Existem muitas dúvidas a respeito do emprego desse sinal de pontuação, principalmente por causa da natureza ‘híbrida’ que ele apresenta. O que precisamos ter em mente para acertar no emprego é que seu uso não depende só da organização sintática da frase, mas também do estilo de quem produz o texto.
O gramático Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa, divide os sinais de pontuação em dois conjuntos: os “essencialmente separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], ponto de interrogação [?], reticências […]) e os sinais de comunicação ou ‘mensagem’ (…)”.
Assim, encontramos o nosso ponto e vírgula dentro do grupo cuja função é separar, mas separar o que, exatamente? Separar não é papel da vírgula?
Sim, separar é UM dos papéis dela, mas quando nós a empregamos para marcar outra ocorrência dentro da frase, como uma elipse, por exemplo, a separação pode ficar por conta do ponto e vírgula.
Os casos em que, a rigor, deve-se empregar o ponto e vírgula, de acordo com os gramáticos, são:
- Para separar partes de um período, das quais uma pelo menos esteja subdividida por vírgula:
“Chamo-me Inácio; ele, Bendito.” (M. de Assis) (ocorreu a elipse do verbo, por ser igual ao da primeira oração - Para separar as orações adversativas em que o contraste queira ser ressaltado:
“Não se disse mais nada; mas de noite Lobo Neves insistiu no projeto.” (M.A) - Entre orações coordenadas longas (por questão de estilo, apenas):
“Os velhos cronistas são unânimes em dizer que a certeza de que o marido ia colocar-se nobremente ao lado do alienista consolou grandemente a esposa do boticário; e notam com muita perspicácia o imenso poder moral de uma ilusão; porquanto, o boticário caminhou resolutamente ao palácio do governo e não à casa do alienista.” (M.A) - Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis, decretos, portarias, regulamentos etc.), como estes do Artigo 3º da Constituição:
“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”
Assim, podemos perceber que, para acertar o emprego desse sinal, devemos também saber empregar a vírgula (que já foi assunto de artigos anteriores, confira aqui:
https://www.infoenem.com.br/compreendendo-o-uso-das-virgulas-dois-casos/
https://www.infoenem.com.br/as-virgulas-e-a-mudanca-de-sentido/ )
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!