Redação do Enem: Segunda Competência de Correção

Já conversamos anteriormente sobre como estabelecer uma organização para o estudo de gramática e, com isso, garantir uma nota legal na primeira competência da redação do Enem, que avalia justamente a modalidade formal da língua portuguesa. Nesta semana, a vez é da segunda competência, que trata do tipo de texto, de sua completude, do tema e dos conhecimentos externos inseridos na produção.

Antes de mais nada, relembremos a descrição da competência, que está inclusive na Cartilha do Participante de Redação, disponibilizada pelo próprio órgão organizador da prova, o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas:

Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

O primeiro trecho, “compreender a proposta de redação“, nos indica que a fuga ao tema será penalizada aqui. Essa fuga ocorre ao produzirmos um texto que não se encaixe nos tópicos trazidos pelo título da proposta e pelas ideias contidas em seus textos motivadores. No caso de 2018, quando o tema foi a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet, uma redação que tratasse da violência urbana ou da mobilidade de portadores de necessidades especiais, por exemplo, e nada mais, seria zerada. O mesmo provavelmente não aconteceria, no entanto, com uma produção que tratasse de algo relacionado à internet, já que esse assunto tem uma relação, mesmo que vaga, com a proposta inicial. Nesse segundo exemplo poderia haver um tangenciamento do tema, o que também não é muito legal para nossos textos, já que a nota na competência 2 cai consideravelmente por conta dele. Então, a solução para evitar esses dois casos é ler com MUITA atenção o título e os textos motivadores e checar novamente ao terminar a produção, para conferir se a produção se encaixa na proposta, combinado?

Norma culta e seu antigo debate

Aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema” já é a parte que faz medo em muita gente, por se tratar do item que ressalta a necessidade de trazermos conhecimentos pessoais acumulados externos, indo além dos textos motivadores (porque, convenhamos, aí fica fácil, né?). Mas atenção: não é só decorarmos uma listinha de citações de autores importantes e colocá-las genericamente em todo e qualquer tema de redação que conseguiremos a nota máxima nesse quesito. Como o trecho “para desenvolver o tema” implica, os itens devem ser relevantes e relacionados ao tema, fazendo com que nossa argumentação fique ainda mais embasada, não se sustentando apenas em afirmações de senso comum. Sendo assim, citações genéricas sem relação mais estreita com o tema (ou alguma de suas partes) acabarão saindo dessa intenção e podem acabar inclusive prejudicando algumas outras competências, como a que trata de coesão e coerência. O ideal aqui é tentar buscar em conhecimentos construídos ao longo dos anos escolares e até mesmo na cultura pop ou mídia informativa itens que possam reforçar, exemplificar, contextualizar ou fornecer índices relacionados às nossas afirmações sobre a proposta.

Para encerrar, o trecho “dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa” nos informa o tipo de texto que deve ser produzido. O texto dissertativo-argumentativo é aquele que tem um tom mais científico, que tenta comprovar através de fatos e afirmações embasadas que a opinião do autor (mesmo que ele não se coloque como tal na produção e tenha uma voz “neutra”) é a mais sensata, buscando convencer o leitor. Por isso o formato de texto exigido estar tão intimamente ligado à questão do conhecimento externo como forma de comprovar nossos argumentos. Além disso, é interessante prestarmos atenção no pedaço que menciona os limites estruturais do gênero. Introdução, desenvolvimento e conclusão são fundamentais. Pode parecer óbvio, mas bastante gente pode perder muitos pontos por não encerrar a produção (não dá tempo de passar a limpo, por exemplo – PELOAMORDEDEUS planejem-se para o tempo de redação, galera!), o que pode ser facilmente percebido pelos corretores e descontado na pontuação. Outra coisa que pode acontecer é uma falta de introdução, de certa forma. O candidato, por exemplo, começa o texto como se estivesse conversando com a proposta e/ou respondendo a uma pergunta feita ali. Isso pode garantir muitos pontos descontados também, já que o texto exigido deve ser completo e independente em argumentação, característica intrínseca do gênero dissertativo argumentativo. Falando em gênero, é aqui na competência 2 que também cabe a fuga ao gênero, já que é ela quem exige a dissertação. Portanto, cartas, narrativas, poemas e, sim, os famosos hinos de times de futebol e receitas de miojos podem zerar as redações dos engraçadinhos que gastaram esse tempo, no qual poderiam estar trabalhando em alguma questão que dominariam, para produzir essas pérolas! Hehehe.

O que acharam das dicas dessa semana? Já tinham analisado a segunda competência dessa forma ou foi a primeira vez que pensaram nela em mais detalhes? Contem pra gente nos comentários e até semana que vem!

 


*Vanessa Christine Ramos Reck é graduada em Letras na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fluente em mais três idiomas: Inglês, Espanhol e Francês. Além disso, é corretora do Curso Online do infoEnem. Seus artigos serão publicados todas as quintas, não perca.

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