Esta semana, alguns alunos comentaram, em sala de aula, algumas particularidades ortográficas que observaram ao ler “Mayombe”, obra do angolano Pepetela, a qual está presente na lista de obras da Fuvest. Entre elas, além da variante geográfica (recheada de contribuições dos dialetos locais ao português de Angola), eles observaram variação na grafia dos ‘porquês’.
Observemos então como devemos empregar aqui no Brasil, que nos interessa mais de perto, já que a correção ortográfica é observada na 1ª competência da correção do Enem:
- Por que (separado) – nas frases interrogativas (diretas – com ponto de interrogação, ou indiretas – com ponto final, mas com um questionamento implícito), ou quando pode ser substituído por “pelo qual” e suas variações:
Por que não fizeram a redação?
Eu gostaria de saber por que não fizeram a redação.
O caminho por que (= pelo qual) eles vieram é muito acidentado.
Dica! Será separado na interrogativas, quando pudermos acrescentar a palavra ‘razão’ após o ‘por que’:
Por que Física é tão difícil? (= Porque razão Física é tão difícil?)
- Por quê (separado e com acento) – no final de frase interrogativa.
Por que não fizeram a redação?
- Porque (junto) – usado para frases afirmativas (explicativas ou causais). É o famoso ‘porque da resposta’, mas não gosto dessa explicação, pois nem sempre há uma pergunta explícita.
Não fizeram a redação porque não sabiam que valia nota.
- Porquê (junto e com acento) – quando for uma palavra substantivada, precedida de artigo (ou outro determinante)
Precisamos entender o porquê dos acontecimentos históricos.
O criador da personagem Armandinho organizou direitinho os quatro casos na tirinha abaixo:
Já a grafia do “porquê” em Portugal é diferente da usada no Brasil. Vejamos (mas só a título de curiosidade, para não haver estranhamento ao ler obras em português de Portugal!!!):
1 – Escreve-se porque
a) Quando é advérbio interrogativo (na interrogativas diretas, com ponto de interrogação, e indiretas):
Porque não saíste conosco?
Explica porque faltaste à aula.
b) Quando é conjunção causal ou explicativa:
Não saia agora, porque está a chover.
c) Quando é conjunção final, equivalente a para que, a fim de que, para: “Manda dous mais sagazes, ensaiados/ Porque notem dos mouros enganosos/ A cidade e poder, e porque vejam/ Os Cristãos, que só tanto ver desejam” (Os Lusíadas, II, 7).
2 – Escreve-se por que:
a) Quando por é preposição e que é pronome relativo (isto é, por que = pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais).
Os ideais por que (pelos quais) luto são nobres.
3- Porquê
Escreve-se porquê, quando é advérbio interrogativo (o do final da pergunta) ou é substantivo:
a) Advérbio interrogativo:
Foste embora cedo da festa porquê?
b) Substantivo.(igual ao nosso) quando significa causa, motivo, razão, como na frase seguinte:
Precisamos de investigar o porquê dos fatos.
Uma das muitas críticas ao Acordo Ortográfico, tanto lá quanto cá, foi a não uniformização de algumas situações, como a grafia dos ‘porquês’.
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!
2 comments
Os portugueses não falam “ora, pois”, e escrevem “connosco” (com dois enes), o resto parece-me correto.
Acordo ortográfico não serve para nada, todos sabemos!
Não entendo por que não foi unificado os porquês tanto daqui como de Portugal. Houve um vacilo geral e imperdoável da ABL.
O correto seria, segundo Rocha Lima, usar-se porque em perguntas diretas e não por que como usamos.