São ou Santo? Qual a Forma Correta de Escrever?

Não, o tema não é exatamente religioso, embora esses termos sejam presentes no universo católico. Vamos abordar apenas a questão gramatical, passando pela questão toponímica. (Em tempo: Toponímia é a disciplina que estuda as denominações de lugares. Há na USP – Universidade de São Paulo – uma cadeira com esse objeto de estudo, na faculdade de Letras, e é uma área de estudo interdisciplinar, que engloba Tupi, Filologia, Geografia entre outras disciplinas).

O termo ‘são’ é uma forma contraída de ‘santo’. Mas o que determina a escolha de ‘são’ ou ‘santo’ é uma regra de adaptação morfofonêmica, isto é, relacionada à produção sonora, à pronúncia da sequência de sons contidas nesses termos. É uma tendência da língua portuguesa evitar a produção de um hiato pela articulação do ditongo (de “são”) e a vogal do nome seguinte. O padrão, portanto, é usarmos são antes dos nomes que iniciam por uma consoante e santo antes de nomes começados por vogal ou por H, já que essa consoante é muda no início de palavras: São Paulo, Santo André, São Roque, Santo Henrique.

Entretanto há exceções (estamos falando de língua portuguesa… sempre há alguma exceção hehe). Existem alguns casos que fogem desse padrão, como Tomás de Aquino, talvez o caso mais significativo. Encontramos, nos textos de Padre Vieira, a construção “Santo Tomás“, no entanto, a partir do séc. XVIII o padrão vai se firmando, e atualmente é nítida a preferência por “São Tomás“. Outros ainda que seguem essa exceção são Santo Tirso e São Estevão.

São Tomás de Aquino, exceção a regra de uso de são e santo na língua portuguesa.

Já no feminino, não encontramos o mesmo problema, uma vez que só há o termo ‘santa’. Assim, teremos Santa Adelaide ou Santa Maria, independentemente da letra inicial do nome. E há ainda o caso de Santa Ana, que, pela contração das duas letras ‘a’, acabou transformando-se em Santana, termo que nomeia uma série de famílias, um bairro na cidade de São Paulo e uma cidade na Grande São Paulo.

Por uma questão de colonização, é frequente a denominação de localidades com nomes dos santos católicos, já que Portugal tem uma forte ligação com a Igreja desde seu estabelecimento como nação. Sendo assim topamos com estados (São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo) ou cidades (São Roque, São Paulo, Santo Antônio do Pinhal, São Joaquim da Barra – só para ficar no estado de SP) em que as denominações religiosas estão presentes.

Há também, ao longo de nosso território, outro tanto de denominações de origem indígena que foram mantidas, já que os índios sempre foram notórios observadores das características naturais e usavam essas informações para denominar os lugares pelos quais passavam ou onde se estabeleciam (em 2015, uma questão do Enem abordava exatamente esse aspecto da cultura indígena, a questão 126 da prova amarela). Veja neste artigo a influência do Tupi no nosso idioma.

E, não menos importantes, há aquelas localidades que apresentam combinações de nomes religiosos com termos indígenas, como Pirapora do Bom Jesus (ou Bom Jesus de Pirapora) e Santana do Parnaíba entre tantos outros.

É isso!

Até a próxima semana!

 


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Com mais de 20 anos de experiência e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora também é colunista de gramática do portal infoEnem e umas das corretoras do nosso curso de redação (clique aqui para saber mais) . Seus artigos são publicados todos os domingos. Não perca!

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