Os termos considerados essenciais para a estruturação dos períodos são o sujeito e o predicado. Entende-se por sujeito o ser sobre quem a frase declara algo e por predicado aquilo que se declara a respeito do sujeito. Essa é, de modo geral, a definição encontrada nas gramáticas.
Após a definição, essas obras apresentam a classificação do sujeito: simples, composto, oculto (ou elíptico ou desinencial), indeterminado e inexistente. E aí começa o ‘nó’ – existe um sujeito inexistente!
As gramáticas mais preocupadas com a lógica evitam a denominação ‘sujeito inexistente’, preferindo denominar o enunciado como oração sem sujeito. Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa, afirma que o único elemento indispensável nos enunciados é o verbo, o qual é a base de uma relação predicativa (sujeito + predicado). Mas afirma também que pode haver uma relação referida a um sujeito, e nesse caso a oração apresenta um sujeito (explícito ou não) e uma relação não-referida, ou seja, a informação do predicado não diz respeito a um sujeito.
Nos casos de oração sem sujeito, o verbo deverá, então estar flexionado na 3ª pessoa. Vamos no lembrar dos elementos da comunicação: o emissor é a 1ª pessoa; o receptor é a 2ª pessoa; e a 3ª pessoa é o referente ou assunto, é uma ‘não- pessoa’, nas palavras de Bechara: “(…) é a não-eu nem meu interlocutor, e assim é a forma utilizada para indicar a relação predicativa não-referida, isto é, as orações sem sujeito.”(na obra citada, p.408) E os verbos dessas construções são classificados como verbos impessoais, já que não estão relacionados nem ao emissor, nem ao receptor das mensagens.
Na prática, teremos oração sem sujeito quando o enunciado apresentar:
- Verbo HAVER, no sentido de existência, ocorrência ou indicação de tempo passado:
Eu nasci / há dez mil anos atrás / e não tem nada nesse mundo / que eu não saiba demais (https://www.vagalume.com.br/raul-seixas/eu-nasci-ha-dez-mil-anos-atras.html ) (lembrando que aqui ocorre um pleonasmo por causa do acréscimo do termo ‘atrás’) - Verbo FAZER, indicando tempo:
Faz 3 noites que eu não durmo
Pois perdi o meu galinho
Coitadinho o la lá
Pobrezinho o la lá
Eu perdi lá no jardim
(https://www.vagalume.com.br/palavra-cantada/meu-galinho.html )
Verbos que indicam fenômenos da natureza:
Chove lá fora e aqui, tá tanto frio (https://www.vagalume.com.br/lobao/me-chama.html ) - Verbo SER indicando horas, data ou distância (nestes casos o verbo pode estar no singular ou no plural, de acordo com as quantidades):
São três horas da manhã, você me liga
Pra falar coisas que só a gente entende (https://www.vagalume.com.br/ira/telefone.html )
Era 1º de abril e as brincadeiras aconteciam em todo lado.
Daqui até a praça são 200 metros.
A linguagem coloquial nem sempre observa essas regras gramaticais e é frequente o emprego do verbo TER no lugar do HAVER, como ocorre nestas canções:
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
(https://www.vagalume.com.br/chico-buarque/roda-viva.html )
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
(https://www.vagalume.com.br/chico-buarque/gente-humilde.html )
É um emprego que pode ocorrer apenas em situações informais de comunicação, portanto cuidado na hora de fazer as redações!
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso sistema de correção de redação e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora é colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!