Assistindo ao jogo entre Brasil e Costa Rica, na última sexta-feira, de repente ouvi do narrador um comentário sobre a defesa dos “costas riquenhos”…
“Opa!” gritou meu cérebro… “alguém deu uma escorregada na gramática!”
Longe de mim criticar duramente quem faz narrações ao vivo, pois sei o quanto é difícil e, pior de tudo, não há tempo para fazer correções, já que o jogo continua e a narração tem que acompanhar (e se o erro foi percebido pelo autor sempre há a possibilidade de os ouvintes nem terem prestado atenção – é o que deve esperar o narrador).
Mas, para quem não quiser arriscar “pisar na bola” (desculpem, mas o mote foi futebol, então as metáforas também serão futebolísticas hehe), é melhor relembrar como se faz a flexão dos adjetivos.
Segundo a Gramática Normativa, os adjetivos concordam com os substantivos a que se referem em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural), sofrendo, portanto, flexão. Teremos então:
- Partida animada – partidas animadas
- Resultado justo – resultados justos
Essa regra vale também para os adjetivos que designam cores:
- As camisas do uniforme reserva da equipe brasileira são azuis.
No caso de termos um adjetivo composto, apenas o segundo elemento vai para o plural:
- As lesões musculoesqueléticas podem comprometer a carreira dos jogadores.
As cores podem também aparecer na forma de adjetivo composto e continuamos seguindo a regra – varia apenas o último elemento:
- Camisa verde-clara – Camisas verde-claras
- O tênis azul-escuro – os tênis azul-escuros
Algumas vezes deixamos a expressão ‘cor de’ oculta e expressamos apenas o substantivo que empresta o nome à tonalidade. Quando ocorre essa supressão, a cor permanece invariável. É o que ocorre com ‘cor de laranja’:
- As camisas laranja (cor de laranja) da seleção holandesa estão fazendo falta nos gramados russos.
Há ainda outra possibilidade de construção de nomes de cores:
a) adjetivo+substantivo
b) substantivo+adjetivo
Nesses dois casos, por haver substantivo na composição dos termos, estes permanecerão invariáveis. Vejam os exemplos de:
a) Azul-piscina; amarelo-ouro; verde-limão
b) Rosa claro; cinza escuro; laranja brilhante
Voltando ao deslize do narrador: o adjetivo empregado por ele é denominado pátrio ou gentílico (falamos especificamente sobre esse tipo no artigo da semana passada – acessar o artigo) e costa-riquenho é a forma adjetiva que caracteriza o que é natural da Costa Rica.
Analisando a estrutura do termo, podemos observar que é formado por derivação sufixal, com uma adaptação ortográfica (‘c’ trocado por ‘qu’) para manter a fonética. Dessa maneira são criados grande parte dos adjetivos dessa natureza: ao radical do nome do lugar acrescenta-se um sufixo:
- Brasil + eiro = brasileiro
- Noruega + ês = norueguês
- Estados Unidos + ense = estadunidense
A questão é que se o nome do lugar for um substantivo composto, só o último elemento será alterado para a formação do adjetivo. Aí foi que o comentarista se equivocou. Falta clara contra a Gramática!!!
Até a próxima semana!
Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso sistema de correção de redação e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora é colunista de gramática do nosso portal . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!