Numa palestra de um professor da Poli (USP) feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), talvez a frase mais marcante tenha sido que, para ele, a profissão que mais traz qualidade de vida para a população seja a engenharia.
E se pararmos para pensar um pouco, a afirmação do palestrante faz todo sentido. Pontes, celulares, casas, computadores, automóveis, aparelhos hospitalares, tablets, antenas, geladeiras, câmeras, aviões, energia elétrica, rádios, gasolina etc. Esses são apenas alguns, dos infinitos exemplos, que não estaríamos usufruindo se não contássemos com os engenheiros.
Devido a essa imensa importância, é evidente que a profissão, ainda mais num país que busca um maior crescimento econômico, está (e continuará) muito valorizada.
E qual o “lado ruim” disso tudo? A disputa por vagas em engenharia nas grandes universidades brasileiras é desumana.
Dificuldades de acesso à parte, vamos falar um pouco mais sobre uma das engenharias mais badaladas: A Engenharia da Computação. Dentre as inúmeras funções que um engenheiro da computação pode assumir, podemos sintetizar que esses profissionais apresentam um conjunto de conhecimentos que serão utilizados para projetar e desenvolver computadores e seus periféricos, sendo responsáveis também pela integração dos sistemas de hardware e software.
Salário inicial
Segundo o CREA, o salário médio inicial é de R$ 3.732,00 (por 6 horas diárias);
Onde estão os melhores cursos?
Segundo o Guia dos Estudantes 2012, estes são os melhores cursos de Engenharia da Computação do país.
*Os dados estão organizados por estado e ordem alfabética.
Entrevista
Mas como é o dia a dia e as reais perspectivas desses profissionais no atual mercado de trabalho brasileiro? Para nos ajudar nessas e outras dúvidas, convidamos o pessoal do “Bit a Bit”, blog criado e mantido por alunos e ex-alunos de Engenharia de Computação da Universidade Estadual de São Paulo (USP). Fomos prontamente atendidos pelos engenheiros Eduardo Russo e Rafael Barbolo Lopes.
Segue a entrevista concedida por Eduardo.
1- Porque escolheu engenharia da computação?
Engenharia de Computação foi minha segunda faculdade. Me formei em Desenho Industrial em 2001. Desde formado, trabalhei com web design e meu foco sempre foi a parte tecnológica. Acabei cada vez mais gostando disso e resolvi cursar uma segunda faculdade focada em tecnologia.
Pesquisei bastante entre os cursos de Sistemas de Informação, Ciência da Computação e Engenharia de Computação (na Poli, pelo menos, é de, não da).
Escolhi engenharia pelo fato de ser um curso mais abrangente e que tinha mais a ver com meu perfil. Muitos líderes de diversas empresas cursaram engenharia e isso me fez ter mais interesse por esse curso.
2 – O que achou do curso? Cite as principais dificuldades encontradas ao longo do mesmo.
No geral o curso é bastante puxado e aborda os principais assuntos que, acredito, um profissional da área de engenharia de computação deve ver antes de ir para o mercado de trabalho. Na Poli, pelo menos, o curso é bastante voltado a formar uma base e quase nada voltado para o mercado, o que, na minha visão, forma um profissional mais completo, que de fato sabe como utilizar essa base, independente da tecnologia.
Não conheço a fundo o curso de outras faculdades, mas acredito que as melhores também se foquem nesse aspecto de dar uma base para o profissional e não em formar um técnico.
No geral, afirmo que é um curso difícil e que exige bastante dedicação. No início do curso eram muitas provas de assuntos genéricos (cálculo, química, física etc) e no final, muitos trabalhos complexos e trabalhosos.
Um dos grandes aprendizados que tive na faculdade foi aprender a não depender das aulas para aprender, já que vários professores deixavam bastante a desejar. Hoje consigo me virar em qualquer assunto, mesmo nunca tendo ouvido falar do mesmo, sei como pesquisar, buscar livros, colegas etc. Isso acaba fazendo parte do nosso perfil… aprendemos a resolver problemas de qualquer tipo.
3 – Uma das dúvidas mais comuns entre os vestibulandos é a diferença entre ENGENHARIA da comutação e CIÊNCIA da computação. Poderia nos esclarecer?
Já conversei algumas vezes com cientistas para me aprofundar nas diferenças e igualdades entre os cursos.
Ciências é um curso bem forte caso o foco seja desenvolver software. Você aprenderá as entranhas, o planejamento, a construção… provavelmente verá várias linguagens de programação e aprenderá profundamente algumas delas. Entenderá como solucionar diversos problemas usando e criando algorítmos e terá uma base matemática bem forte.
Engenharia é um curso mais generalista e você terá uma visão mais macro do computador. Terá várias matérias não relacionadas a computação, terá uma base mais profunda de hardware e como ele se comunica com o software.
Aprenderá muita lógica, mas não será nenhum mestre de programação (se depender da faculdade) em uma linguagem específica. Entenderá todas as entranhas de um sistema computacional, desde os componentes básicos até o sistema operacional.
