“Para eu ou para mim”? – uso de pronomes com preposições

Ao escrever o título do texto de hoje, o próprio Word ficou incomodado com a expressão ‘para eu’ e ‘ameaçou’ mudar o que eu havia escrito… Como ele pensou?

Bem, ele foi “alimentado” com uma gramática básica que diz o seguinte: após preposições deve-se empregar pronomes oblíquos tônicos. E o que são esses pronomes?

Vamos do início:

Chamamos de pronome à classe de palavras que podem substituir (ou acompanhar, ou modificar ou retomar) os nomes (substantivos) relacionando-os às pessoas do discurso (1ª pessoa = emissor; 2ª pessoa = receptor; 3ª pessoa = referente ou assunto da comunicação).
Os pronomes denominados pessoais são estes:

Pessoa Pronomes
Retos
Pronomes
Oblíquos
Singular Eu Me,
mim, comigo
Tu Te,
ti, contigo
Ele/ela Se,
si, consigo, o, a, lhe, ele
Plural Nós Nos,
conosco, nós
Vós Vos,
convosco, vós
Eles/elas Se,
si, consigo, os, as, lhes, eles


Os pronomes pessoais do caso reto só podem funcionar como sujeito dos verbos (lembram-se dos exercícios de conjugação verbal? Eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos, vós amais, eles amam).

Já os pronomes do caso oblíquo funcionam como complementos verbais ou complementos nominais.

Se o verbo for transitivo direto (VTD) pode ter se objeto direto (OD) substituído pelos pronomes me, te se, o(s), a(s), nos e vos. Assim:

Encomendei (VTD) o livro (OD). = Encomendei-o

Um detalhe importante! Se o verbo terminar em R, S ou Z, seguidos dos pronomes O(S) e A(S), tanto o verbo como o pronome sofrem alterações na grafia. Observe:

  • Comecei a ler o livro hoje. = > Comecei a lê-lo.
  • Ele pôs o livro na estante. => Ele pô-lo na estante.
  • Fez toda a lição rapidamente. => Fê-la rapidamente.

(sim, é estranho aos olhos e ouvidos brasileiros, mas perfeitamente natural em Portugal…)

E se os verbos terminarem em som nasal (-ão, -õe ou -m), estes não sofrem alteração, mas os pronomes que o seguirem sofrerão uma nasalização, ganhando um ‘n’:

  • Os jogadores cantam o hino. = Os jogadores cantam-no.

Já se o verbo for transitivo indireto (VTI) pode ter se objeto indireto (OI) substituído pelos pronomes me, te se, lhe(s), nos e vos. Desta forma:

Entregaram (VTDI) a lista de livros (OI) para mim. = Entregaram-me a lista de livros.

No caso dos VTIs, algumas vezes a regência não permite que se substitua o OI por um pronome oblíquo átono. Deve-se, então, manter a preposição e empregar o pronome oblíquo tônico. Teremos então:

  • Gostam de mim.
  • Assistem ao filme. = Assistem a ele.
  • Simpatizamos com os alunos novos. = Simpatizamos com eles.

Há também uma situação muito particular, que foge a esse padrão. É o caso de orações reduzidas de infinitivo, que apresentam um sujeito expresso por um pronome.

Podemos ter o pronome oblíquo funcionando como sujeito:

  • Mandei-o fazer o trabalho.

= Mandei que ele fizesse o trabalho.

Ou ainda um pronome do caso reto após uma preposição:

    • Este livro é para eu resumir.

= Este livro é para que eu resuma.

Se não houvesse a segunda oração e a frase se encerrasse no pronome, este deveria ser pronome oblíquo tônico:

Este livro é para mim.

Mas de jeito nenhum poderíamos ter um ‘mim’ conjugando o verbo seguinte!!!

E se a frase for assim: “Para mim, ler é um prazer.”? Estaria correto esse ‘mim’ antes do verbo? Sim! Note que há uma vírgula, a expressão ‘para mim’ está deslocada da ordem direta e esse pronome não funciona como sujeito do verbo ‘ler’.

Entregaram o livro para mim.

Até a próxima semana!


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora também é colunista de gramática do nosso portal e umas das corretoras do nosso curso de redação (clique aqui para saber mais) . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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