Possíveis Temas Redação Enem 2017: Comunidade LGBT

Ontem, dia 28 de junho, foi comemorado o dia mundial do orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), uma comunidade que representa uma minoria que é alvo de homofobia, preconceito e discriminação em todo o mundo. A luta pelo reconhecimento de direitos civis como casamento civil, herança, dependência em planos de saúde, adoção de crianças e adolescentes entre outros marcam a sociedade como um todo com lições de respeito e, no caminho contrário, há ainda quem pense que trata-se de uma doença.

O dia 28 de junho foi instituído no mundo todo como o dia mundial do orgulho LGBT por conta de um acontecimento ocorrido em Nova Iorque, Estados Unidos, neste mesmo dia, no ano de 1969. Na ocasião, um grupo da comunidade LGBT enfrentou policiais em um bar por eles fazerem constantes abordagens no local, o que gerou uma perseguição que durou duas noites e, no ano seguinte, em 1970, aconteceu a primeira parada gay nos Estados Unidos e no mundo.

Por toda esta importância histórica, social e cultural, aproveitamos o dia de ontem para abordar a comunidade LGBT como um dos possíveis temas na prova de redação do ENEM 2017 sob diversos aspectos, como por exemplo, discussão de gênero nas escolas, como combater a homofobia no Brasil, o acesso à educação e ao mercado de trabalho por travestis, transexuais e transgêneros dentre outros.

Acreditamos ser esta uma abordagem possível de ser feita pela banca elaboradora na prova do ENEM pelo exame, desde 2014, estar apontados temas de suma importância e que miram as minorias, como por exemplo, a violência contra a mulher, a intolerância religiosa e o racismo.

Além disso, infelizmente, o Brasil é um país homofóbico, pois, segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), uma pessoa da comunidade LGBT é morta no país a cada 25 horas, sendo que a região que apresenta os maiores índices de mortes deste tipo é a região Norte.

Assassinar uma lésbica, um gay, um travesti, um transexual ou uma pessoa transgênero pela sua condição é considerado crime de ódio, ou seja, é um crime motivado pela homofobia. No ano passado, em 2016, 343 pessoas da comunidade LGBT brasileira foram mortas, isso sem contar as mortes não registradas como motivadas pela homofobia, um grave problema apontado pelo GGB, que há 37 anos compila dados sobre o assunto. As maiores vítimas são os homens gays, seguidos dos transexuais; já em relação a idade, a faixa etária predominante das vítimas está entre os 19 e os 30 anos de idade.

O preconceito e a discriminação começam em casa, no seio familiar, e seguem para a escola e posteriormente para o mercado de trabalho. Assumir-se lésbica, gay, travesti ou transexual é, primeiramente, uma batalha interna e depois uma batalha com os familiares, já que muitos, quando assumem, são expulsos de casa, pois muitas pessoas consideram tal condição como doença.

Aliás, neste sentido, o termo “homossexualismo” não é mais usado, pois o sufixo –ismo denota doença; as palavras mais adequadas são “homossexualidade” e “homoafetividade” e, ainda a expressão “relação homoafetiva”, na qual o sufixo –afetiva significa “afeto”, muito melhor do que doença. Até os anos 70 realmente esta condição era considerada doença e muitos países africanos, por exemplo, condenam práticas homossexuais como crimes.

Na Inglaterra, inclusive, o pai da computação, Alan Turing, que decifrou códigos criptografados dos alemães na Segunda Guerra Mundial, foi condenado por ser homossexual. Para não ser preso, aceitou ser castrado quimicamente. Ele morreu em 1954 por envenenamento e há uma tese de que foi suicídio devido à castração. Em 2013, a rainha do Reino Unido, Elizabeth II, concedeu o perdão real a Turing, 60 anos após a sua morte.

Já no Brasil, pessoas da comunidade LGBT são discriminadas, excluídas, alvos de bullying desde quando estão se descobrindo, na adolescência e às vezes na infância. No mercado de trabalho não é diferente. Muitas dessas pessoas optam pela prostituição por falta de opção, pois não conseguem empregos por preconceito. Segundo pesquisas do Ministério dos Direitos Humanos, 36% das violações aos direitos humanos no Brasil ocorrem com a comunidade LGBT.

Há quem diga que as questões acerca da sexualidade humanas estão complicadas atualmente, que estão inventando “muita moda”; na verdade é agora que estamos começando a entender a complexidade da sexualidade humana que até pouco tempo era binária, isto é, homem e mulher heterossexuais e cis.

A discussão desta complexidade com o intuito de educar e orientar crianças e jovens em idade escolar a fim de promover o respeito à diversidade é o que propõe o debate sobre gênero nas escolas, o que alguns políticos denominam erroneamente como “ideologia de gênero“. A comunidade LGBT não quer influenciar as crianças e os adolescentes, não quer transformar todos em relação a sua orientação sexual e ao seu gênero e sim promover educação e respeito.

Para esta discussão ficar mais clara, vamos explicar alguns termos usados nesse sentido:

  • sexo biológico: masculino, feminino e intersex (os popularmente chamados de hermafroditas, pessoas que nascem com formações biológicas de ambos os sexos biológicos);
  • orientação sexual: atração sexual, isto é, ser heterossexual, bissexual ou homossexual;
  • identidade de gênero (não tem a ver com orientação sexual):
    1. cisgênero: pessoas que se identificam com seu sexo biológico;
    2. travestis/transexuais/transgêneros: pessoas que não se identificam com seu sexo biológico;
      1. homen trans: sexo biológico feminino, mas identidade de gênero masculina
      2. mulher trans: sexo biológico masculino, mas identidade de gênero feminina
  • expressão de gênero:
    1. o esperado pela sociedade, o padrão;
    2. quebra do padrão.

Os travestis, transexuais e os transgêneros são as maiores vítimas de homofobia dentre a comunidade LGBT; segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos as mulheres trans são os maiores alvos, somando 73%, resultando em uma expectativa de vida de apenas 35 anos de idade (a média geral brasileira é de 75 anos). Já segundo a Associação Nacional dos Travestis e dos Transexuais, 90% destas pessoas se prostituem, um número diretamente ligado à evasão escolar, exclusão social e desemprego.

O programa Fantástico, em março deste ano, exibiu uma série de reportagens intitulada “Quem sou eu?”, a qual explica o que a ciência já sabe sobre o assunto, as fases da vida que as pessoas trans passam, os preconceitos, as discriminações, a homofobia etc.

Nesse sentido, não só para estudar para a prova de redação do ENEM, mas também para se informar e se conscientizar, que incentivamos a busca de conhecimento acerca da luta e do combate à homofobia pela comunidade LGBT; aliás, esta luta é de todos nós a fim de vivermos em uma sociedade respeitosa às diferenças, num convívio pacífico, harmonioso e amistoso entre as pessoas.

 
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*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

 
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!

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3 comments
  1. Paradoxal vcs publicarem que sexualidade não se confunde com identidade de gênero e postarem que travestis e transexuais sofrem homofobia. Concertem.

    1. > Não tem nada paradoxal mano. No momento do crime os trans já são taxados como homossexuais e violentados. Não ocorre debate ou interesse à respeito das particularidades afetivas do mesmo.

      1. > Gente, vale entender que homofobia tem a ver com a sexualidade e não com o gênero! Se um homem trans for gay e namorar com um homem, ele vai sofrer homofobia sim.

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