Pode um bichinho tão bonitinho causar desequilíbrio ambiental?

Descrevendo a espécie

Trata-se da espécie Oryctolagus cuniculus, também conhecida como Coelho-europeu, coelho-bravo ou mesmo coelho do mediterrâneo. Essa espécie foi identificada em 1758 pelo sueco Carl von Linné, considerado pai da Taxonomia moderna.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Coelho-europeu

Como o próprio nome popular sugere, essa espécie é nativa do continente europeu. Herbívora e de hábitos geralmente noturnos, esse coelho chega a apresentar 40 cm de comprimento médio e um peso de aproximadamente 1,1 Kg.

Respondendo a questão…

A resposta é SIM!

Para justificarmos nossa resposta precisaremos voltar no tempo para o ano de 1859, quando o australiano Thomas Austin, latifundiário de Winchelsea, estado de Victoria, adquiriu 24 coelhos-europeus. Motivo: prática da caça em suas fazendas, o grande hobby de Thomas.

Assim, este fazendeiro acabou por introduzir uma espécie exótica na Austrália, algo extremamente perigoso em termos ecológicos.

Segundo a CDB (Convenção sobre Diversidade Biológica), entende-se por espécie exótica “Toda espécie que se encontra fora de sua área de distribuição natural”. O grande risco dessa prática é que essa espécie se torne, além de exótica, invasora.

Ainda segundo a CDB, espécies exóticas e invasoras são aquelas que ameaçam ecossistemas, habitats ou espécies. Estas espécies, por apresentarem vantagens competitivas e favorecidas pela ausência de inimigos naturais – predadores e parasitas – têm capacidade de se proliferar e invadir ecossistemas, antropizados ou naturais, prejudicando processos naturais e as espécies nativas (espécies originárias da região).

Assim, espécies exóticas invasoras  podem causar a extinção de espécies nativas por três “caminhos”:

1º) Através da competição por recursos como espaço e alimento;

2º) Por meio da predação e parasitismo;

3º) Alteração do habitat a ponto de inviabilizar a presença das espécies nativas.  

Resumindo…

Espécies introduzidas a um ecossistema do qual não fazem parte originalmente são chamados de exóticas, e, quando se adaptam, propagam e exercem dominância, prejudicando processos naturais e espécies nativas, são chamadas espécies exóticas invasoras.

O mundo globalizado tem favorecido a introdução de espécies e, consequentemente, a sua homogeneização ao longo dos continentes, sendo a introdução de espécies uma das maiores causas de perda de biodiversidade no planeta.

O problema não é apenas a introdução da espécie exótica em si, mas os danos que esta pode causar quando a espécie consegue ultrapassar as barreiras físicas, biológicas e ambientais que restringiam sua dispersão, tornando-se uma espécie invasora.

Cuidado: nem toda espécie exótica é invasora!!

Voltando à história do coelho europeu…

Essa espécie encontrou um ambiente extremamente favorável à sua adaptação na Austrália: muito alimento e praticamente nenhum predador, parasita ou competidor que regulasse o tamanho de sua população.

Resultado: em 1877 essa população atingiu um número tão alto, que nem mesmo a caçada que abateu 20 milhões de coelhos conseguiu diminuir sua população, que a essa altura já devastava a pastagem que alimentava as ovelhas – grande riqueza da região – causando prejuízos econômicos incalculáveis ao país.

Em 1930, a estimativa era de que já haviam dez bilhões de coelhos europeus em terras australianas, que se espalharam cerca de 130 Km do local onde foram soltos, causando prejuízos de milhões de dólares.

Obviamente, o governo australiano não assistiu a esta invasão passivamente: Entre os anos de 1901 e 1907, o governo levantou 1.800 Km de cercas para tentar conter a dispersão deste animal. Para tentar resolver a questão, o governo  australiano resolveu importar raposas europeias, caçadoras naturais de coelhos que, além de atuar como controle biológico (técnica em que se utiliza de uma população para controlar, através do predatismo ou parasitismo, a população que se pretende diminuir, como pragas na agricultura), assim como os coelhos seria alvo de caçadas recreativas. Entretanto deu tudo errado: coelhos desenvolveram, a partir da coevolução, estratégias de defesa contra a raposa, enquanto que os animais nativos – como os cangurus –  não apresentam estratégias de fuga ou de evitamento contra a raposa, sofrendo intensa predação.

