Há algumas semanas publicamos uma análise de uma redação elaborada por uma candidata do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) divulgada como uma dissertação-argumentativa que obteve nota máxima (mil pontos) na primeira edição de 2016 do exame, cujo tema da prova de produção de texto foi “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil“.
Dentre alguns textos divulgados pelo portal de notícias G1, escolhemos justamente um que, agora, sabemos que recorreu ao plágio por memorizar e utilizar fórmulas prontas de redação. Avisados por leitores do portal infoEnem e já com uma certa desconfiança que, aliás, foi revelada na referida publicação, pois, ao analisarmos a redação, notamos algumas incongruências, tivemos a confirmação na quinta-feira (04) ao lermos a notícia veiculada pelo site Guia do Estudante.
Hoje, sabemos que a autora da dissertação-argumentativa analisada por nós praticamente memorizou trechos de outras produções textuais (divulgadas por professores e publicadas por páginas na internet como redações notas máximas) e as escreveu no seu texto na primeira edição do ENEM 2016, configurando plágio. Ela usou excertos de redações escritas nas edições dos anos 2014 e 2015 do exame e que vieram a público posteriormente.
Deste modo, gostaríamos de pedir que vocês, caros leitores, desconsiderem a análise escrita e publicada sobre esta redação específica e também aproveitamos para pedir desculpas pelo nosso erro e por não termos percebido esse problema antes.
Nesse sentido, gostaríamos de reforçar que, quando escrevemos e publicamos uma análise de uma dissertação-argumentativa que teve nota máxima no ENEM, o fazemos com o intuito de mostrar um dos diversos caminhos possíveis para aquela proposta de redação por meio de uma análise linguística, textual e de conteúdo. Nunca escrevemos e publicamos uma análise de redação nota mil no ENEM afim de estimular plágio, até porque este é considerado crime no Brasil e, no contexto do exame, motivo para anulação.
Ao lermos e analisarmos redações notas máximas, seja do ENEM ou de qualquer outro exame ou vestibular – já que várias universidades divulgam textos que obtiveram notas máximas, como a Universidade de São Paulo (USP), por meio do site da FUVEST; e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), por meio da COMVEST – precisamos entendê-lo não como uma modelo ou uma fórmula a ser seguida e copiada e sim como uma inspiração para novas ideias, pois a redação, em qualquer prova, deve ser original.
Infelizmente, o próprio ENEM, ao exigir a escrita de uma dissertação-argumentativa, cria um impacto negativo em escolas, cursinhos, professores e alunos: um verdadeiro treinamento, com receitas prontas, para se escrever um texto dissertativo-argumentativo, engessando o currículo.
Assim, gostaríamos de ressaltar e de lembrar que tanto nas nossas publicações quanto na apostila de redação e na correção online de redações do Curso do infoEnem prezamos pela originalidade e sempe enfatizamos que não há receitas ou fórmulas prontas e sim há caminhos possíveis que devem ser escolhidos de acordo com uma série de fatores, como por exemplo, tema, coletânea de textos motivadores, argumentação etc.
Fujam de fórmulas e partam para um processo de produção escrita crítico, autônomo e reflexivo.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas e do Curso Online do infoEnem. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!
2 comments
ENEM 2017, Ai vou eu 🙂