Rodrigues Alves foi o quinto presidente do Brasil após a Proclamação da República em 1889, seu governo foi de 1902 a 1906 e tinha apoio da oligarquia cafeeira. Antes de assumir a presidência era um fazendeiro paulista, formado em direito e que foi Ministro da Fazenda dos governos Floriano Peixoto (1891-1892) e Prudente de Morais (1895-1896).
Seu governo foi marcado pela reurbanização – principalmente no Rio de Janeiro, que na época era a capital do Brasil –, e pelo saneamento básico, pois havia acúmulo de lixo pelas ruas e proliferação de diversas doenças, como a febre amarela, a peste bubônica e varíola.
Nesse período o Rio de Janeiro passava por uma profunda transformação devido a chegada de imigrantes, que faz a população crescer de 266 mil para 730 mil habitantes entre o período de 1872 a 1904, e também por conta da Abolição da Escravidão (1888). Assim, o resultado da transformação urbana de Rodrigues Alves envolveu o desmonte de morros, a derrubada de casas e cortiços, juntamente com uma política de “embelezamento” pautada no alargamento de ruas e na construção de linhas de bonde. Essa política de gentrificação levou ao deslocamento de parte da população do centro para o subúrbio, fazendo com que surgissem as favelas.
Durante essa Bélle Époque Brasileira, Rodrigues Alves percebeu que a parte sanitária também era parte fundamental de seu objetivo de transformação, assim nomeou para a direção da Saúde Pública o médico Oswaldo Cruz, que assumiu em 1903 e ficou no cargo até 1909.
Oswaldo instituiu o Serviço de Profilaxia Específica de Febre-Amarela, uma verdadeira brigada sanitária composta por guardas “mata-mosquitos” que iam às casas, acompanhados por soldados que aplicavam multas e até obrigavam os donos das casas a reformá-las ou, em casos graves, demoli-las.
Além disso, no período o Rio enfrentava também a peste bubônica e uma das medidas da Diretoria de Saúde Pública foi comprar ratos: para cada animal morto apresentado, pagava-se a quantia de duzentos réis, gerando até o surgimento da profissão de “ratoeiro”. Com esses e outros esforços de Oswaldo Cruz o índice de 48,74 mortes para cada 100 mil habitantes em 1903, despencou para 1,73 em 1909.
No entanto, ainda faltava enfrentar a varíola, que em 1904 já causava milhares de internações, assim Oswaldo Cruz pediu que enviassem ao Congresso Nacional um projeto de lei para resgatar a obrigatoriedade da vacinação, para a qual já havia uma lei em vigor desde 1837, mas que nunca havia sido aplicada.
Figura reproduzida do site: https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2
Os habitantes do Rio e os jornais e políticos protestavam contra essa medida “despótica e ameaçadora”, pois estranhos aplicariam as vacinas e entrariam em suas casas para desinfecção. A isso se somava o boato de que quem tomasse a vacina ficaria com “feições bovinas”, pois a vacina era feita com líquido de pústulas de vacas doentes.
Diante disso, fundou-se em novembro de 1904, a Liga Contra a Vacina Obrigatória e, poucos dias depois, estudantes e trabalhadores se reuniram no Largo de São Francisco, acirrando a rebelião popular, conhecida como Revolta da Vacina, com embates com a polícia, destruição de bondes e muitos lampiões da iluminação pública, daí o apelido Quebra Lampiões atribuído ao movimento.
Em paralelo a isso houve um movimento militar orquestrado pelos generais nesses mesmos dias de novembro de 1904 com o objetivo de derrubar o governo de Rodrigues Alves, mas sem sucesso. O general Travassos liderou, no mesmo dia, a marcha dos alunos da Escola Militar com destino ao Palácio do Catete e lá trocaram tiros com soldados enviados pelo governo. A Escola Militar foi bombardeada durante a noite por navios de guerra na baía de Guanabara e foi ocupada pelos ministros da Guerra e da Indústria. No dia seguinte, foi decretado estado de sítio e revogada a obrigatoriedade da vacinação. Com isso, o movimento popular foi apaziguado.
Assim como durante a Revolta da Vacina houve uma série de questionamentos à legislação e às decisões do governo, durante a pandemia do coronavírus, que surgiu em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan (China), o mesmo foi observado no Brasil. Se antes o medo era de feições de bovinos, agora se falava sobre “virar jacaré” e se desrespeitava as restrições da quarentena imposta a partir da lei 13.979 de fevereiro de 2020.
Figura reproduzida do site: https://jeonline.com.br/noticia/23887/vacinas-15
Outras medidas “despóticas e ameaçadoras” foram o uso obrigatório de máscaras, a aplicação de multas em caso de sua não utilização bem como a instituição de lockdown com o fechamento dos comércios, escolas e de serviços não essenciais, gerando insatisfação na população e um conflito de prefeitos e governadores com o governo federal.
O problema é que se passou um século desde a Revolta da Vacina e no Brasil de hoje ainda se observa um movimento negacionista com obscurantismo religioso e teorias da conspiração, ou ainda com campanhas como “O Brasil não pode parar”, que foi lançada pelo governo federal e que contraria cientistas e o próprio Ministério da Saúde, campanha esta que foi interrompida oficialmente pelo poder judiciário pois escolhia salvar a economia ao invés de vidas.
Analisando os dois episódios pode-se concluir que os conflitos que existem em relação ao cumprimento das normas sanitárias de epidemias vêm de situações mais complexas do que a própria regra em si e, assim, envolvem estruturas sociais e políticas, saúde e economia. Mas nesse momento mais do que nunca a educação e a ciência se fazem e se mostram fundamentais não só pela descoberta da vacina, mas por serem a única chance contra as fakenews e o genocídio.
Indice
Questão
(ENEM 2019) A Revolta da Vacina (1904) mostrou claramente o aspecto defensivo, desorganizado, fragmentado da ação popular. Não se negava o Estado, não se reivindicava participação nas decisões políticas; defendiam-se valores e direitos considerados acima da intervenção do Estado.
CARVALHO, J. M. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Cia. das Letras, 1987 (adaptado).
A mobilização analisada representou um alerta, na medida em que a ação popular questionava:
a) alta de preços;
b) A política clientelista;
c) As reformas urbanas;
d) O arbítrio governamental;
e) As práticas eleitorais.
A alternativa correta é a letra D.
Acesse o portal InfoEnem e tenha acesso aos melhores conteúdos e informações sobre o Enem 2021!
Por quê, Porquê, Porque e Por que: aprenda a diferença entre cada um para não errar no Enem!
A língua portuguesa é de fato muito rica e por isso traz um grande número de possibilidades para algumas palavras e isso, às vezes, pode causar dúvidas aos falantes de seu idioma. Uma dessas dúvidas mais comuns está ligada ao uso dos “porquês”. Na fala não há motivo nenhum para preocupação, mas na hora da escrita em norma padrão quase sempre é feita uma consulta para saber a diferença entre um e outro e não fazer feio no texto.
https://infoenem.com.br/por-que-porque-porque-e-por-que-aprenda-a-diferenca-entre-cada-um-para-nao-errar-no-enem/
O que é SiSU?
É o sistema informatizado do MEC por meio do qual instituições públicas de ensino superior (federais e estaduais) oferecem vagas a candidatos participantes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
https://infoenem.com.br/como-funciona-o-sisu/