Em 1950, foi introduzido um vírus sul americano – Myxoma virus – na região. Transmitido por mosquitos hematófagos, este vírus causou a morte de 90% destes coelhos. Porém, a seleção natural favoreceu o rápido crescimento de uma população de coelhos resistentes ao vírus. Além disso, como este vírus mata rapidamente os coelhos infectados, muitos desses animais morriam antes de “transmitirem” a doença para outros coelhos. Com o passar do tempo, e também graças à seleção natural, foram favorecidas linhagens menos agressivas do vírus que, por debilitarem menos o hospedeiro, tinham mais facilidade de se espalharem entre os coelhos. Resultado: ao mesmo tempo em que a população de coelhos resistentes aumentava, a seleção natural também favorecia vírus menos letais, de maneira que o problema não foi resolvido, persiste até hoje.

Em 1995, uma segunda tentativa de controle biológico foi realizada, desta vez com o Calicivirus. Descoberto na China em 1984, este vírus é transmitido pela simples proximidade, pelo contato com o doente e pelos materiais por ele contaminados, ou até mesmo por meio de vetores nos quais dura, aliás, pouco tempo. É altamente mutável e, por isso, sua utilização é altamente arriscada. Por isso, cientistas resolveram realizar testes na ilha de Wardang, próxima do litoral sul australiano, onde construíram instalações para quarentena dos animais infectados. Porém o vírus “escapou” das instalações, matando muitos coelhos que viviam nos arredores da instalação..

Causador de febre hemorrágica, este vírus causava a morte do coelho 40h após a infecção e, assim, dizimou 90% da população hospedeira. Pelos mesmos motivos apresentados no caso do Myxoma vírus, essa estratégia não foi capaz de resolver a questão.

Atualmente, a  população destes coelhos na Austrália é estimada em torno de 250.000.000 de indivíduos, causando um prejuízo anual na faixa de US$ 90 milhões à produção agrícola – estes coelhos favorecem processos de erosão, deixando o solo desprotegido ao escavá-lo  para comer raízes. Além disso, eles depredam lavouras e atraem seus predadores (ex: raposas e gatos selvagens), que acabam atacando também animais úteis, nativos ou domésticos, além de expulsar de seus nichos as plantas e animais nativos.

Outros casos de espécies exóticas e invasoras:

  • Aguapé (Eichhornia crassipes): planta originária da América do sul, foi introduzida em várias partes do mundo como planta ornamental, causando frequentemente problemas com a sua proliferação excessiva. Nos Estados Unidos– causou transtornos à navegação no rio Mississipi. Trouxe problema também  nas Filipinas, Austrália, Ceilão e vários outros países.
  • Figo-da-Índia (Opuntia inermis): planta cactácea originária da América do sul, foi introduzida uma único exemplar em 1839 na Austrália. Essa planta se adaptou tão bem que, no final do século XIX, essa planta já cobria 4 milhões de hectares e em 1920 ocupava quase 25 milhões de hectares, apresentando uma taxa de expansão de 4 milhões de hectares/ano. Várias tentativas foram feitas no sentido de controlar essa proliferação excessiva – que nessa altura já ocupava a área utilizável para pecuária – mas a solução só apareceu em 1925, com a introdução da mariposa Cactoblastis cactorum, cujas larvas se alimentam daquela planta. Resultado: a população do figo-da-Índia foi eliminada tão rapidamente quanto havia proliferado.
  • Peixe-leão (Ex: Pterois volitans): Proveniente do ponto de confluência dos oceanos pacífico e índico, esse peixe é considerado atualmente como a maior espécie invasora marinha do mundo. Avistado pela primeira vez no oceano Atlântico na década de 1980, essa espécie já atingiu toda a costa leste dos Estados Unidos, golfo do México, Caribe e até mesmo a América do Sul, causando estragos no litoral brasileiro. Ao que tudo indica, essa “contaminação biológica” do oceano Atlântico se deu a partir da comercialização desse peixe para criadores de peixes em aquários. Pesquisadores não sabem ainda a melhor forma de se combater essa espécie, sendo que a atualmente o que tem sido feito nos Estados Unidos é a proibição da importação deste peixe e o incentivo à pesca deste peixe, inclusive com a organização de campeonatos de pesca do peixe-leão. No Brasil, a espécie já foi encontrada no Rio de Janeiro e em Fernando de Noronha, preocupando a todos pelo risco que este peixe representa à biodiversidade (variedade de espécies).
  • Mexilhão dourado (Limnoperna fortunei)  e a água de lastro: água de lastro é utilizada em navios tanque ou graneleiros (que transportam mercadorias a granel) para compensar a perda de peso decorrente do desembarque de cargas, sendo fundamental por dar  estabilidade e segurança à embarcação. Sua captação e descarte geralmente ocorrem em áreas portuárias.

Durante o lastreamento do navio pode ocorrer a captura de pequenos organismos –  bactérias e outros microrganismos, vírus, pequenos invertebrados, algas, plantas, cistos, esporos, além de ovos e larvas de vários animais –  que, assim, acabam por serem transportados e introduzidos em outra região.

