Orações condicionais – sobre a dupla de conjunções “se/caso”

Norma culta e seu antigo debate

Entre os diversos mecanismos que podemos empregar em um texto dissertativo para reforçar a persuasão está a condição, expressa por estruturas que, na análise sintática, classificamos como orações subordinadas adverbiais condicionais. As mães são especialistas em empregar essas estruturas… Quem nunca ouviu “Você só vai sair SE arrumar seu quarto!”

As orações subordinadas adverbiais condicionais, como as coordenadas, as subordinadas substantivas e outras subordinadas adverbiais, são iniciadas (quando são desenvolvidas) por conjunções ou locuções conjuntivas, e as mais usuais são o ‘se’ e o ‘caso’. É frequente, entretanto, ouvirmos um ‘reforço’ inadequado na indicação da condição: algumas pessoas empregam essas duas conjunções ao mesmo tempo, resultando em duas impropriedades: a redundância, uma vez que um conectivo apenas basta para expressar a relação semântica de condição; e um problema de inadequação de tempos verbais.

O emprego redundante pode, talvez, ser ocasionado pela audição distraída de uma estrutura que aparece, por exemplo, na música Folhetim, de Chico Buarque:

“Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim (…)”
(https://www.letras.mus.br/chico-buarque/85968/ )

Aparece também empregada por Lupicínio Rodrigues:

“Se acaso você chegasse
No meu chatô encontrasse aquela mulher
Que você gostou
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já te abandonou(…)”
(https://www.vagalume.com.br/lupicinio-rodrigues/se-acaso-voce-chegasse.html )

E o Wesley Safadão, para minha surpresa (só porque ele não faz parte da minha lista de artistas preferidos), também contribuiu com um bom exemplo:

“(…)Eu vou pagar pra ver até onde esse amor vai dar
Só tente lembrar, enquanto durar
Eu vou te amar intensamente
Se acaso acontecer, amanhã você me deixar(…)
Não vá se culpar, já tô preparado
Que na vida nem tudo é pra sempre”
(https://www.vagalume.com.br/wesley-safadao/eu-vou-pagar-pra-ver.html )

A proximidade sonora e gráfica do advérbio acaso com a conjunção caso pode ser a fonte desse problema de redundância. Nos exemplos das canções, o emprego está correto: temos uma conjunção seguida de um advérbio de dúvida, por isso, é preciso cuidado com a pronúncia e com a grafia nessas construções.

No segundo caso, o problema é que cada uma dessas conjunções exige os verbos em tempos diferentes. Empregando a conjunção SE, o verbo deverá aparecer conjugado no Futuro do Subjuntivo:

  • Se você trouxer os ingredientes, faremos o bolo. (sem esquecer que esse tempo requer atenção quando empregamos verbos irregulares)

E, ao empregarmos a conjunção CASO, o verbo deverá estar no Presente de Subjuntivo:

  • Caso você traga os ingredientes, faremos o bolo.

E lembre-se de que “Se caso… não fico solteira(o)!”

Portanto NÃO use “Se caso chover”, nem “Se caso chova”… O adequado é “Se chover” ou “Caso chova”!

Até a próxima semana!

 


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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1 comment
  1. O mesmo ocorre com as coordenativas adversativas
    As pessoas dizem ‘mas porém’, ‘mas contudo’, ‘mas todavia’, ‘mas entretanto’, ‘mas no entanto’ e outras dizem ‘só que porém’ ou até mesmo ‘mas só que porém’. Isso é redundância.
    Uma conjunção já é o bastante para ligar duas orações.

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