Temas Redação Enem 2015: Violência Contra a Mulher

A coluna de redação do Portal InfoEnem inaugura hoje a série Temas Redação Enem 2015 que abordará temas atuais e importantes no contexto brasileiro e que podem ser propostos nas futuras provas de redação do Enem e de demais vestibulares que requerem uma dissertação-argumentativa como produção textual. Sempre que surgir um tema relevante para a sociedade brasileira e sempre que houver grandes discussões, a coluna de redação do InfoEnem o abordará.

Sendo assim, iniciaremos a série trazendo à tona a triste questão da violência contra a mulher no Brasil.

O Enem já abordou a questão da violência no Brasil, mas de uma maneira ampla; o exame nunca trouxe como proposta de redação, especificamente, a violência contra a mulher e, portanto, nunca discutiu o machismo existente na sociedade brasileira.

Este tema sempre esteve em pauta, já que trata-se de um problema crônico no nosso país, mas neste ano esteve mais em alta desde a publicação, no mês de março, de uma pesquisa promovida pela Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na qual, primeiramente, foi divulgado que 65,1% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”; alguns dias depois, rodeado de uma grande repercussão, o Ipea corrigiu esse número afirmando que o dado correto é que 26% dos entrevistados concordam com esta afirmação.

Não só o alto índice gerou um grande debate como o erro do Instituto, já que trata-se de um órgão governamental, mas a questão é que seja 65,1% ou 26% não deveria haver 0,5% de pessoas que pensam que mulheres mereçam ser assediadas, atacadas e estupradas porque usam roupas que mostrem seus corpos. A cultura do estupro sempre coloca a vítima como culpada, quando, na verdade, o único e verdadeiro culpado pela violência sexual é o estuprador.

Neste sentido, vale ressaltar que violência contra a mulher não é só a doméstica ou a sexual que chega às vias de fato, mas também o assédio nas ruas, no ambiente de trabalho e a importunação ofensiva ao pudor, todos com o machismo como pano de fundo.

Vivemos em uma sociedade altamente machista na qual grande parte das pessoas pensa que mulheres não devem sair sozinhas ou apenas com amigos, que mulheres não devem sair à noite, que há mulheres para casar e para curtir, que mulheres, ao usarem roupas justas ou curtas, por exemplo, estão pedindo para serem assediadas, que mulheres não devem ganhar mais do que homens ou não devem ocupar cargos superiores, que mulheres sempre são as culpadas pelo assédio porque pediram ou mereçam, que mulheres não podem recusar uma cantada etc.

Aliás, as famosas cantadas têm sido alvo de discussão no Brasil e no mundo. No mês de outubro, foi divulgado na internet um vídeo produzido nos Estados Unidos que mostra uma mulher vestida de camisa e calça jeans andando pelas ruas de Nova York, com uma câmera escondida, sendo assediada por meio de cantadas proferidas por homens. Um deles, inclusive, chega a segui-la por mais de cinco minutos. A atriz que protagoniza as cenas, pasmem, foi alvo de assédio e de ameças de estupro.

O vídeo, que pode ser visto aqui, problematiza a tão discutida questão da vestimenta feminina, pois a atriz estava usando uma camiseta e uma calça, nada curto ou revelador como argumentam os machistas de plantão. A verdade é que todos, homens e mulheres, têm o direito de usarem as roupas que bem entendem e estas não dão liberdade nenhuma para nenhum tipo de assédio.

No Brasil, há a campanha “Chega de Fiu Fiu”, apoiada pelo Defensoria Pública e promovida pela ONG Olga, que visa dar fim às cantadas ofensivas nas ruas, no transporte público e nas baladas. O texto da campanha publicado pela Defensoria Pública e pela Olga esclarece os tipos de assédio e distingue paquera de assédio: o primeiro tem o consentimento de ambas as partes, isto é, a mulher consente e aceita e investida do homem; já o assédio é feito sem este consentimento e configura importunação ofensiva ao pudor, ou seja, cantadas ofensivas, violentas e/ou em tom de ameaça. O documento ainda ressalta a importância das denúncias e da conscientização da sociedade como um todo, já que a cultura do machismo também atinge mulheres, pois há muitas que concordam com afirmações machistas por estarem imbuídas neste contexto desde crianças.