Muito provavelmente foi dessa forma que o molusco mexilhão-dourado, originário do sul da Ásia, chegou à América do sul.  O primeiro registro desta espécie no continente americano foi feito em 1991, no rio da Prata nas imediações de Buenos Aires (Argentina). No Brasil o primeiro registro se deu em 1999, na praia de Itapuã e em porto das Pombas, ambas situadas no município de Viamão (RS). Atualmente esta espécie já pode ser observada em quase toda a região sul e em várias localidades do Sudeste e Centro-Oeste. Responsáveis por grandes prejuízos  principalmente em usinas hidrelétricas, onde se desenvolvem nas turbinas, o que exige uma interrupção das atividades para limpeza das turbinas repletas de molusco.

Outros prejuízos causados pelo mexilhão dourado são: destruição da vegetação aquática, ocupação do espaço e disputa por alimento com os moluscos nativos, prejuízos à pesca –  já que a diminuição dos moluscos nativos diminui o alimento dos peixes, entupimento de canos e dutos de água, esgoto e irrigação e entupimento de sistemas de tomada de água para geração de energia elétrica.

Desde 2001 – logo após seu aparecimento no reservatório da usina Itaipu – são desenvolvidas estratégias para o controle do mexilhão-dourado. Dentre as medidas adotadas para a limpeza do encanamento podemos citar a remoção mecânica, o aumento da vazão em encanamentos, injeções de hipoclorito em baixas concentrações, tintas anti-incrustantes e aplicação de ozônio em baixas concentrações (usado na tubulação dos trocadores de calor – por onde passa a água que resfria o óleo que lubrifica as turbinas – das unidades geradores, pois impede que uma secreção do molusco se solidifique e, assim, o fixe na tubulação.

Vale destacar que as espécies exóticas invasoras são consideradas a segunda maior causa de extinção de espécies no planeta – perdendo apenas para a fragmentação e  perda de habitats – este tipo de “poluição biológica” já contribuiu, desde 1600, com 39% de todos os animais extintos cujas causas são conhecidas (CDB).

EXERCÍCIO

(ENEM 2013) – Apesar de belos e impressionantes, corais exóticos encontrados na Ilha Grande podem ser uma ameaça ao equilíbrio dos ecossistemas do litoral do Rio de Janeiro. Originários do Oceano Pacífico, esses organismos foram trazidos por plataformas de petróleo e outras embarcações, provavelmente na década de 1980, e disputam com as espécies nativas elementos primordiais para a sobrevivência, como espaço e alimento. Organismos invasores são a segunda maior causa de perda de biodiversidade, superados somente pela destruição direta de hábitats pela ação do homem. As populações de espécies invasoras crescem indefinidamente e ocupam o espaço de organismos nativos.

LEVY, I. Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br. Acesso em: 5 dez. 2011 (adaptado).

As populações de espécies invasoras crescem bastante por terem a vantagem de

A) não apresentarem genes deletérios no seu pool gênico.

B) não possuírem parasitas e predadores naturais presentes no ambiente exótico.

C) apresentarem características genéticas para se adaptarem a qualquer clima ou condição ambiental.

D) apresentarem capacidade de consumir toda a variedade de alimentos disponibilizados no ambiente exótico.

E) apresentarem características fisiológicas que lhes conferem maior tamanho corporal que o das espécies nativas.

A alternativa A está errada porque a questão de espécies exóticas invasoras não tem origem genética, sendo uma questão meramente ecológica.

A alternativa B está CORRETA. Espécies exóticas se tornam invasoras ao encontrarem um ambiente onde a resistência ambiental é baixa, de maneira que sua população cresce de maneira descontrolada. Um dos aspectos da resistência do meio que está baixo e assim favorece a proliferação dos indivíduos exóticos é a ausência de relações ecológicas desarmônicas – como o predatismo e o parasitismo.

A alternativa C está errada. Embora as espécies exóticas invasoras geralmente tenham um nicho ecológico amplo, não podemos afirmar que essas espécies se adaptam a QUALQUER clima ou condição ambiental.

A alternativa D também radicaliza o fato dos nichos ecológicos dessas espécies serem amplos quando diz que s mesmo consomem TODA  a variedade de alimentos.

A alternativa E está errada por generalizar a ideia de que as espécies exóticas invasoras serão Maiores do que as espécies nativas, quando na verdade nem sempre isso é verdadeiro.

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A língua portuguesa é de fato muito rica e por isso traz um grande número de possibilidades para algumas palavras e isso, às vezes, pode causar dúvidas aos falantes de seu idioma. Uma dessas dúvidas mais comuns está ligada ao uso dos “porquês”. Na fala não há motivo nenhum para preocupação, mas na hora da escrita em norma padrão quase sempre é feita uma consulta para saber a diferença entre um e outro e não fazer feio no texto.
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