No estudo das classes de palavras, vemos que há algumas (substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome e verbo) que são variáveis e outras (advérbio, preposição, conjunção e interjeição) que são invariáveis. Na prática, isso quer dizer que as variáveis podem sofrer flexões e são empregadas numa forma diferente daquela apresentada pelos dicionários (os dicionários sempre apresentam os termos variáveis na forma de masculino singular).
Grande parte dos substantivos que sofrem flexão de gênero (masculino ou feminino) tem uma pista na própria estrutura da palavra. É a chamada desinência de gênero:
- meni + o (radical + desinência de gênero masculino)
- meni + a (radical + desinência de gênero feminino)
A partir da identificação dessa desinência, podemos fazer a concordância adequada com outras palavras ligadas ao substantivo em questão.
Há, entretanto, alguns casos especiais no que se refere ao gênero. São os chamados substantivos epicenos, comuns de dois e sobrecomuns. Vejamos as especificidades deles.
Indice
Epicenos
Geralmente nomeiam animais, apresentam apenas uma forma, masculino ou feminino, que não faz referência ao sexo biológico do ser. Assim temos a cobra (s.f.), o tamanduá (s.m.), e para designar o sexo, acrescentamos os termos ‘macho’ ou ‘fêmea’: cobra-macho; tamanduá-fêmea.
Comum de Dois (Gêneros)
Os substantivos assim classificados designam tanto seres do sexo masculino quanto do feminino e essa informação relativa ao sexo será dada pelo artigo que precede o substantivo. Assim temos o motorista (um homem) e a motorista (uma mulher);
Sobrecomum
Agora o substantivo apresentará apenas uma forma, sem fazer relação com o sexo do ser. Assim temos a pessoa ou a vítima (tanto faz se for homem ou mulher), a criança, o cônjuge, o algoz.
E “presidente”? Tem feminino? Sim, embora cause estranheza a muita gente. Os termos que terminam em ‘-e’, de modo geral são comuns de dois, como o/a estudante, o/a gerente, o/a comandante, mas desde o século XIX há registros da forma feminina ‘presidenta‘, como a mulher que ocupa um cargo de presidência, que preside algo.
Algo diferente ocorre com o termo ‘embaixador‘. Há duas formas femininas, mas ‘embaixatriz‘ é a esposa do embaixador e ‘embaixadora‘ é a mulher que ocupa essa função.
Já no caso dos consulados, temos ‘consulesa‘ tanto para a esposa do cônsul, quanto para a mulher que ocupa essa função.
É necessário, portanto, atentar para o significado preciso dos termos e para o gênero correto do substantivo, para que as demais palavras que estiverem ligadas a ele não destoem, ou seja, para que a concordância nominal seja mantida de acordo com as regras da norma culta e para que a mensagem seja construída com precisão.
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), instituição na qual também concluiu seu mestrado. Com mais de 20 anos de experiência e responsável pela resolução das Apostila de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias do infoEnem, a professora também é colunista de gramática do nosso Portal e umas das corretoras do curso de redação online (clique aqui para saber mais). Seus artigos são publicados semanalmente, sempre aos domingos. Não perca!
2 comments
Falando sério, essa palavra só existe por causa da Dilma. E justamente por causa dela podemos riscá-la do dicionário.
> Como ela disse, há indícios, desde o século XIX, do uso de ‘presidenta’, ou seja, está muito além da Dilma.