Infalível, neutra e objetiva são realmente atributos das ciências?

Durante a Idade Média o conhecimento humano estava estritamente relacionado aos pressupostos religiosos estabelecidos pela Igreja e a ciência estava diretamente ligada à Filosofia e possuía diversas restrições. No entanto, a partir do século XV, inicia-se a chamada Revolução Científica, responsável por romper com o pensamento religioso e por estruturar um conhecimento mais prático e crítico, pautado em preceitos empiristas para comprovar suas constatações. Esse era o período do Renascimento, no qual almejava-se a volta da cultura greco-romana e defendia-se a mudança do teocentrismo para o antropocentrismo – no qual os seres humanos deveriam ser o centro das atividades e reflexões humanas e não as mais divindades.

As consequências da Revolução Científica foram incontáveis e transformaram profundamente a história da humanidade, uma vez que possibilitaram diversas outras descobertas posteriores. Entre os grandes contribuintes do período, não se deve esquecer de: Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Isaac Newton, René Descartes e outros importantes nomes das ciências.

Conforme a ciência se desenvolvia, novas ferramentas, tecnologias e inquietações afloravam, a maioria delas relacionadas com o desejo de tornar a ciência plenamente objetiva e neutra, ou seja, uma reprodução fidedigna da realidade. Essa preocupação com a objetividade intensificou-se na Idade Moderna, em grande parte por conta do avanço da ciência experimental no âmbito matemático em discrepância à aparente debilidade da Filosofia, compreendida como uma arena de infindáveis discussões, as quais, para os cientificistas, não podem ser testadas ou comprovadas a fim de alcançar conclusões.

Posteriormente, com o advento do Positivismo, em especial o oriundo de Auguste Comte, a noção de objetividade se consolidou, passando a ser uma característica indispensável às produções científicas. Assim, iniciou-se uma valorização à objetividade, a qual pode ser compreendida em uma relação inversamente proporcional à subjetividade do pesquisador, isto é, quanto menor a subjetividade envolvida no processo de produção do conhecimento, maior será a objetividade da descoberta feita.

Juntamente com a ascensão da ciência objetiva, surgem proposições acerca da neutralidade da ciência – entendida como outro fator elementar às descobertas – a qual corresponde à imparcialidade do pesquisador durante seus trabalhos, devendo estes ser isentos de juízos de valor, tendências políticas ou crenças religiosas de quem os desenvolveu.  

Com esses “pré-requisitos” atendidos, a ciência estaria praticamente à salvo de falhas, uma vez que seria uma reprodução quase perfeita da realidade e dos fenômenos existentes.

Figura reproduzida do site: https://oficina-de-filosofia.blogspot.com/2013/04/o-mito-do-cientificismo.html

Será que a ciência é mesmo neutra, infalível e objetiva? A simples observação de um fato, mesmo simples, pode gerar variadas perspectivas. É por este motivo que as evidências são tão importantes à ciência, pois quanto mais provas, mais válidas se tornam as teorias, afastando, assim, a subjetividade. Desta maneira, os cientistas e pesquisadores devem estar em um constante processo de aprofundamento de suas teorias e, caso necessário, de reformulação, uma vez que para se chegar no resultado correto existe um longo processo de estudo que depende dos recursos e da tecnologia disponíveis. Por exemplo, acreditava-se que o átomo era indivisível, mas, após novas descobertas, foi proposto que ele possuía núcleo e elétrons; com o passar dos anos, percebeu-se que o próprio núcleo poderia ser dividido em nêutrons e prótons; e pesquisas ainda mais recentes falam sobre a existência de partículas ainda menores, chamadas quarks, que compõem os nêutrons e os prótons. Ou seja, as verdades não são eternas e a ciência não é infalível. Toda descoberta depende das tecnologias, dos estudos e das condições existentes, logo, podem ser refutadas após a evolução desses fatores.

Figura reproduzida do site: https://resumos.soescola.com/filosofia/o-que-e-ciencia/

Além disso, a forma como se pensa e escreve, a escolha da metodologia e até a hipótese que suscitou a pesquisa são condicionadas pelas particularidades de cada sujeito e, consequentemente, da cultura e da época ao qual ele está inserido. Mesmo que seja de maneira sutil, é possível perceber traços culturais que influenciam o processo científico, o que pode acabar condicionando os resultados e, assim, retirando-lhes sua objetividade. Um exemplo disso são as teorias que deram origem à Antropologia, as quais defendiam uma espécie de “determinismo racial”, ou seja, as características físicas dos grupos étnicos eram misturadas com os aspectos comportamentais e psicológicos com o intuito de justificar as violentas desigualdades raciais, responsáveis por genocídios e atrocidades, como a escravidão. Tais ideias decorriam de observações empíricas – como o tamanho do crânio – mas não eram científicas, objetivas e menos ainda neutras, eram justamente o contrário, pois essas interpretações eram produto da mentalidade social da época que compreendia os negros como inferiores. Logo, as conclusões feitas pelos cientistas eram apenas reflexos dos preconceitos presentes na sociedade. Portanto, a ciência nem sempre é objetiva ou neutra e pode, muitas vezes, servir para projetos políticos de cunho preconceituoso e autoritário, como foi o caso das teorias eugenistas que sustentavam ideologicamente o governo de Hitler na Alemanha.

Mesmo com esses problemas, a ciência ainda é a melhor invenção e meio humano de evolução. Ela possibilita a criação de vacinas, tratamentos para doenças, aparelhos eletrônicos para facilitar a vida dos indivíduos e, no ramo das ciências humanas, faz análises críticas do passado e do presente para, assim, possibilitar a construção de um futuro melhor, mais justo e democrático, além de tantas outras contribuições.

Questão – Enem 2019

O conhecimento é sempre aproximado, falível e, por isso mesmo, suscetível de contínuas correções. Uma justificação pode parecer boa, num certo momento, até aparecer um conhecimento melhor. O que define a ciência não será então a ilusória obtenção de verdades definitivas. Ela será antes definível pela prevalência da utilização, por parte dos seus praticantes, de instrumentalidades que o campo científico forjou e tornou disponíveis. Ou seja, cada progressão no conhecimento que mostre o caráter errôneo ou insuficiente de conhecimentos anteriores não remete estes últimos para as trevas exteriores da não ciência, mas apenas para o estágio de conhecimentos científicos historicamente ultrapassados.

 ALMEIDA, J. F. Velhos e novos aspectos da epistemologia das ciências sociais. Sociologia: problemas e práticas, n. 55, 2007 (adaptado).

O texto desmistifica uma visão do senso comum segundo a qual a ciência consiste no(a)

a) Conjunto de teorias imutáveis.

b) Consenso de áreas diferentes.

c) Coexistência de teses antagônicas.

d) Avanço das pesquisas interdisciplinares.

e) Preeminência dos saberes empíricos.

A alternativa correta é a letra A.

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