Uma prova de redação ou de produção textual, desde aquela aplicada pelo professor de Língua Portuguesa na escola até a do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou de qualquer vestibular e concurso público, não é só uma prova que avalia a escrita do aluno ou do candidato; toda prova de redação avalia duas habilidades: leitura e escrita.
Uma proposta de produção de texto bem feita possui enunciado, coletânea de textos (motivadores ou textos fontes, dependendo do perfil da prova) e instruções, tudo muito bem “amarrado” em torno de um construto que, por sua vez, varia de prova para prova, já que cada uma tem um perfil diferente, um estilo distinto e busca selecionar um tipo específico de futuro aluno ou de futuro profissional, no caso dos concursos públicos.
Deste modo, para sair bem em uma prova de redação o aluno ou candidato deve ler, de maneira proficiente, toda a proposta de produção de texto, desde o tema, passando pelos textos de apoio e chegando ao enunciado e às instruções. Este é o primeiro passo, e não menos importante do que a produção textual em si, para se escrever o que a proposta pede, já que ela nada mais é do que uma tarefa a ser cumprida.
Nesse sentido, o aluno ou candidato deve preocupar-se em compreender, da maneira correta, o tema e o recorte temático proposto pela prova de redação quando esta exige a escrita de um texto dissertativo ou dissertativo-argumentativo a respeito de um tema e baseado em uma coletânea de textos motivadores, como é o caso da prova de redação do ENEM.
Neste caso específico, os participantes do exame federal ficam muito ansiosos por saber se estudaram ou não, ao longo do ano, o tema da redação e no dia da prova, quando o descobrem, batem o olho e só, isto é, não pensam muito sobre como ele foi formulado, o que é errado. O aluno ou candidato deve investir um tempo na leitura atenta do comando do tema e da coletânea de textos para analisar e compreender o recorte temático proposto pela proposta de redação como um todo.
Podemos citar, como exemplo, os temas das duas últimas edições do ENEM, as duas versões aplicadas no ano de 2016. O tema da proposta de redação da primeira edição do ENEM 2016 foi “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil“; já a segunda edição teve como tema “Caminhos para combater o racismo no Brasil“. A escolha por abordar a intolerância religiosa e o racismo no nosso país foi excelente por serem temas, infelizmente, ainda atuais e presentes em nossa sociedade e que devem sim ser combatidos, porém, os comandos dos temas poderiam estar melhor elaborados, pois a palavra “caminhos”, em ambos, pode fazer com que o participante apenas escreva possíveis caminhos e propostas de intervenções sociais (soluções) para combater a intolerância religiosa e o racismo no Brasil (até porque a quinta competência exige isso) e deixe de dissertar e argumentar a respeito desses temas.
Como a prova de redação do ENEM exige a escrita de uma texto dissertativo-argumentativo, o candidato que apenas listou, apontou ou dissertou sobre possíveis caminhos ou soluções para combater a intolerância religiosa e o racismo no nosso país teve um grande prejuízo em sua nota final porque não argumentou sobre as causas e consequências, origens, contexto histórico, social e cultural etc.
Já o tema da redação do ENEM 2015 – “A Persistência da Violência Contra a Mulher na Sociedade Brasileira” – tinha como palavra-chave “persistência”. O participante que negou que a violência contra a mulher persiste no Brasil, por exemplo, teve prejuízo em sua nota, pois foi contra o comando do tema.
Estes exemplos mostram como devemos prestar muita atenção ao comando do tema de qualquer prova de redação: se este apresenta um questionamento, seu texto deve respondê-lo; se o tema o coloca para escolher entre duas posições, escolha uma; se o comando de tema especifica algo por meio de uma palavra-chave, siga tal especificação e assim por diante.
Até a próxima semana!
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!