Um dos assuntos mais abordados hoje em dia quando se fala em história é a Segunda Guerra Mundial. Um desastre que marcou o mundo todo de uma maneira nunca antes vista e que teve consequências devastadoras; um dos grandes marcos do período foi o Nazismo (nacionalismo radical defendido por Adolf Hitler, chanceler alemão, cujas ideias giravam em torno da existência de uma raça pura – os alemães/arianos – que deveriam ter seu “espaço vital” garantido para sobreviver, longe de “ameaças” – essas ameaças vinham de grupos como os judeus, que foram alvos de um genocídio liderado pela Alemanha nazista, no que ficou conhecido como O Holocausto). É importante salientar que o intuito desse artigo não é falar sobre a Segunda Guerra Mundial, mas sim sobre seus impactos na obra da filósofa Hannah Arendt, então a explicação do impacto do nazismo foi intencionalmente breve. Voltando a ideia central do texto: o impacto sobre a vida de diversos membros da comunidade judaica foi grande, e uma das pessoas impactadas foi Hannah Arendt.
O filme que dá título a esse texto, conta a história da autora, focando na sua vida pós-Holocausto. Em um primeiro momento somos apresentados ao cotidiano da pensadora, como professora e autora do então recém-lançado “Origens do Totalitarismo”; logo, Hannah, interpretada por Barbara Sukowa, é convidada pelo jornal norte-americano The New Yorker para cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Israel. Eichmann acabava de ser capturado por soldados israelenses em território argentino, e foi levado a julgamento como uma forma de, dentre outras coisas, buscar justiça pelos crimes de guerra nazistas. Chegando ao Estado de Israel, ao contrário do esperado, ela e os demais espectadores e enviados especiais de periódicos mundiais, não encontraram, sentado dentro de um gabinete de vidro, um monstro demoníaco. Durante a cobertura jornalística, Hannah não deixa sua faceta filosófica de lado e, após declarações de Eichmann, a autora pensa na questão que mais tarde seria exposta em seu livro como a “banalidade do mal”; em suma, ela notou uma dualidade na situação, o fato de que Eichmann poderia ser considerado apenas como um indivíduo comum prestando serviços e cumprindo deveres. Havia uma dicotomia antagônica entre a burocracia de executar a tarefa enquanto soldado nazista, e a responsabilidade de estar atentando contra a vida de pessoas. Era como se eles (os nazistas) estivessem executando uma simples tarefa, como dirigir um carro ou secretariar alguém; literalmente, o mal havia se tornado algo banal.
Tal ideia, ao ser defendida por Hannah, é amplamente questionada pela opinião pública ao redor do mundo. Eichmann é condenado a forca em 1962; foi considerado culpado por crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes contra poloneses, eslovenos e ciganos. Além de tudo, Hannah também expôs o quanto parte dos próprios judeus poderia ser considerada culpada pelos horrores do Holocausto Nazista, visto que muitos haviam colaborado com a Gestapo (acrônimo em alemão de Geheime Staatspolizei, a polícia secreta nazista). Com ampla comoção mundial, os resultados das declarações de Arendt escritas ao The New Yorker, se voltam contra a própria autora.
Hannah Arendt nos apresenta uma mulher comum para nosso século, uma mulher que trabalha, que ama, que bebe, que tem amigos e dá altas gargalhadas, sem medo (e sem necessidade) de esconder-se sob o manto do patriarcalismo que segrega, pune e oprime personalidades ilustres como ela. O filme traz consigo uma reflexão importante sobre o ato de filosofar e estar no meio acadêmico, principalmente na condição de mulher: Hannah é um símbolo, um retrato diferente de todas as mulheres que algum dia tiveram que assinar seus escritos com nomes masculinos (cito os casos de Mary Shelley e Ada Lovelace, que publicaram seus textos com abreviações que dariam a entender serem referências a nomes masculinos) ou nem sequer tiveram a oportunidade de assinar o que escreveram. É importante lembrar de Hannah e de mulheres como Hannah, e utilizar a ferramenta cinematográfica para isso é mais importante ainda; afinal de contas, não podemos esquecer, parafraseando Virginia Woolf, que durante muito tempo na história, “anônimo” foi uma mulher.
Agora que sabemos mais sobre Hannah Arendt e a banalidade do mal, vamos resolver uma questão?
Sugestão de material complementar: Veja aqui um trecho do filme
Questão do Enem – 2019
“Essa atmosfera de loucura e irrealidade, criada pela aparente ausência de propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde dos olhos do mundo todas as formas de campos de concentração. Vistos de fora, os campos e o que neles acontece só podem ser descritos com imagens extraterrenas, como se a vida fosse neles separada das finalidades deste mundo. Mais que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos que ele confina que provoca uma crueldade tão incrível que termina levando à aceitação do extermínio como solução perfeitamente normal”.
ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (adaptado).
A partir da análise da autora, no encontro das temporalidades históricas, evidencia-se uma crítica à naturalização do(a):
a) ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais.
b) alienação ideológica, que justifica as ações individuais.
c) cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas.
d) segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos.
e) enquadramento cultural, que favorece os comportamentos punitivos.
Alternativa correta: D.
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