Stuart Hall (1932-2014) foi um importante e renomado sociólogo britânico-jamaicano – nasceu na Jamaica, mas radicou-se na Inglaterra a partir de 1951. É um dos fundadores da escola de pensamento conhecida como Estudos Culturais britânicos ou Escola de Birmingham dos Estudos Culturais.
Suas obras debruçam-se sobre a questão cultural em suas múltiplas facetas, desde as mais particulares, pensado em como os indivíduos incorporam e reproduzem a cultura no nível microssociológico, até as mais abrangentes, ao buscar compreender a relação entre cultura e sociedade. Através da sociologia da cultura – para ele caracterizada como o estudo dos processos de construção simbólica – estudou o papel da mídia no reforço de estereótipos culturais e na racialização de terminologias. É uma grande referência nos estudos de identidade cultural, raça, etnia e questão nacional.
Stuart Hall, por sua condição de imigrante racializado na Inglaterra, compreende os processos de construção, reprodução e rejeição das identidades não apenas como estudioso, mas como alguém que possui sua identidade atravessada por diversas questões políticas e sociais. Sua própria experiência é uma confirmação de sua tese: a identidade não está essencialmente no sujeito, mas é produto da história e, consequentemente, da cultura.
Figura reproduzida do site: http://www.oexplorador.com.br/stuart-hall-sociologo-e-teorico-da-cultura-jamaicano-o-pai-do-multiculturalismo/
Indice
Identidade e cultura
Em seu livro A identidade cultural na pós-modernidade, publicado em 1992, Hall traça um panorama histórico ao redor da compreensão da identidade em diferentes momentos, demonstrando como as transformações sociais, advindas da modernidade, produzem profundos efeitos à maneira pela qual o indivíduo entende a si mesmo e é entendido socialmente.
Partindo do paradigma das representações sociais – e os efeitos materiais que estas produzem ou aprofundam – o sociólogo estabelece três identidades culturais diferentes baseadas no período histórico e filosófico ao qual estão inseridas:
- Sujeito do Iluminismo: é um indivíduo centrado, unificado e essencialmente o mesmo. Seu centro está em um diálogo direto com seu núcleo interior, originado no nascimento e desenvolvido ao longo de sua existência. Este sujeito individual, com existência primária, possui sua determinação na capacidade racional de pensar e agir.
- Sujeito sociológico: diferentemente do tipo de sujeito que o antecede, o sujeito sociológico é compreendido não a partir de si mesmo, como um ser autossuficiente, mas sim como um produto da relação entre pessoas e a sociedade, a cultura e o mundo social em geral. A formação subjetiva deste tipo acontece por meio da socialização – no processo de internalização do exterior e externalização do interior. A identidade, portanto, é sempre social, histórica e localizada no tempo e espaço.
- Sujeito pós-moderno: conceituado a partir dessa realidade na qual existimos hoje, é identificado por Hall como um sujeito sem identidade fixa ou essencial, isto é, sua identidade é móvel, contraditória e continuamente transformada pelos diálogos com a diversidade cultural. Marcado pelo descentramento e pela desestabilidade, este sujeito está exposto às mais diversas identidades culturais e, como tal, seria acometido por uma crise de identidade. Nas palavras do próprio Hall:
[…] o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas […]. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente. (HALL, Stuart)
A conclusão que se pode tirar do diagnóstico de Hall é justamente a ideia de que nada escapa da história. Qualquer noção e significado que pareça pertencer a ordem da natural ou essencial é, na realidade, produto de processos sociais e históricos específicos, incluindo a maneira como enxergamos a nós mesmos – por mais que pareça uma impressão puramente individual, ela é decorrente das estruturas e vivências que nos atravessaram ao longo da vida.
Questão
(Enem 2019 – PPL) Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas — desalojadas — de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
Do ponto de vista conceitual, a transformação identitária descrita resulta na constituição de um sujeito
a) Altruísta.
b) Dependente.
c) Nacionalista.
d) Multifacetado.
e) Territorializado.
A alternativa correta é a letra D.
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A língua portuguesa é de fato muito rica e por isso traz um grande número de possibilidades para algumas palavras e isso, às vezes, pode causar dúvidas aos falantes de seu idioma. Uma dessas dúvidas mais comuns está ligada ao uso dos “porquês”. Na fala não há motivo nenhum para preocupação, mas na hora da escrita em norma padrão quase sempre é feita uma consulta para saber a diferença entre um e outro e não fazer feio no texto.
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