Para que Enem se a educação brasileira está falida?

Hoje é dia sete de setembro, dia em que comemoramos e celebramos a Independência do Brasil de Portugal, mas há tempos não temos nenhum motivo para comemorar ou celebrar alguma coisa neste país.

Peço licença aos meus leitores para que hoje deixemos de pensar e de refletir sobre a prova de redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para refletirmos acerca da situação da educação brasileira que, atualmente, está falida e, pelo andar da carruagem, de nada mais adiantará haver Enem se as universidades federais não conseguem concluir o ano letivo.

O bem da verdade é que, salvo exceções, a educação nunca foi prioridade no nosso país; é golpe atrás de golpe, rasteira atrás de rasteira há anos.

Há quem diga que, na época da ditadura militar, a escola era exemplar, pois havia patriotismo, civismo, disciplina e ensinava-se corte e costura, marcenaria, Francês, Latim dentre outras tantas matérias. Pode até mesmo ter havido aspectos positivos, mas não podemos nos esquecer de que o nacionalismo é uma das características das ditaduras de extrema direita em todo o mundo e aqui não foi diferente. Obter disciplina por imposição do medo e não do respeito é conseguir uma disciplina falsa e não existia debate de ideias, não havia pluralismo; professores e alunos foram perseguidos, presos, torturados e mortos durante o regime militar brasileiro.

Infelizmente, tais ideias continuam circulam pelo país e pelo mundo. Basta vermos a onda neonazista nos Estados Unidos e o insano projeto Escola sem Partido no Brasil para o qual o professor que promove debates e incentiva o pensamento crítico é um criminoso que deve ser preso. Seus idealizadores são pessoas que não atuam na área da educação, são conhecidos por terem ideais extremistas e que pensam que Direitos Humanos no Enem é não respeitar a liberdade de expressão. Ué, liberdade de expressão de quem, cara pálida? A sua, pois parece que professor não pode ser liberdade de cátedra, não é? Apenas não confudam liberdade de expressão com discurso de ódio que, aliás, é criminoso, como também é crime pedir a volta da Ditadura Militar.

Após a redemocratização do Brasil houve avanços, como a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e tantos outros documentos de suma importância para a educação brasileira. Programas como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que avalia e distribui livros didáticos para as escolas públicas de todo o país garante materiais de qualidade para milhares de crianças e jovens. Universidades federais foram criadas em regiões onde não existiam e, com isso, em 2009, o Enem torna-se o maior vestibular do país por meio do Sisu (Seleção Unificada).

Mas o cenário atual, que nunca foi o ideal, é de um desânimo total. Podemos citar como exemplo a crise financeira pela qual a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) está passando. Com o estado do Rio de Janeiro praticamente falido, salários e aposentadorias de servidores públicos atrasados, incluindo neste grupo professores e pesquisadores, a universidade suspendeu o segundo semestre no mês de agosto, pois não há recursos financeiros paa bancar serviços básicos como limpeza, alimentação, manutenção e até o hospital mantido pela instituição mal funciona; a situação é insuportável. Entre todos os níveis de ensino, a Uerj possui 41 mil estudantes.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também passa por uma crise financeira que começou, na verdade, há quatro anos com uma série de cortes. Segundo notícias, a universidade federal mineira só se sustentará, se tudo continuar como está, por apenas mais cinco meses. O governo federal não libera R$ 179,00 milhões de reais dos quais a UFMG necessita e tem direito e a instituição já prevê que terá de fazer sérias restrições.

Obras de construção e de reforma não são finalizados, bolsas para estudantes de baixa renda não são pagas, contas também não são paga, funcionários públicos que cuidam da parte administrativa das universidades não recebem seus salários em dias dentre outros tantos atrasos.

A Universidade de Brasília (UnB) está com um déficit de R$ 105,6 milhões e, para tentar diminuir os gastos, está revendo e renegociando contratos. Um deles foi com a empresa que cuida da alimentação dos estudantes. Cortes foram feitos, mas retirando itens do café da manhã, do almoço e do jantar, alimentos que alguns alunos só podem arcar com os custos comendo nos restaurantes universitários.

Estes são só alguns exemplos de universidades federais brasileiras em crise financeira. Agora, como será a abertura de vagas nestas instituições para o ano letivo de 2018? Haverá o ano letivo de 2018? Haverá vagas? Quantas? Os alunos ingressantes terão as mínimas condições de cursar seus cursos? De que adianta o Enem se o ensino superior e a pesquisa, no Brasil, são tratados desta forma?

E agora, José? Perguntaria Drummond. Qual a sua proposta de intervenção para revertermos esta situação caótica? Não nos esqueçamos em 2018 é ano eleitoral; não nos esqueçamos dos nomes e dos rostos que políticos que aparecem quase todos os dias nos jornais impressos e televisivos deste país.

 


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!

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8 comments
  1. Sou fá do Portal Infoenem e indico sempre aos meus alunos. Com certeza, sabe escolher bem seus representantes, como a professora Carla que tanto contribui para o aprendizado de quem realmente quer aprender! Parabéns à equipe! Gostaria que fizessem uma palestra aqui na nossa cidade, Araguaína-TO!!!

  2. Gabriel, gostaria que vc nos desse um motivo para este ser o pior artigo do infoEnem, O artigo é bem articulado, com um amplo repertório sociocultural, as ideias têm progressão e continuidade. Acredito que vc está equivocado. A falta de uma educação impede que os cidadãos sejam capazes ler e interpretar um texto tão simples. Não vi nada de Marxismo….a verdade já está posta…e bem evidente diante de um comentário como o seu. Liberdade de expressão não é desrespeito.

  3. amei o texto, realmente o brasil precisa de uma revolução, essa crise politica que afetou\afeta nossa recuperação da economia brasileira.

  4. Triste pior artigo do infoenem já está na hora de os alunos conhecerem a verdade e não só o Marxismo

    1. Comentário “modinha” de quem realmente precisa sair do aprisionamento “analfabetismo funcional”. Uma prova mais do que clara de que o artigo publicado pela professora Carla merece nota 10!

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