Carolina Maria de Jesus e o Enem

Uma das autoras mais notórias do Brasil, mas ainda sem muito reconhecimento foi Carolina Maria de Jesus. Carolina foi uma das primeiras autoras negras em nosso país, e nasceu em 14 de março de 1914, em Sacramento, no estado de Minas Gerais. Frequentou parte do ensino básico, tendo desenvolvido habilidades de leitura e escrita.

 Em 1937, depois do falecimento de sua mãe, Carolina se mudou para a cidade de São Paulo em busca de oportunidades de trabalho, visto que naquele momento a cidade estava em constante crescimento. Em 1947, desempregada e grávida, foi viver na favela do Canindé — naquele período São Paulo começava a ter suas primeiras favelas — que tinha de cinquenta mil habitantes naquele momento.

Trabalhava como catadora de papel, e dali tirava o sustento de sua família. Mãe solteira, Carolina criava três filhos. Em 1955, a escritora começou a desenvolver seus trabalhos nos cadernos que encontrava durante o trabalho.

Carolina escrevia sobre a realidade da favela em uma espécie de diário. A autora narrou em “Quarto de Despejo: o diário de uma favelada” seu cotidiano como catadora, os dilemas da fome, o racismo, a falta da presença do Estado na favela e afins.

Carolina foi notada por um repórter que visitava o Canindé, e com a ajuda dele seu livro foi publicado em 1960; Quarto de Despejo esgotou na primeira semana, vendendo 10 mil exemplares. Logo depois do lançamento, o livro vendeu cem mil exemplares, foi traduzido para 13 idiomas e publicado em mais de 40 países.

Apesar da relevância de sua obra, Carolina nunca teve tanto reconhecimento no Brasil como outros autores homens e brancos, ou mesmo autoras mulheres e brancas, como Clarice Lispector. Até hoje, o papel de Carolina continua sendo vital para entender a literatura de favela, difundida também por meios como os Slams, as batalhas de rima e o rap nacional.

Agora que já sabemos mais sobre a trajetória de Carolina, vamos responder uma questão sobre ela! 

AFA 2016

 TEXTO I

Quarto de Despejo

“O grito da favela que tocou a consciência do mundo inteiro”

2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há tempos

que eu pretendia fazer o meu diario. Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo. …Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais atenção. Quero enviar sorriso amavel as crianças e aos operários. …Recebi intimação para comparecer as 8 horas da noite na Delegacia do 12. Passei o dia catando papel. A noite os meus pés doiam tanto que eu não podia andar.  Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia levar o José

Carlos. A intimação era para ele. O José Carlos tem 9 anos.

3 de MAIO. …Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por não ter o que comer.

6 de MAIO. De manhã não fui buscar agua. Mandei o João carregar. Eu estava contente. Recebi outra  intimação. Eu estava inspirada e os versos eram bonitos e eu esqueci de ir na Delegacia. Era 11 horas quando eu recordei do convite do ilustre tenente da 12ª Delegacia. …o que eu aviso aos pretendentes a política, é que o  povo não tolera a fome. É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la. Estão construindo um circo aqui na Rua Araguaia, Circo Theatro Nilo.

9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto. Então eu  penso: Faz de conta que estou sonhando.

10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão  amavel, eu teria ido na Delegacia na primeira intimação.(…) O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disso, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma  pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.(…) O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo e nas crianças.

11 de MAIO. Dia das mães. O céu está azul e branco. Parece que até a natureza quer homenagear as mães que atualmente se sentem infeliz por não realizar os desejos de seus filhos. (…) O sol vai galgando. Hoje não vai chover. Hoje é o nosso dia. (…) A D. Teresinha veio visitar-me. Ela deu-me 15 cruzeiros. Disse-me que era  para a Vera ir no circo. Mas eu vou deixar o dinheiro para comprar pão amanhã, porque eu só tenho 4 cruzeiros.(…) Ontem eu ganhei metade da cabeça de um porco no frigorifico. Comemos a carne e guardei os ossos para ferver. E com o caldo fiz as batatas. Os meus filhos estão sempre com fome. Quando eles passam muita fome eles não são exigentes no paladar. (…) Surgiu a noite. As estrelas estão ocultas. O barraco está cheio de pernilongos. Eu vou acender uma folha de jornal e passar pelas paredes. É assim que os favelados  matam mosquitos.

13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos. Nas prisões [70]  os negros eram os bodes expiatorios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo. Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz. (…) Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos [75]  para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva para mim ir lá no Senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. (…) Eu tenho dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles [80]  brada: Viva a mamãe!. A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim:

[85]  “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouquinho de gordura, para eu fazer sopa para os meninos. Hoje choveu e não pude catar papel. Agradeço. Carolina”. (…) Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no Inverno a gente come mais. A Vera começou a pedir [90]  comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. [95]  E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!

(DE JESUS, Carolina Maria. Quarto de Despejo.)

Por meio do discurso de Carolina Maria de Jesus, percebemos marcas de preconceitos existentes na época em que ela escreveu seu texto. Assinale a opção que ilustra explicitamente essa marca.

 a)“Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante verdura.”

 b)“Eu vou acender uma folha de jornal e passar pelas paredes. É assim que os favelados matam os mosquitos.”

 c)“Eu tenho dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada: Viva a mamãe!”

 d)“Nas prisões os negros eram os bodes expiatorios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos tratam com desprezo.”

ALTERNATIVA CORRETA: D

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Por quê, Porquê, Porque e Por que: aprenda a diferença entre cada um para não errar no Enem!

A língua portuguesa é de fato muito rica e por isso traz um grande número de possibilidades para algumas palavras e isso, às vezes, pode causar dúvidas aos falantes de seu idioma. Uma dessas dúvidas mais comuns está ligada ao uso dos “porquês”. Na fala não há motivo nenhum para preocupação, mas na hora da escrita em norma padrão quase sempre é feita uma consulta para saber a diferença entre um e outro e não fazer feio no texto.
https://infoenem.com.br/por-que-porque-porque-e-por-que-aprenda-a-diferenca-entre-cada-um-para-nao-errar-no-enem/

O que é SiSU?

É o sistema informatizado do MEC por meio do qual instituições públicas de ensino superior (federais e estaduais) oferecem vagas a candidatos participantes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
https://infoenem.com.br/como-funciona-o-sisu/

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