Isto acontece porque o machismo e a cultura do estupro estão muito bem, infelizmente, inseridas na sociedade brasileira. Meninas, desde pequenas, salvo exceções, são criadas diferentes dos meninos; estes com total liberdade, elas com bem menos. As velhas distinções entre cor de menino e cor de menina, brinquedo de menino e brinquedo de menina, por exemplo, já trazem, em si, questões machistas. Por que meninas não podem brincar com carrinho e meninos com boneca?

Tudo isso foi confirmado mais uma vez. Um levantamento realizado pelo Instituto Avon e pelo Data Popular, divulgado ontem, com mais de dois mil jovens de 16 e 24 anos mostra que a maioria deles admite o machismo no Brasil e o reforça com comportamentos e pensamentos que reprimem a mulher e que a colocam em posição inferior ao homem.

Os dados completos podem ser acessados aqui e revelam que mulheres são controladas e censuradas por seus familiares e parceiros e forçadas, muitas vezes, a terem relações sexuais sem preservativo por desejo de namorados ou maridos. A pesquisa também mostra que as próprias mulheres recriminam outras mulheres que saem com mais de um homem.

Segundo especialistas ouvidos pelo portal G1, isto tudo é mera repetição, geração após geração, do machismo e configura violência de gênero. O portal G1 elaborou um gráfico no qual os dados podem ser melhor analisados.

Por fim, é de suma importância destacar que devemos, por meio da educação e da conscientização, mudar este cenário machista brasileiro, pois nenhuma mulher merece ser rebaixada, discriminada, assediada, estuprada, censurada ou violentada por ninguém. Mulher nenhuma é culpada pela violência que sofre; somente os autores desta violência são culpados. A denúncia é um dos caminhos para se combater a violência doméstica, sexual e de gênero e deve ser estimulada.

Com este tema, inauguramos a série Temas Relevantes e buscamos contribuir não só para a preparação para provas de redação como a do Enem, mas também para o debate saudável e a conscientização e educação.

 


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

**Camila também é colunista semanal sobre redação do infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para nossos milhares de leitores! Seus artigos serão publicados todas às quintas-feiras, não percam!

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4 comments
  1. Olá, professora Camila! Poderia corrigir minha redação, por favor?

    Ao longo da história, grande parte da sociedade se fundamentou em uma forma de organização familiar: o patriarcalismo. Esse, por sua vez, representou a submissão da mulher à autoridade definitiva do homem. No entanto, o desenvolvimento da autonomia feminina transformou essa percepção, mas ainda traz resquícios à atual sociedade: a violência contra a mulher. É necessário, portanto, avaliar tal debate com base na conjuntura ética predominante.

    Em uma primeira análise, é indiscutível afirmar que as mulheres conquistaram direitos que permitiram uma maior autonomia. O direito ao voto no Brasil, durante o governo de Getúlio Vargas, em 1934, é exemplo dessa perspectiva. Ademais, a Sociologia explica tal fenômeno com o conceito de desnaturalização de antigas concepções, como o pensamento de inferioridade da mulher, que se desgasta conforme o avanço dos movimentos sociais. Isso fica visível, ainda, com a maior decisão feminina na quantidade de filhos que o casal deseja ter e com a ocupação em altos postos de trabalho. Apesar disso, a mulher ainda fica exposta a um ato já explicitado pelo contratualista Thomas Hobbes: a violência.

    Diante disso, a violência doméstica ganha destaque, já que a estrutura familiar, com base em preceitos machistas, fica comprometida com a agressão física ou psicológica da mulher, sendo a Lei Maria da Penha, instituída no Brasil, uma forma de diminuir esse quadro. No entanto, a violência urbana é ainda mais polêmica, ao colocar em xeque a causa de estupros que ocorrem contra o sexo feminino. De acordo com os deterministas, o meio influencia os indivíduos e, com base nisso, posturas contrárias ao padrão, como o modo inadequado de se vestir, tentam explicar a ocorrência de estupros. Além disso, esse tipo de violência traz à tona a segurança nas ruas, de modo que o policiamento não atende à “fragilidade” da mulher.

    Torna-se evidente, portanto, que a sociedade atual, fincada em raízes patriarcais e machistas, abriga a violência contra a mulher. No entanto, é necessário atenuar essa situação. Assim, cabe ao Estado, através da sua função reguladora, aumentar o policiamento em áreas urbanas e fortalecer leis de punição aos agressores. Cabe à mídia, aliando-se às instituições sociais, incentivar a criação de ONGS, de modo a desenvolver nos indivíduos uma consciência ética, que, segundo o filósofo Blaise Pascal, “é o melhor livro de moral e o que menos se consulta”.

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