Panorama do conflito entre Rússia e Ucrânia

Nenhum fato histórico acontece isolado em um vácuo, tudo que ocorre é resultado e componente do processo histórico – processo este que implica turbidez entre fronteiras de passado e presente, uma vez que o presente é constituído, justamente, pelo acúmulo de passados materializados no espaço geográfico. Logo, a compreensão de qualquer fenômeno, localizado em tempo e espaço específicos, só é possível se direcionarmos nossos rostos para trás, atentando-nos ao que fez o presente ser como é, às determinações que o moldaram e às contradições que o confrontam. Tal como aponta-nos o filósofo Walter Benjamin (1892-1940), ao explicar o movimento do processo histórico a partir de uma famosa obra de Paul Klee:

“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso. “ (BENJAMIN, 1940)

Angelus Novus (em português, “anjo novo”), desenho a nanquim, giz pastel e aquarela sobre papel, feito por Paul Klee em 1920.

Como foi dito, para se entender determinada situação é necessário levar em consideração os acontecimentos passados acumulados que a conformam e determinam, não se pode simplesmente condenar as ações de um governo sem levar em consideração os interesses políticos, econômicos, sociais, internacionais, nacionais, de classe etc. Uma crise, como a que está acontecendo entre a Rússia e a Ucrânia, possui diferentes fatores, entrelaçados e misturados, que precisam ser considerados para que se compreenda o problema em sua totalidade. Neste sentido, deve-se ter em mente os seguintes elementos:

Existe uma relação de longa duração histórica entre Rússia e Ucrânia: ao longo dos séculos ocorreram diversas aproximações e afastamentos entre as regiões que hoje são chamadas de Rússia e Ucrânia. O próprio processo de cristianização e de abertura às influências bizantinas nos séculos XII e XIII – sucedido por outros processos políticos e sociais, como a alfabetização e elaboração de um código legal –, responsável por algum grau de homogeneização dos povos da região, aumenta a proximidade cultural, linguística e religiosa; mas também aumenta a fragmentação política, uma vez que há a disputa pelo poder pelos príncipes dessas regiões.

Com o fim da União Soviética e do Pacto de Varsóvia, em 1991, Gorbachev, premiê soviético da época, fez um acordo com lideranças da OTAN e dos Estados Unidos, as quais se comprometeram a não expandir as bases militares da OTAN ao Leste europeu. No entanto, o acordo não foi cumprido, diversas ex-repúblicas soviéticas entraram na OTAN, que continuou se expandindo para o Leste, como é possível observar no mapa abaixo:

Imagem reproduzida da página História Cabeluda, do historiador e professor Gustavo Nassar Gaiofato.

Após o fim da União Soviética, emergem dois polos políticos na Ucrânia: os azuis (defensores de uma “Ucrânia única”, unilinguística e mais próxima da Europa) e os laranjas (a favor da Ucrânia como um país multiétnico e multilinguístico). O presidente Viktor Yanukovitch pendia mais à segunda tendência e buscava manter o equilíbrio entre o Ocidente e a Rússia, mas, após uma aproximação econômica com a Rússia, o oeste ucraniano, alinhado com os azuis, marcado por uma forte xenofobia contra os russos e impulsionado por um sentimento de ameaça à soberania nacional, inicia, em 2013-2014, protestos ultranacionalistas, apropriados por grupos paramilitares neonazistas, para derrubar Yanukovitch.

Este amontoado de protestos ficou conhecido como Euromaidan e foi exitoso em seu objetivo de depor o presidente. Assim, assume o poder um governo apoiado por grupos neofascistas – que proíbe organizações comunistas, adota uma política xenofóbica contra os russos e se aproxima da OTAN. Todavia, algumas regiões do país, como Donetsk e Lugansk, formadoras do Exército Popular de Donbass, não reconhecem o novo governo, em decorrência de discordâncias de cunho cultural, político e religioso, e proclamam sua independência através de um referendo democrático. Com isso, inicia-se uma guerra civil na região de Donbass, que já dura 8 anos e conta com mais de 14 mil mortos.

Inicialmente, o governo Putin não reconheceu a independência de Donetsk e Lugansk e buscou um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia em 2014. Os acordos ou protocolos de Minsk – firmados entre representantes da Rússia, Ucrânia, da Organização de Segurança e Cooperação da Europa (OSCE) e líderes das duas regiões separatistas pró-russas –   previam uma relativa autonomia política e cultural à criação de governos locais em Donetsk e Lugansk e diversos outros elementos de apaziguamento diplomático entre a Rússia e a Ucrânia. No entanto, com fortes investidas dos Estados Unidos e da OTAN, o governo ucraniano desrespeitou o acordo e seguiu investindo contra as regiões dissidentes e de etnia russa.

– O governo Biden, visando a substituição do fornecimento de gás à Europa pela Rússia pelo gás estadunidense e o aumento de sua influência sobre a região, alimenta a tensão entre os países através do flerte de inserção da Ucrânia na OTAN. Como resposta, Putin reconhece a independência de Lugansk e Donestsk e exige o fim da expansão da OTAN ao Leste e, portanto, a não entrada da Ucrânia na Organização. Com o aumento da tensão do conflito, derivada das constantes investidas políticas dos Estados Unidos e da instabilidade da questão de fornecimento de gás à Europa, Putin respondeu agressivamente e iniciou uma operação militar na Ucrânia, marcada por explosões, veículos militares cruzando a fronteira, estragos causados por mísseis e pessoas feridas.

Estas são apenas informações iniciais sobre um conflito extremamente contraditório e difícil de caracterizar, uma vez que a crise entre os países é complexa, atravessada por diferentes atores e interesses e pode gerar consequências catastróficas. O fato é que são os habitantes desses países, sua massa de trabalhadores e trabalhadoras, crianças e idosos que realmente sofrem com os danos da guerra. Uma saída diplomática deveria ser o horizonte dos governantes, mas os interesses econômicos e políticos se sobrepõem às preocupações sociais. Além da guerra concreta assombrando o Leste europeu, há a guerra ideológica perpassando os veículos midiáticos, sendo assim, informar-se também é uma forma de defesa.

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