PS. Caso tenham interesse, escrevi um texto bastante extenso detalhando o curso: http://www.bitabit.eng.br/2012/06/26/por-que-escolhi-fazer-engenharia-de-computacao/
4 – Como é exercer a profissão de engenheiro da computação? Conte-nos um pouco sobre sua rotina.
Essa pergunta é bastante complicada e quase impossível de responder de maneira satisfatória.
Se 90% dos engenheiros civis viram “engenheiro civil” e vão planejar, calcular e coordenar a construção de casas e prédios, o mesmo não ocorre na engenharia de computação. Não existe um “cargo” de engenheiro de computação.
Entre meus colegas de sala, cada um atua em uma área, de uma forma. Desde formado, atuo como gerente de produtos e tenho colegas na área de desenvolvimento de software, arquitetura (de software), venda técnica, desenvolvimento de algoritmos para finanças, criação de jogos, gerentes de projeto etc.
É difícil descrever o dia a dia de cada um, mas garanto que pouco do que você viu na faculdade será utilizado de fato no dia a dia, mas toda a base recebida ao longo dos 5 anos de curso contribuem muito na hora de tomar cada decisão, na hora de pesquisar um assunto novo.
5- Neste momento econômico, qual a sua opinião em relação ao mercado de trabalho e as oportunidades para os profissionais da sua área?
Acredito que é uma área com muitas oportunidades. Temos algumas empresas gigantes da área, outras empresas gigantes que utilizam a área e milhares de pequenas empresas. Além disso, para os empreendedores, é uma área em que empreender é relativamente barato e por isso pipocam novos produtos de internet a cada dia.
6- Gostaríamos que desse dicas, conselhos ou qualquer outro tipo de informação que ajude nossos leitores a decidir seguir (ou não) a sua profissão. Fique a vontade!
Uma frase que sempre falávamos na faculdade é: “Não deixe a faculdade atrapalhar seus estudos”. O curso de Engenharia de Computação é apenas o começo da sua carreira, criando a base para que você se descubra a vá atrás do que realmente gosta.
As possibilidades são infinitas e cabe ao estudante ir atrás do que realmente o encanta. Compiladores, sistemas operacionais, criptografia, gerência de projetos, desenvolvimento de software, criação de novos produtos, vendas, processos etc. Oportunidade é o que não falta para um formado com uma boa base.
Rafael Barbolo Lopes, entretanto, discorda de alguns pontos de Eduardo em relação à diferença de Ciência da Computação e Engenharia de Computação. Veja o que afirmou Rafael:
“Ciência da computação era para ser um curso de ciência com foco em computação. Isso significa que os graduados deveriam ser capazes de evoluir teorias de computação usando os conceitos aprendidos. Por exemplo, seriam capazes de construir novos paradigmas de programação, novos algoritmos, novas linguagens, novas plataformas de computação.
Engenharia da computação era para ser um curso de engenharia com foco em computação. Isso significa que os graduados deveriam ser capazes de aplicar teorias e ferramentas de computação na resolução de problemas.
Colocando de forma simplória: o cientista inventa as ferramentas que o engenheiro usa.
Porém, essa é uma distinção difícil de fazer no campo de computação, pois os conhecimentos necessários para criar novas tecnologias nesta área são próximos dos conhecimentos necessários para aplicar essas tecnologias. Em muitas universidades com currículos acadêmicos avançados, incluindo Stanford e MIT, essa distinção não ocorre. Existem cursos de engenharia elétrica e cursos de ciência de computação, e eles são tratados de formas diferentes.
No Brasil, cada faculdade dá uma abordagem diferente para esses cursos. No caso da Poli-USP, a engenharia de computação, até pouco tempo, era bem generalista e acabava falhando em oferecer conceitos fundamentais de computação na grade obrigatória, como Inteligência Artificial e Algoritmos. Já o curso de computação do IME-USP tem uma abordagem matemática muito forte, o que pode ser desmotivante para quem quer trabalhar na área usando tecnologias.
Os cursos são diferentes porque as faculdades apresentam assim, mas os currículos não são.”
Nós, do portal infoEnem, agradecemos imensamente à turma do blog Bit a Bit, especialmente à Eduardo Russo e Rafael Barbolo Lopes.
Esperamos, com esse artigo, ter sanado pelo menos parte das dúvidas dos nossos leitores que, por uma razão ou outra, se interessam ou pensem em seguir essa fantástica profissão.
Ainda tem dúvida? Segue alguns sites e blogs que, de uma forma ou de outra, trazem ótimas informações sobre Engenharia da Computação. E não se esqueça que sexta-feira que vem vamos falar sobre outra profissão! Alguma sugestão?
http://www.blogdaengenharia.com/category/engenharia/computacao/
http://engcomp-blog.blogspot.com.br/
http://wergeeks.net/tag/engenharia-da-computacao/
http://bloggerdoengenheiro.blogspot.com.br/2010/01/o-engenheiro-da-computacao.html
http://www.guiadacarreira.com.br/artigos/profissao/engenharia-computacao/
http://www.estudarcomputacao.com/