitor universal. Muitos escrevem “como a coletânea diz…”, “como a proposta afirma…” e, assim, demonstram estar presumindo que o leitor conhece a proposta, além de estar copiando da coletânea.

A quinta e última competência – “Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos” – objetiva analisar se você sugeriu uma proposta de solução para a problemática do tema. O ENEM tem como tradição abordar temas com um viés social e, assim, pede uma intervenção por parte do candidato e quanto mais específica, detalhada, clara, inovadora e possível, melhor, além de ser algo que respeite os direitos humanos. No caso do ENEM 2012, a proposta poderia ser uma política de uma maior fiscalização da entrada de imigrantes no Brasil e do que eles fazem aqui para coibir o trabalho escravo, além de uma política de acolhimento de estrangeiros que buscam uma oportunidade de emprego através de um cadastro e acompanhamento destas pessoas. Esta proposta deve estar coerente com a sua tese e com os seus argumentos e a ausência desta acarreta em uma nota zero nesta competência.
O melhor modo de se tornar um autor proficiente e ir bem em provas de redação é escrever com certa frequência, redigir um texto por semana e fazer as propostas de anos anteriores tentando cumprir as competências avaliadas pelo ENEM, além de ler bastante para se manter atualizado e ter opiniões formadas.
Bons estudos!

 

*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP – Atua na área de Educação exercendo funções relativas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação.  Foi corretora de redação na 1ª fase e de Língua Portuguesa na 2ª fase do vestibular 2013 da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP.  Participou de avaliações e produções de diversos materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação.

 

**A equipe infoenem agradece imensamente a colaboração da Professora Camila, que nos escreveu valioso artigo sobre as competências exigidas na redação do Enem.  Aproveitamos para esclarecer que, para ser colunista de nosso portal, basta ela querer. Seria uma honra para nós e um presente para os nossos milhares de leitores. 

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