Redação no ENEM: Compreensão e Expressão

Segundo um estudo realizado pelo Instituto Paulo Montenegro – IPM – e pela Organização Não Governamental Ação Educativa, no qual 2002 pessoas entre 15 e 64 anos de todas as regiões do país, inclusive de áreas rurais, foram entrevistadas, apenas 8% dos brasileiros em condições e em idade de trabalho são considerados plenamente capazes de compreender e de se expressar por meio de letras e números. Em outras palavras, oito pessoas a cada grupo de cem indivíduos da população do Brasil.

Este pequeno e seleto percentual representa os cidadãos proficientes, ou seja, o nível mais alto de alfabetismo no qual as pessoas são capazes de compreender e de escrever diversos gêneros que circulam nas esferas de atividade humanas e que são da ordem do argumentar, narrar e descrever, como por exemplo, uma mensagem eletrônica (e-mail), cartas de variados tipos (do leitor, de reclamação, de solicitação, aberta, de foro íntimo dentre outras), um relatório, um resumo, uma síntese, um artigo de opinião, um verbete virtual etc.

Além desses gêneros, os puramente verbais, os proficientes também são capazes de compreender e de produzir gêneros multimodais como tabelas, gráficos, imagens dentre outros, gêneros presentes em praticamente todas as propostas de redação do ENEM, o Exame Nacional do Ensino Médio.

Apesar do referido exame exigir a escrita de uma dissertação-argumentativa, um gênero puramente escolar, a coletânea textual das suas propostas de redação contém gêneros diversificados como notícias, infográficos, mapas, fotos, depoimentos, músicas, poesias dentre muitos outros, o que requer do candidato um nível avançado de proficiência, assim como os demais vestibulares brasileiros.

Aliás, o vestibular nacional da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas -, por exemplo, vai além e exige a produção obrigatória de dois gêneros distintos em sua proposta de redação, o que demanda do candidato a capacidade de planejamento e organização dos seus textos, algo também fundamental nas redações do ENEM.

Esses dados nos revelam e atestam como a desigualdade, tanto no campo econômico e social quanto no educacional, interferem na alfabetização e no alfabetismo das crianças e dos jovens brasileiros, o que, consequentemente, ocasiona índice baixos de alfabetismo entre os adultos em idade de trabalho no Brasil.

De acordo com o estudo mencionado no início do texto, 27% dos brasileiros são analfabetos funcionais e uma grande parcela desta porcentagem está no mercado de trabalho e corre um sério risco de perder seus empregos se não enfrentarem, adequadamente, a chamada quarta revolução industrial. Além disso, a quantidade de candidatos mais velhos que prestam o ENEM tem aumentado, já que no ENEM 2015, por exemplo, 4.491.953 inscritos já eram formados no Ensino Médio.

Por isso precisamos dar a importância correta ao processo de alfabetização das crianças e dos jovens, desde muito cedo, a fim de eles se tornem adultos proficientes para atuarem de forma crítica, autônoma e reflexiva em todas as esferas da sociedade humana, inclusive na acadêmica cuja porta de entrada é o ENEM e os demais vestibulares.

 


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

 
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas! Também é responsável pela criação da maioria dos temas do Curso de Redação do infoEnem

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