Desde o início deste mês de maio está circulando na rede social Facebook uma publicação escrita no modo público de uma pessoa da cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina, sobre uma suposta violação do sigilo em relação aos nomes dos candidatos de exames vestibulares nas correções das provas de redação.
Nós tivemos acesso à referida manifestação e, para manter a pessoa anônima, apagamos o seu nome da imagem que salvamos do Facebook, até porque o nosso objetivo aqui é abordar as ideias e não julgar quem as proferiu.
Vejam a publicação na íntegra:
Realmente circulam muitos mitos sobre a correção de quase todos os vestibulares e concursos e o sigilo absoluto e necessário ao processo pode até gerar especulações; além disso, por serem exames de entrada de alta relevância e que geram diversos impactos na sociedade, a circulação de boatos sobre os mesmos é, inclusive, um dos impactos gerados em professores, alunos e suas famílias, ou seja, em grande parte da população.
No entanto, o que esta pessoa afirmou no Facebook não é sensato e mostra que falta informação e conhecimento de aspectos inerentes ao processo de correção de uma vestibular, como neste caso, o sigilo.
As fases constituídas por questões objetivas, as chamadas de múltipla escolha, como as primeiras fases do vestibular da Universidade de São Paulo (USP) e as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) têm suas respostas e notas processadas por computadores, já que os candidatos preenchem um cartão de respostas. Já as provas das segundas fases que são abertas, ou seja, dissertativas, e as provas de redação, inclusive do ENEM, são corrigidas por professores especialistas nas determinadas áreas de maneira cega e sigilosa.
Isto é, tanto os professores e corretores de Matemática, Biologia, Química, Física, História, Geografia, Inglês, Português, Literatura quanto os professores e corretores de Português que avaliam os textos das provas de redação não tomam conhecimento das notas dadas pelos demais corretores – por este motivo se diz que a correção é cega -, para que não haja nenhuma influência na avaliação e eles também não têm acesso ao nome do candidato que respondeu àquela questão ou que escreveu aquele texto.
Além disso, os corretores são diariamente monitorados pela banca elaboradora e por membros mais experientes da banca avaliadora a fim de verificar se eles estão cumprindo a grade de correção corretamente e se estão afinados entre si, ou seja, se o grupo de corretores como um todo está em sintonia entre eles e com a grade de correção para que assim o trabalho seja realizado com o maior nível de qualidade, imparcialidade e justiça possível.
Deste modo, os candidatos são identificados por códigos ou números e essa identificação é feita apenas na divulgação das notas e também pelos computadores e, assim, os corretores também não sabem qual código corresponde a qual candidato. Além disso, caso um corretor tenha um parente de até segundo grau prestando o vestibular, ele deve comunicar ao seu superior para que esta prova de redação ou questão não chegue em suas mãos.
Por esta razão que a afirmação de que corretores investigam as redes sociais dos candidatos é mentirosa, pois há sigilo absoluto. Além disso, com a quantidade imensa de textos e de questões que devem ser corrigidas por dia, passando de trezentas redações e de oitocentas questão dissertativas, corretor nenhum teria tempo de fuçar Facebook de todos esses candidatos, até porque não interessa ao ENEM ou à universidade o que o candidato posta ou curte nas redes sociais e sim se ele cumpriu ou não aquela tarefa proposta, seja na prova de redação ou nas provas das demais disciplinas.
O trabalho do corretor é ler, analisar e avaliar redações e respostas de questões dissertativas de acordo com a grade de correção do vestibular para o qual está trabalhando e a da prova de redação do ENEM é pública e é facilmente encontrada; sobre a qual, inclusive, já escrevemos diversos textos, detalhando competência por competência.
Nesse sentido, de esclarecer afirmações falsas, resolvemos escrever este texto, para desmentirmos qualquer boato ou mito criado em torno de um processo sério e imparcial que lida com sonhos, desejos e o futuro de milhares de pessoas de todo o país. O vestibular pode não ser o meio mais justo de selecionar quem entra nas universidades, mas a correção o faz ser o mais justo possível. Ao invés de criar boatos, estudem e aprendam a não ter uma redação anulada.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas e do Curso Online do infoEnem. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
**Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!