O termo patrimônio histórico cultural se refere as produções, materiais e imateriais, de uma determinada cultura inserida na sociedade. O que caracteriza um bem cultural como patrimônio é a sua relevância histórica e social, a qual pode ser associada à memória coletiva e individual, visto que é através dessas memórias que ocorre a compreensão do passado. Com isso, há também a formação de uma identidade, um resgate de raízes, pois esse processo está envolvido por sentimentos que estimulam o indivíduo a saber sobre si, sobre seu passado, seu presente e sobre a construção de suas crenças, valores e costumes.
Assim, a memória estabelece um vínculo entre as gerações humanas e o tempo histórico que as acompanha. Consequentemente, os indivíduos passam a se enxergar como sujeitos da história, detentores de direitos e deveres para com sua localidade. Desta forma, nota-se que a importância do patrimônio histórico cultural não é apenas referente à preservação do passado, mas, também, à construção de um futuro diverso, composto por pessoas conscientes de sua identidade e origem, as quais não se curvam diante de etnocentrismos e de tentativas de padronização cultural do mundo globalizado.
Indice
Classificação do patrimônio histórico cultural
- Patrimônio material: conjunto de bens materiais/físicos que possuem valor histórico, etnográfico ou artístico. Pode-se destacar como bens materiais: obras de artes, como pinturas e monumentos; cidades; construções e conjuntos arquitetônicos; parques naturais; sítios arqueológicos; entre outros bens, responsáveis por representar materialmente a história e a cultura.
- Patrimônio histórico imaterial: são práticas e domínios da vida social que não se manifestam materialmente, mas em saberes; ofícios; celebrações; formas de expressão artística; idiomas; dialetos; práticas culinárias; rituais religiosos; e diversos outros elementos que possuem um grande valor histórico cultural e que são transmitidos de geração em geração.
Manifestação da cultura popular do Maranhão, o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi possui o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Fonte: https://razoesparaacreditar.com/bumba-meu-boi-patrimonio-humano/
Reflexões contemporâneas acerca dos patrimônios histórico culturais
Após o assassinato de George Floyd por um policial branco e do aumento do número de manifestações do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) nos Estados Unidos, iniciou-se um movimento de questionamento acerca das estátuas presentes nos espaços públicos. Os manifestantes começaram a questionar o porquê de existir estátuas em homenagem às pessoas com um passado ligado ao colonialismo e ao escravismo.
Com isso, manifestantes na cidade de Bristol, na Inglaterra, derrubaram a estátua de Edward Colston, famoso traficante de escravos do Reino Unido. Após o monumento cair no chão, os manifestantes amarraram uma corda à estátua e a conduziram até o porto para empurrá-la no rio Avon. Antes da execução do ato, os manifestantes já haviam elaborado uma petição para que a estátua fosse retirada do local, ela contou com 11 mil assinaturas e em um dos seus trechos dizia: “Embora a história não deva ser esquecida, essas pessoas que se beneficiaram da escravidão de indivíduos não merecem a honra de uma estátua. Isso deve ser reservado para aqueles que trazem mudanças positivas e que lutam pela paz, igualdade e unidade social”.
Nos EUA, onde se concentram as manifestações, o movimento é o mesmo. Em Richmond, na Virgínia, uma estátua de Cristóvão Colombo, historicamente apontado como o primeiro conquistador europeu a chegar à América, foi derrubada, incendiada e jogada em um lago. Na mesma cidade, a estátua de Jefferson Davis, militar americano defensor da manutenção da escravidão, também foi derrubada.
Estátua de Jefferson Davis derrubada em Richmond, na Virgínia, nos EUA – Parker Michels-Boyce/AFP.
Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2020/06/15/o-que-significa-retirar-estatuas-de-escravocratas-do-espaco-publico
Esse movimento crítico acerca dos patrimônios históricos culturais trata-se de uma discussão sobre descolonialidade, existente desde a década de 1970. O processo de emancipação de muitos países do continente africano foi acompanhado dessa destruição de símbolos escravocratas e colonizantes. Além disso, existem diversos outros exemplos, tais como a retirada da cabeça do colonizador Pedro de Valdivia, em 2019, no Chile.
Entretanto, há diversos setores da sociedade que se opõem à derrubada das estátuas, pois alegam que elas são uma forma de relembrar a história e manter o passado vivo na memória dos indivíduos. No entanto, existem os museus e os livros para exercer essa tarefa e é importante ressaltar que essas estátuas ou monumentos foram erguidos como uma forma de homenagem, logo, mantê-los no espaço público é perpetuar essa admiração.
Por fim, deve-se lembrar que tais monumentos, estátuas ou nomes de avenidas e praças que exaltam colonizadores são decorrentes da vitória conquistada por eles sobre os povos oprimidos e escravizados. Assim, percebe-se que a história escrita e reproduzida é a dos vencedores, os quais continuam vencendo e escolhendo quais os nomes dignos de admiração e qual o passado que deve ser apagado e esquecido. Os que perderam, muitas vezes, não sobreviveram para contar a sua versão da história. Por isso, é necessário olhar criticamente para os patrimônios materializados nos espaços públicos e se perguntar: será que os indivíduos representados realmente merecem nossa admiração? Para os manifestantes do movimento Black Lives Matter, a resposta é não. Pois, para eles, não é possível lutar por um futuro justo e igualitário ao lado de uma estátua homenageando um escravocrata. A luta pelo futuro envolve um olhar crítico sobre o passado.
Em sua conta do Instagram o artista Banksy, pintor de graffiti e ativista político, escreveu: “Eis uma ideia que serve tanto àqueles que sentem falta da estátua de Colston quanto àqueles que não sentem. Nós o erguemos da água, colocamos de volta no pedestal, amarramos cabos ao redor de seu pescoço e encomendamos estátuas de bronze de tamanho real de manifestantes no ato de puxá-lo para baixo. Todos felizes. Um dia famoso relembrado”. (09/06/2020)
Questão – Enem 2014
Desde 2002, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem registrado certos bens imateriais como patrimônio cultural do país. Entre as manifestações que já ganharam esse status está o ofício das baianas do acarajé. Enfatize-se: o ofício das baianas, não a receita do acarajé. Quando uma baiana prepara o acarajé, há uma série de códigos imperceptíveis para quem olha de fora. A cor da roupa, a amarra dos panos e os adereços mudam de acordo com o santo e com a hierarquia dela no candomblé. O Iphan conta que, registrando o ofício, “esse e outros mundos ligados ao preparo do acarajé podem ser descortinados”.
KAZ, R. A diferença entre o acarajé e o sanduíche de Bauru. Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 13, out. 2006
De acordo com o autor, o Iphan evidencia a necessidade de se protegerem certas manifestações históricas para que continuem existindo, destacando-se nesse caso a
A) mistura de tradições africanas, indígenas e portuguesas no preparo do alimento por parte das cozinheiras baianas.
B) relação com o sagrado no ato de preparar o alimento, sobressaindo-se o uso de símbolos e insígnias pelas cozinheiras.
C) utilização de certos ingredientes que se mostram cada vez mais raros de encontrar, com as mudanças nos hábitos alimentares.
D) necessidade de preservação dos locais tradicionais de preparo do acarajé, ameaçados com as transformações urbanas no país.
E) importância de se treinarem as cozinheiras baianas a fim de resgatar o modo tradicional de preparo do acarajé, que remonta à escravidão.
A alternativa correta é a letra B.
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