Muitas vezes ouvimos dos professores de redação que não é adequado repetir os termos no texto, mas o que podemos fazer para que isso não aconteça?
Vejamos estas duas canções:
Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil (…)
In https://www.vagalume.com.br/marchinhas-de-carnaval/cidade-maravilhosa.html
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo – aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço!(…)”
In https://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/aquele-abraco.html
Tanto André Filho, quanto Gilberto Gil fizeram homenagens à antiga capital do Brasil em suas obras, mas nem o primeiro compositor, nem eu empregamos as mesmas palavras que Gil para fazermos referência à cidade. Nós empregamos uma figura de linguagem, bastante útil para seguir a recomendação dos professores. É a chamada perífrase!
Perífrase é, portanto, uma figura de linguagem que consiste na substituição de um termo por uma expressão mais longa, que serve para transmitir a mesma ideia. Em geral, as expressões substitutas são bastante conhecidas e costumam ser facilmente associadas às substituídas, pois carregam atributos do conceito em questão ou dizem respeito a uma característica distintiva, típica dele ou a um fato que o tornou célebre. Como ocorre abaixo:
- A terra da garoa inspirou e ainda inspira muitos artistas.
Nessa frase, “terra da garoa” está substituindo a cidade de São Paulo. - O Velho Chico dá vida ao sertão.
“Velho Chico” é o termo carinhosamente empregado para fazer referência ao Rio São Francisco.
Vejamos mais alguns exemplos:
- O país do sol nascente – Japão
- A terra dos faraós – Egito
- A cidade eterna – Roma
- A Idade das Trevas – Idade Média
- A indesejada das gentes – morte
- A última flor do Lácio – língua portuguesa
- O Astro Rei – Sol
- O Rei dos Animais – leão
Podemos empregar o mesmo procedimento para evitar a repetição de nomes de pessoas. Nesse caso, termos a antonomásia, uma forma de perífrase aplicada aos nomes próprios, usando expressões formadas por substantivos comuns.
O único entrave para a utilização dessas figuras é que elas só funcionam se as expressões substitutas forem conhecidas pelos receptores (leitores ou ouvintes), pois essas expressões apresentam também um caráter metonímico. Assim, aumentar o conhecimento de mundo (lendo, assistindo a filmes, acessando cultura de modo geral) será útil para compreender melhor as referências.
Vejamos alguns exemplos de antonomásia:
- O Salvador, o Nazareno, o Redentor, O Divino Mestre – Jesus Cristo
- O Herói das Termópilas – Leônidas.
- O Pai da Medicina – Hipócrates.
- O Bruxo do Cosme Velho – Machado de Assis
- O Poeta dos Escravos – Castro Alves.
- O Boca do Inferno – Gregório de Matos
- O Bardo – Shakespeare
- O Cavaleiro da Triste Figura – Dom Quixote de La Mancha
- O Patriarca da Independência – José Bonifácio
- O Águia de Haia – Rui Barbosa.
- O Pai da Aviação – Santos Dumont
- O Poeta da Vila – Noel Rosa
- O Rei do Cangaço – Lampião
- A Dama de Ferro – Margaret Thatcher
- O Rei do Rock – Elvis Presley
- Rei do Pop – Michael Jackson
- O Cavaleiro das Trevas – Batman
- O Menino Prodígio – Robin
E, na certeza de ter contribuído um pouco para aumentar os conhecimentos sobre a Última Flor do Lácio, despeço-me por hoje.
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!