Neste artigo vamos abordar, de uma só vez uma questão de concordância e outra de regência, que aparecem (ou deveriam aparecer) entrelaçadas na vida cotidiana.
Vejamos esta música (já velhinha) do Rei (antonomásia para Roberto Carlos, relembre nesta matéria):
(…) Por isso eu digo:
Obrigado Senhor pelas estrelas
Obrigado Senhor pelo sorriso (…)
Obrigado Senhor por um novo dia
Obrigado Senhor pela esperança
Obrigado Senhor, agradeço,
Obrigado Senhor
Por isso eu digo:
Obrigado Senhor pelo sorriso
Obrigado Senhor pelo perdãohttps://www.vagalume.com.br/roberto-carlos/a-montanha-letras.html
Iniciemos pelo caso de concordância do termo empregado no agradecimento: “obrigado“. Etimologicamente, essa palavra é o particípio do verbo obrigar (tem relação com obrigação – quem recebe um favor, fica na obrigação de retribuir; há um trecho de palestra de um professor lusitano em que este apresenta uma explicação muito profunda do termo e do gesto – veja a mídia do YouTube aqui).
Sendo o particípio uma forma nominal, ele apresenta flexão de gênero e número. Assim, Roberto Carlos, falando por ele mesmo, diz, na música, obrigado. Se ele agradecesse por ele e pelo parceiro de composição, ou se um coral misto cantasse, seria obrigados (dois elementos masculinos, Roberto e Erasmo ou pessoas de gêneros diferentes juntas). Se uma cantora apresentasse sua versão, cantaria obrigada e obrigadas, se fossem duas ou mais mulheres. Não devemos nos esquecer de que esse termo concorda com quem agradece!
E falando em agradecer, passemos à questão de regência ligada a esse verbo. A regência verbal, como já dissemos, é a relação do verbo com seus complementos, que pode precisar ou não ser mediada por uma preposição.
No caso específico de perdoar e agradecer, que são VTDI, a gramática normativa determina que o objeto direto seja a coisa e o objeto indireto seja a pessoa. Assim devemos perdoar/agradecer algo a alguém:
- A prefeitura perdoou a dívida (OD) aos cidadãos inadimplentes (OI).
- O professor agradeceu a homenagem (OD) aos formandos (OI).
Ou ainda, para reforçar a memorização, principalmente das pessoas mais religiosas, (mas sem querer converter ninguém) lembremo-nos de um trecho da prece “Pai Nosso”:
(…) Perdoai as nossas ofensas (OD) assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido (OI, na verdade uma oração subordinada substantiva objetiva indireta)
E assim, mais uma vez agradeço a vocês (OI), leitores, a atenção dispensada aos meus textos (OI).
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!
1 comment
a resposta perdoa sim perdoa e sempre