La Casa de Papel, Marx e o ENEM

Parece complicado unir esses três temas? Não é! O lançamento da nova temporada da série La Casa de Papel, é um dos assuntos mais comentados atualmente, e mesmo que pareça impossível de perceber, debaixo de todas as cenas de ação, a série esconde algumas críticas sociais que podem ser conectadas com abordagens de Karl Marx.

Fonte: https://66.media.tumblr.com/e39dc6e24e3d651577d5210 ade03aacc/d4d81ef6fbdfe62d-f1/s640x960/1d0f063580d0097e0fe430c3d1cddee5c9db9cc4.gif

A série

Disponibilizada pela Netflix em 2017, a trama tornou-se um sucesso no mundo todo rapidamente. Abordando o planejamento e a aplicação de um grande assalto à Casa da Moeda da Espanha, os capítulos acompanham as histórias de diferentes personagens – desde os complexos assaltantes até alguns policiais. O plano do assalto é elaborado pelo personagem intitulado “Professor” e colocado em prática por assaltantes que ingressaram ao grupo por não terem nada a perder; no início da série não temos acesso aos verdadeiros nomes dos personagens, e para evitar spoilers, vamos ater-nos a isso. Os assaltantes ficam conhecidos pelo público apenas como Tóquio, Rio, Berlim, Nairóbi, Moscou, Denver, Helsinki e Oslo, na primeira temporada. Todos eles fazem parte de camadas desfavorecidas da sociedade, e por isso a busca por autonomia financeira é decisiva para que possam ingressar no plano; no meio do assalto, com toda a sociedade da trama vidrada nos movimentos do grupo, eles decidem ter ações muito ligadas ao espírito de Robin Hood – ou seja, roubar dos ricos para dar aos pobres. Ao literalmente jogarem dinheiro para a população, em mais de uma cena, os assaltantes fazem com que a opinião pública se volte para eles ao questionarem: por que a riqueza é destinada apenas para alguns? Por que ela fica concentrada para poucos? E é aqui que partimos para Karl Marx.

Karl Marx e a temática da distribuição desigual da renda

Nascido em 1818, na Alemanha (então Prússia), o teórico é citado até hoje em todo o mundo. Dentre todas as ideias de Marx, vamos focar em uma: a de distribuição de renda. Para o autor, a distribuição do que se produz no capitalismo não tem tendência a ser equivalente; isso porque, pessoas que não participaram diretamente do processo de produção de um bem (ou seja, o dono daquele meio de produção), e não utilizaram ou venderam sua força de trabalho para o desenvolvimento de tal bem (como os trabalhadores), irão se apropriar de uma parte do que foi produzido. Em outras palavras, por mais que não venda sua força de trabalho diretamente para a produção de um bem, como os proletários, o dono do meio de produção tem retornos financeiros para si sobre a produção desse bem, sempre com um lucro maior do que o obtido pelo proletário que vendeu sua força de trabalho. Sendo assim, há um distribuição nitidamente distorcida dos lucros, do capital, que se direcionam em maior parte para os mais ricos, e não para os mais pobres. Essa é uma das críticas trazidas à tona pela série La Casa de Papel: os mais marginalizados deveriam ter acesso à riqueza, tanto quanto as camadas privilegiadas da sociedade; por tudo isso, o roubo se orquestra de maneira tão teatral e mexe tão profundamente com a opinião pública e com as camadas sociais mais massificadas, o povo. Essas pessoas se solidarizam, em diversas partes da série, com os assaltantes, por conta da postura assumida por eles de “dividirem o pão”, ou simplesmente distribuírem o dinheiro roubado da Casa da Moeda à população.

A revolução de Marx

Claramente, Marx não dizia que os proletários deveriam roubar, mas que condições mais igualitárias deveriam existir. Resumidamente, a desigualdade social, condicionada ainda mais pelo sistema capitalista e dividindo a sociedade entre proletariado e burguesia, devia ser extinta por meio de uma revolução proletária e pelo extermínio da propriedade privada dos meios de produção. Na fase inicial posterior à revolução, haveria um processo para a eliminação dos resquícios da antiga sociedade burguesa, e em seguida, os Estados que fossem condicionados a revolução proletária iniciariam o processo de implementação do comunismo. Na experiência comunista idealizada por Marx, a sociedade experimentaria o fim do Estado, e uma verdadeira autogestão da produção e dos serviços, em uma estrutura que respeitaria as diferenças, mas que continuaria sendo igualitária. Quem diria que cultura pop e sociologia combinavam tanto?

Veja a seguir uma questão do Enem que ilustra o assunto abordado. A questão a seguir foi retirada da prova do Enem de 2019.

A fome não é um problema técnico, pois ela não se deve à falta de alimentos, isso porque a fome convive hoje com as condições materiais para resolvê-la.”

PORTO-GONÇALVES, C. W. Geografia da riqueza, fome e meio ambiente. In: OLIVEIRA, A. U.; MARQUES, M. I. M. (Org.). O campo no século XXI: território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Casa Amarela; Paz e Terra, 2004 (adaptado).

O texto demonstra que o problema alimentar apresentado tem uma dimensão política por estar associado ao(à)

a) escala de produtividade regional.

b) padrão de distribuição de renda.

c) dificuldade de armazenamento de grãos.

d) crescimento da população mundial.

e) custo de escoamento dos produtos.

Alternativa correta: Letra B!

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