Apesar de o Brasil ser um país que está envelhecendo, pois, dentre outros fatores, as mulheres estão, a cada dia que passa, tendo menos filhos, somos ainda um país com um número significativo de crianças e jovens em sua população. Nesse sentido, no contexto da segurança pública, muito tem se discutido sobre a possibilidade da redução da maioridade penal brasileira, de dezoito para dezesseis anos, a fim de tentar coibir a participação de crianças e jovens em atos infracionais e em crimes hediondos.
Porém, no meio dessa discussão sobre a maioridade penal, quase não se aborda a questão da violência e dos assassinatos de crianças e jovens, principalmente nas periferias das grandes cidades. Há jovens infratores? Sem dúvida. No entanto, também há jovens que são vítimas e este é um tema pertinente para a proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), pois, infelizmente, é um tema atual que abrange uma imensa parte da sociedade brasileira. Como combater a morte violenta de crianças e jovens brasileiros?
Segundos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 1980 e 2014, os jovens representavam 26% da população brasileira, mas, ao mesmo tempo, 58% deles foram vítimas dos homicídios registrados no mesmo período. Em 2013, 29 crianças e adolescentes (até os dezessete anos) foram assassinados por dia no Brasil, 78% deles por armas de fogo. Também estamos entre os países onde mais crianças e jovens morrem em acidentes de trânsito.
Resumindo: muitas crianças e adolescentes brasileiros morrem, todos os anos, em decorrência da violência, seja ela oriunda de crimes ou de acidentes de trânsito com carros e motos, por exemplo. O futuro do país está morrendo assassinado por armas de fogo ou em batidas em carros am alta velocidade.
A Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) elaborou e divulgou, em 2016, o Relatório Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil, trabalho que traz os dados relacionados acima. Em um corpus de pesquisa com 85 países, ficamos em 3º lugar quando o assunto é homicídios de crianças e adolescentes, uma realidade muito triste.
O citado Relatório conclui que, enquanto as causas de morte natural caem (mortes decorrentes de doenças), as causas de morte violenta aumentam (assassinatos, suicídios e acidentes de trânsito).
Em relação aos homicídios, em 2013, é como se tivesse havido 3,6 chacinas da Candelária por dia no Brasil, fazendo alusão à chacina de jovens por policiais militares do Rio de Janeiro nas escadas da igreja da Candelária, à noite, enquanto dormiam. Entre os anos de 2003 e 2013, os assassinatos de jovens brasileiros cresceram 19,7% e a grande maioria das vítimas são, de acordo com o Relatório, jovens do sexo masculino, da etnia negra, que moram nos subúrbios das grandes cidades brasileiras.
Os dados revelam que os jovens negros são vítimas de homicídios 178% mais do que os jovens brancos, levando em conta, obviamente, o tamanho dessas duas populações no país.
Já no que concerne ao suicídio, em 2013, quase duas crianças entre os 9 e os 18 anos se mataram no Brasil por dia e essa taxa vem aumentando a cada ano que passa, apesar de ser baixa se comparada às taxas dos demais países do globo. As crianças e os jovens indígenas ocupam os primeiros lugares nesse assunto e o caso é considerado, no Relatório, como uma pandemia.
Segundo reportagem do Jornal Record, em uma série de matérias sobre os jovens brasileiros, em uma média anual de 60 mil mortes no Brasil, 20 mil vitimam jovens de 14 a 25 anos e o perfil não é alterado: pessoas que moram nas periferias das grandes cidades, principalmente da etnia negra. Ou seja, esses jovens estão mais vulneráveis à violência do que os jovens brancos que vivem em áreas ou bairros “melhores”, já que estão mais expostos à desigualdade social, ao tráfico de drogas e à violência policial, especialmente nas abordagens nas ruas.
Deste modo, está claro que a falta de oportunidades no que concerne o acesso à educação e saúde de qualidade, ao mercado de trabalho, ao lazer, ao esporte, isto é, a tudo que deveria cercar uma vida digna, faz com que os jovens negros e pobres sejam mais vítimas da violência urbana. O que fazer para mudar essa realidade?
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*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!
1 comment
Lamentável a questão da violência em nosso país… receosas, muitas pessoas hesitam sair de casa até mesmo em horários de pico.