Black Mirror, limites e o potencial humano: sexta temporada

“As histórias bizarras não têm limite nesta série antológica que revela o pior da humanidade, suas maiores invenções e muito mais” (plataforma Netflix)

Arte de divulgação, Netflix.

Com estreia em 15 de junho de 2023, depois de um recesso de quatro anos (a temporada 5 é de 2019) e após mais de uma década de seu lançamento na Netflix, Black Mirror voltou com nova temporada de cinco episódios.

A obra de Charlie Brooker já foi destaque no INFOENEM, no entanto, reservaremos espaço para discutir a sexta temporada da série com os capítulos: Joan is awful (Joan é horrível), Mazey Day (o dia de Mazey), Demon 79 (Demônio 79), Loch Henry (Lago Henry) e Beyond the sea (Além do mar).

A produção traz temáticas e aborda questões que podem auxiliar ao pensarmos na proposta de redação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), além de trazer conteúdos de diferentes componentes curriculares com discussões sobre as competências e habilidades presentes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio.

De maneira geral os episódios tratam de temas explorados nas edições anteriores, dando visibilidade ao mundo ordinário e cotidiano. Uma característica e faceta da série, talvez aguardada por telespectadores foi uma maior interligação com a realidade tecnológica algorítmica e/ou consequências de seu uso de forma desenfreada. Tal realidade está presente, mas não dimensiona majoritariamente os episódios, uma vez que guardam particularidades e caminhos interessantes como o realismo fantástico e fantasia mesclados à ficção científica.

No primeiro episódio, Joan is awful retrata-se “Uma mulher comum descobre que um serviço de streaming transformou a vida e os segredos dela em um drama estrelado pela atriz Salma Hayek”. O segundo, intitulado Loch Henry aborda a realização de “um documentário sobre a natureza em uma pacata cidade escocesa” quando “um casal descobre uma história local que está ligada a eventos terríveis do passado”. Em Beyond the sea “versão alternativa de 1969, dois astronautas em uma arriscada missão espacial enfrentam desdobramentos de uma tragédia na Terra”. O quarto episódio, Mazey Day explora o cotidiano de uma atriz de Hollywood que “faz de tudo para escapar da horda de paparazzi enquanto lida com as consequências de um atropelamento”. No último episódio Demon 79  “uma assistente de vendas descobre que precisa cometer atos terríveis para impedir um desastre iminente” (trechos entre aspas retirados da plataforma Netflix, nas descrições dos episódios).

Centrando o roteiro nos personagens de cada episódio, a sexta temporada de Black Mirror explora de maneira inteligente, com textos e diálogos criativos, cotidiano que contempla a banalização e espetacularização da violência, a diversidade e desigualdades produzidas por esta relação, associa ficção a elementos da fantasia, traz o terror e sua romantização, retrata a degradação psicológica dos personagens, aborda a moralidade e ética humana, tal qual dilemas relacionados ao jornalismo, seus limites e padrões éticos, além de explorar a presença dos algoritmos e da tecnologia em nossa vida, bem como as consequências da falta de privacidade em rede. Também há simbolismos de lendas, com mitos históricos e urbanos, como o lobo e o diabo/demônio.

O conjunto da sexta temporada pode ter criado expectativas quanto aos temas e forma de abordá-los, no entanto, dadas as possibilidades e grandeza da proposta de Black Mirror desde a sua criação, contempla e assinala mais uma vez, a genialidade da série e a razão de permanecer produzindo fascínio entre seus espectadores há mais de uma década, tarefa desafiadora em tempos líquidos.

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